Polícia indicia 9 PMs por homicídio culposo em baile de Paraisópolis
Nove jovens morreram pisoteados em dezembro de 2019 durante dispersão de festa na comunidade. Inquérito já está no Judiciário
São Paulo|Rafael Custódio e Letícia Dauer, da Agência Record
Nove policiais militares foram indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, em uma ação que terminou com nove jovens mortos durante a dispersão de um baile funk na comunidade do Paraisópolis, zona sul de São Paulo, em dezembro de 2019.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) concluiu o inquérito após a análise das provas. O inquérito foi enviado em despacho ao Ministério Público e ao Judiciário no último dia 23.
As vítimas morreram pisoteadas durante a ação de policiais militares no baile funk por volta das 4h de domingo (1º) de dezembro no cruzamento entre as ruas Ernest Renan e Rudolf Lutze, na comunidade. Além dos nove mortos, doze pessoas ficaram feridas.
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De acordo com a Polícia Militar, equipes da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) estavam perseguindo dois homens em uma moto preta. A dupla, ainda segundo a PM, estava armada e atirou contra os agentes.
Durante a perseguição, os homens teriam entrado no baile funk, que acontecia na comunidade. A estimativa é que no evento, conhecido como Baile D17, havia cerca de cinco mil pessoas.
Outras equipes da Polícia Militar foram acionadas e, ao chegarem no endereço, segundo a versão da PM, elas foram recebidas com hostilidade. Os participantes do baile teriam arremessado pedras e garrafas.
As equipes de Força Tática utilizaram munições químicas para dispersar a multidão. Durante a ação, pessoas que participavam do baile ficaram feridas após serem pisoteadas. O resgate foi acionado, porém, apenas uma unidade de resgate conseguiu acessar o local.
Os feridos foram levados para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Campo Limpo, para o Hospital do Campo Limpo e para a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Paraisópolis. Do total de 21 feridos, nove pessoas morreram.
A Associação de Moradores de Paraisópolis afirmou na ocasião que os participantes do evento foram encurralados em becos e vielas. Os moradores disseram também que, com frequência, ocorrem ações de dispersão na comunidade causando correria e violência.
A Polícia Militar negou, durante coletiva de imprensa, que policiais tenham encurralado os participantes. Em vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver pessoas sendo agredidas por policiais militares e muita correria. A PM disse que as imagens foram incluídas no inquérito.
A polícia informou ainda que utilizou quatro granadas, duas de efeito moral e duas de gás lacrimogênio durante a ação. Também divulgou que foram disparadas de oito a nove balas de borracha, mas nenhum disparo de arma de fogo.
A Polícia Militar apreendeu uma munição calibre 380 e outra 9 milímetros. A PM acredita que sejam dos criminosos que atiraram contra a equipe policial. As armas dos agentes foram recolhidas.