PMs são suspeitos de envolvimento na morte de adolescente em SP
Tarjeta de identificação de um policial foi encontrada no local do crime. Agentes foram ouvidos pela Corregedoria da PM. DHPP apura o caso
São Paulo|Do R7, com informações de Edilson Muniz, da Agência Record
Dois policiais militares prestaram depoimento na Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo nesta terça-feira (16). A Polícia investiga se eles estão envolvidos na morte de Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, que foi encontrado morto após ter desaparecido na madrugada do último domingo (14) na zona sul de São Paulo. Familiares da vítima também compareceram na Corregedoria.
Leia mais: 'Ele queria ser piloto de avião', diz prima de jovem torturado e morto
A partir da tarjeta de um uniforme policial com o nome "soldado Paulo" encontrada no local, a Polícia Civil e a Corregedoria da Polícia Militar passaram a investigar o envolvimento de um policial, lotado em um dos batalhões da Polícia Militar em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
No dia do crime, dois seguranças de um galpão da Sabesp teriam raptado o jovem, que foi encontrado morto com marcas de tiros, segundo familiares.
O sogro de um dos policiais afirmou que estava com o agente na hora do crime. Outra testemunha disse ter visto duas viaturas da PM em frente a um galpão da região momentos antes do desaparecimento do jovem.
Veja também: Bandidos em moto fazem série de assaltos no Morumbi
Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que o caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e pela Corregedoria da PM.
Ainda segundo a SSP, "todas as circunstâncias relativas à morte de um adolescente, de 15 anos, ocorrida no último final de semana da zona sul são investigadas. Diligências e oitivas estão em andamento, bem como a análise de imagens de câmeras de segurança. Se confirmada a participação policial, as medidas cabíveis serão adotadas".
Últimos passos
Novas imagens, obtidas pela Record TV, revelaram a movimentação na rua antes da execução do adolescente na madrugada do dia 14 em Americanópolis, na zona sul.
Depois de participar de uma reunião familiar, Guilherme acompanhou a avó até a casa dela. Segundo Vera Rodrigues, o neto pegou uns lanches e avisou que ia fechar o portão. Assim que ele abriu, já foi pego.
Sete minutos antes do jovem ser abordado por dois homens, um rapaz, que veste uma blusa com capuz, deixa uma sacola no chão, próxima ao adolescente. Segundo a avó, este rapaz teria falado à vítima que policiais estavam chegando no local. O adolescente responde que não havia problema, porque ele "não devia".
Leia ainda: Câmeras podem identificar suspeitos de matar 4 em chacina
Logo depois, os dois homens aparecem. Um deles aparenta ter uma arma na mão, e olha ao redor, como se estivesse preocupado com testemunhas. O jovem não foi mais visto após a chegada dos homens. Mas nesta segunda (15), a família reconheceu o corpo da vítima pelas tatuagens.
De acordo com a família do jovem, Guilherme desapareceu após a ação de um policial que trabalha como vigilante em um galpão da região. Após um assalto no estabelecimento, ele teria ido atrás dos responsáveis e assim se confundido com o adolescente, que não tem passagens na polícia.
O corpo de Guilherme foi encontrado com tiros nas mãos e na cabeça. A vítima também apresentava vários sinais de agressão, segundo familiares.
Segundo o secretário executivo da PM, coronel Álvaro Camilo, não há confirmação da participação de qualquer policial no crime. "O que nós sabemos é que, em determinado momento, foi encontrada, perto do corpo, uma tarjeta de um policial. Isso está sendo investigado", afirmou.
O corpo foi sepultado nesta terça. Bastante abalada, a mãe de Guilherme, Joice Silva, afirmou: "Tem milhões de mães chorando junto comigo".
Protestos
A morte do adolescente provocou revolta na comunidade e, por duas vezes, houve protestos com bloqueio de avenidas. Nesta terça-feira (16), nove pessoas foram encaminhadas à delegacia após realizar saques, assaltos e depredações ao patrimônio público na avenida Engenheiro George Corbisier, no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Com eles, havia cigarros e doces, produtos que haviam sido levados de um estabelecimento. Seis ônibus foram depredados.
De acordo com a Polícia Militar, o grupo é dissidente das manifestações realizadas mais cedo na avenida Cupecê, em Americanópolis, também na zona sul, em decorrência da morte de Guilherme.
A PM informou que recebeu diversos acionamentos para a região. Um grupo chegou a roubar gasolina de um posto de combustível, na intenção de atear fogo em um ônibus, mas não conseguiu incendiar o veículo, que ficou levemente chamuscado. Outros coletivos foram depredados.
Outras imagens flagraram homens depredando semáforos. A Polícia Militar enviou diversas equipes para tentar conter a multidão com o apoio do helicóptero Águia.
Uma loja de conveniência de um posto chegou a ser saqueada. Segundo os funcionários, cerca de 20 pessoas foram ao local e levaram produtos.
Entre os detidos, havia três adolescentes. Todos foram encaminhados ao 16° DP da Vila Clementino, mas foram liberados após os donos do estabelecimento não registrarem boletim de ocorrência. Eles também não foram reconhecidos pelos motoristas dos ônibus atacados.