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PM condenado por forjar tiroteio ofereceu cesta básica a testemunha

Defesa diz que ele agiu em legítima defesa e quis ajudar moradora humilde

São Paulo|Giorgia Cavicchioli, do R7*

O PM Jefferson Silva de Oliveira foi condenado
O PM Jefferson Silva de Oliveira foi condenado

Condenado nesta terça-feira (24) pela morte de Patrick Viana, de 18 anos, em um confronto considerado forjado pela Justiça, o soldado da Polícia Militar Jefferson Silva de Oliveira ofereceu cesta básica a uma testemunha para que ela confirmasse que a vítima atirou contra ele.

A morte de Viana aconteceu às 12h de 1º fevereiro no quintal de uma casa no Jaraguá, zona oeste de São Paulo. O rapaz estava em um Cerato roubado e era perseguido por uma viatura ocupada pelo soldado Oliveira e outros dois militares.

Na ocasião, o adolescente Lucas Roberto Delfino, de 17 anos, que acompanhava Viana no carro, também foi baleado e morreu no hospital. Uma terceira pessoa, que estava com os dois, fugiu.

O caso foi apresentado pelos PMs ao DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) como morte em decorrência de oposição à intervenção policial.


Inicialmente, a moradora da casa onde Viana foi morto afirmou à Polícia Civil que, de dentro de sua residência, viu o rapaz atirando contra Oliveira.

Quinze dias depois, no entanto, ela prestou novo depoimento afirmando que não havia visto nada, mas que um policial "alto e careca", depois identificado como Oliveira, havia pedido para que ela relatasse ter presenciado Viana atirando. "Me ajuda que eu te ajudo", teria dito o policial, segundo o depoimento da testemunha, antes de oferecer a cesta básica.


A testemunha disse ter-se sentido ameaçada.

Imagem da ocorrência que resultou na morte
Imagem da ocorrência que resultou na morte

Um dia antes de seu novo depoimento, ainda segundo as palavras da testemunha, um outro policial teria passado em sua casa e afirmado: "Você fala o que o meu parceiro mandou falar, que você viu o bandido atirando para cima do policial".


Durante a apuração do caso, a Polícia Civil localizou imagens de câmeras de segurança que mostram o policial tirando um objeto de dentro de viatura após Viana ser baleado.

Os investigadores consideraram que o objeto pode ser o revólver apresentado como o usado pelo rapaz. Nas imagens, não é possível ver arma na mão de Viana.

Laudo residuográfico também não detectou partículas de chumbo metálicos nas mãos do jovem.

Na terça-feira (24), os jurados reconheceram que Oliveira cometeu homicídio, mas afastaram a tese de que ele teria dificultado a defesa da vítima.

A juíza Flávia Castelar Olivério estabeleceu a pena de seis anos de prisão para o policial, cumprida inicialmente em regime semiaberto, e determinou a perda do cargo do PM.

"O acusado não poderá recorrer desta decisão em liberdade. Isso porque permanecem íntegros os fundamentos que determinaram sua prisão cautelar. A providência se faz necessária para a garantia da ordem pública. Há também sério risco para a aplicação de lei penal, diante da pena aplicada. Recorde-se que houve a tentativa de intimidação da testemunha presencial", escreveu a magistrada na sentença.

Os outros policiais envolvidos na ocorrência não foram denunciados.

Casa humilde

O advogado Nilton de Souza Vivian Nunes, que defende o soldado Oliveira, afirma que ele agiu em legítima defesa. Em relação à cesta básica, Nunes diz que, depois da ocorrência, o policial a teria oferecido porque notou que a testemunha vivia em uma casa humilde e resolveu perguntar se ela não estava precisando de alguma coisa.

O advogado do policial diz que não é possível identificar se o que ele tira da viatura é uma arma. Nunes também afirma que um simulacro foi encontrado dentro do carro em que estavam os suspeitos e que a vítima do roubo do carro (ocorrido um dia antes da morte de Viana) reconheceu a arma.

A defesa de Oliveira entrou com um recurso no mesmo dia em que o policial foi condenado.

A reportagem questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) sobre se foi aberto procedimento administrativo contra o soldado, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

*Colaborou Kaique Dalapola, estagiário do R7

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