PCC cria nova geografia e divide país em quatro territórios dominados
Facção tem líderes em 26 Estados, segundo investigação da Polícia Civil. Apesar da expansão, Rio continua sendo um território não dominado pelo PCC
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Um relatório da Polícia Civil de São Paulo, obtido pelo R7, afirma que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) possui lideranças atuantes em todos os Estados do País.
“Em regra, cada Estado pode ter até quatro pessoas ocupando esta função, sendo que pelo menos uma deve estar presa", diz o documento. "Todos os Estados do país possuem, portanto, pelo menos um geral do estado.”
O relatório traz um diálogo entre um suposto integrante da facção identificado como “Geral do Estado”, sob o apelido de Revolução: “É o seguinte, são 26 estados né, mano.”
A divisão geográfica estabelecida pelo PCC não corresponde à divisão territorial instituída no país. Segundo as investigações da Polícia Civil, a facção divide o Brasil em quatro territórios dominados: Resumo dos Estados do Norte, comandado pelo líder “Confusão”, preso em Santo André (SP); Resumo dos Estados Centrais, comandado por "Thiaguinho ou Robinho"; Resumo dos Estados do Nordeste, liderado pelo membro “vulgo Gilmar”; e Resumo dos Estados do Sul e MS, sob o comando de “Kaike”, preso em Presidente Venceslau.
O membro que exerce essa função pode estar preso ou solto. A condição de liberdade ou reclusão, segundo o documento, não determina seu desempenho no posto. Mas, pelo menos, um integrante da célula deve estar "recolhido", ou seja, dentro do sistema prisional.
As lideranças dos Estados, segundo a polícia, tinham como padrão entrar em contato com os líderes em São Paulo diariamente, na parte da manhã e da noite, para fazer uma espécie de prestação de contas, descrever crimes e relatar todas as atividades nos estados.
Com a decretação do regime disciplinar diferenciado dos líderes na Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo e o isolamento no Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes, novos líderes foram eleitos para desempenhar funções estratégicas.
Entre os líderes em Presidente Venceslau, seis detentos ocupam a posição de "Sintonia de Outros Estados e Países", ordenando assassinatos, movimentação de dinheiro e armas, distribuídas para integrantes vinculados direta ou indiretamente (por meio de grupos aliados) à organização em todo o País.
Por meio de identificação da caligrafia de cartas, a Polícia Civil concluiu que essas pessoas são responsáveis por ordenar homicídios, rebeliões, incêndios em fóruns, orquestrar a distribuição de armamento e fomentar a prática de “terror social”.
“O agir individual dessas pessoas possibilitou a movimentação funcional da organização criminosa PCC que avançou tentáculos para além das fronteiras do território paulista, alcançando cobertura em todos os Estados do território brasileiro e em países vizinhos”, afirma o documento.
Sintonia Geral de Outros Estados
Fora dos presídios, estão os chamados “ponteiros”: membros em liberdade e subordinados diretamente à "Sintonia Final" da organização. O relatório da Polícia Civil mostra que o cargo de “Resumo Disciplinar dos Estados” é ocupado por pessoas que têm responsabilidade em atividades de gerenciamento, controle, auditoria e julgamentos de fatos em diferentes regiões do país.
Um "RDE" cuida de 5 a 7 estados e tem poder sobre os integrantes locais, podendo acionar um RDE de outra região para a tomada de uma decisão coletiva. “Inclui-se nessas decisões a distribuição ou retirada de armamentos, autorização para atentados contra agentes públicos, contra integrantes do grupo em falta disciplinar e contra integrantes da organização criminosa Comando Vermelho.”
O relatório afirma que “percebe-se que a estrutura doméstica de Paulista do PCC não suportaria o número de demandas, então ocorrem as nomeações das pessoas que ficariam responsáveis por um Estado, em seguida por vários Estados, até a formação definitiva do núcleo Sintonia Geral de Outros Estados”.
Em um diálogo descrito no relatório, o membro denominado “Revolução” informa que em “Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul é tudo nosso, onde eles só caçam (membros do CV). Mas que Alagoas, Ceará, Paraíba, Tocantins, Rio Grande do Norte o ‘bambu tá estralando’. Pisou na rua tem que estar ligeiro, pois se mata ou se morre”.
Embora o PCC não tenha atuação hegemônica no Mato Grosso e Rio de Janeiro, a Polícia Civil investiga ações em andamento nesses Estados. Apesar de existirem membros atuando em nome da organização criminosa, esses Estados ainda são controlados massivamente pela facção rival Comando Vermelho.