Preso por execução de diretora e professora em SP alega inocência
Walyson David Oliveira da Silva tem 20 anos, é barbeiro e, segundo família, estava dormindo na casa da namorada na hora do crime
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
Walyson David Oliveira da Silva, de 20 anos, está preso temporariamente desde o dia 15 por suspeita de envolvimento na morte da diretora e da professora em 24 de maio, na zona leste de São Paulo. Elas estavam em uma Tucson que foi abordada por criminosos e executadas por engano. No entanto, a família do suspeito garante que ele estava dormindo na casa da namorada na hora do crime.
"Meu irmão trabalha desde os 12 anos, não tem passagem pela polícia, fez cursos de cabeleireiro e é proprietário de um salão na frente de casa. Ele tá desesperado. Toda vez que a gente vai visitar, ele acha que vai sair e chora muito. Está preso sem dever nada", afirma o irmão Thalisson Oliveira da Silva, que tem 31 anos e é técnico de sistemas.
Segundo a família, na noite anterior ao crime, Walyson assistiu ao jogo do São Paulo com o irmão e a namorada de 17 anos. Depois foi para a casa dela, onde dormiu e só saiu de lá por volta de 14h45 depois de almoçar.
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"Passamos o domingo na casa dele, como de costume. À noite mandei mensagem para minha mãe perguntando se o Waly podia dormir em casa que domingo e segunda é a folga dele. Minha casa da dele dá uns 5 minutos no máximo a pé e ele não leva celular porque já foi assaltado. Ele passou a noite e, às 7h, minha mãe foi pro quarto ver se tava tudo bem e viu que ele estava lá dormindo", lembra a namorada que é adolescente e prefere não ser identificada.
Ela o descreve como sossegado, quieto, respeitoso e trabalhador e garante que ele é inocente. Segundo a namorada, Walyson é conhecido na comunidade do Jardim Eliane, onde mora e trabalha, e todos estão indignados com a prisão.
"Tenho certeza absoluta da inocência dele. Minha mãe é rígida comigo e confia nele. Deixa ele dormir aqui em casa. É revoltante ficar nessa situação. Ninguém dá espaço de voz pra gente. Essa semana da prisão foi horrível. A mãe dele veio da Bahia por causa disso. É desesperador", revela.
Walyson está na carceragem do 2º DP, no Bom Retiro, na região central de São Paulo.
O crime
O crime foi no dia 24 antes das 7h. A diretora Jéssica Lopes Frazão e a professora Marli Gomes de Lima Lana foram mortas a tiros e uma cozinheira sobreviveu ao ataque dos criminosos ao carro das vítimas na região de Guaianases, zona leste da capital paulista.
De acordo com a Polícia Militar, o crime aconteceu na avenida Professor Osvaldo de Oliveira, no bairro José Bonifácio. As vítimas estavam a caminho do CEI (Centro Educacional Infantil) Jardim Lapena em uma Hyundai Tucson preta, quando o veículo foi metralhado. Diretora e professora morreram no local e a cozinheira não ficou ferida.
Aos policiais, a sobrevivente contou que três homens armados com fuzis atiraram contra o automóvel. Ela conseguiu se abaixar a tempo e escapar com vida.
Segundo informações da PM, o trio confundiu o carro das mulheres com o de um empresário da região. O comerciante de uma rede de postos estaria com alto valor em dinheiro no veículo, que é blindado. O objetivo dos criminosos era assaltá-lo.
Em imagens registradas por câmeras de monitoramento, é possível ver o momento que o carro das vítimas passa e, logo em seguida um outro veículo, que seria o do empresário, vai na mesma direção. Naquele momento, um terceiro carro preto segue os dois veículos.
O carro usado pelas professoras não era blindado e foi perfurado em todas as direções.
No dia 15 de junho, dois suspeitos foram presos por envolvimento no caso, entre eles Walyson. Segundo a Polícia Civil, as investigações procuram identificar se há outros participantes na execução.
Walyson dormia
Segundo a namorada de Walyson, na manhã do crime os dois aproveitaram para dormir até tarde, uma vez que era folga dele. Às 8h, a mãe dela foi para o trabalho e verificou que eles estavam no quarto da adolescente.
Ele só deixou o imóvel que fica no Jardim Fernandes, perto da casa dele, por volta de 14h48. Às 14h51, Walyson chegou em casa, trocou mensagem com a namorada e disse que estava com preguiça por ter dormido muito.
A adolescente conta que câmeras de segurança de uma casa vizinha a dela gravaram a saída de Walyson com uma sacola na mão, onde ele levava os pertences depois de dormir fora de casa. Não há imagens do momento em que ele chega à casa da namorada.
Outra câmera gravou ele caminhando pela rua já próximo à residência onde mora.
Prisão
A prisão do jovem pegou a todos de surpresa. Na manhã do dia 15, os policiais civis chegaram à casa de Walyson, onde ele mora com a irmã gêmea, com um mandado de prisão. Sem falar nada, perguntaram pelo suspeito. O pai dele, que estava em São Paulo para fazer um tratamento, atendeu a equipe, que se recusou a passar informações.
O homem informou que o filho estava na casa da namorada e os levou até o endereço. De acordo com Thalisson, os policiais foram agressivos: "Fizeram ameaças que tinham que entrar, se não ia arrombar e que iam levar meu irmão de qualquer jeito".
Segundo a namorada, o mesmo aconteceu na casa dela. "A gente tava dormindo, foi o maior susto. Pegaram ele, deitaram no chão e algemaram. Não queriam dar explicação. Nunca passamos por isso, nem em delegacia fomos. Até que um policial falou que era algo grave, uma acusação de latrocínio [roubo seguido de morte]. Eu nem sabia o que era isso", diz.
Uma foto também foi mostrada a ela, ao pai e às pessoas que estavam no endereço, mas ninguém reconheceu o homem na imagem.
Após a prisão, Walyson voltou para casa e, segundo a família, o imóvel foi revirado. Todos os celulares encontrados foram apreendidos assim como as máquinas de cartão da barbearia.
O advogado do suspeito, Luiz Guilherme Domiciano dos Santos, revelou que a polícia chegou até Walyson por meio do reconhecimento fotográfico feito pela vítima.
"Não temos acesso ao processo. Já entramos com dois habeas corpus e um mandado de segurança. Esse reconhecimento de vítima é genérico, não é efetivo. O delegado disse que ela não teria condições de identificá-lo", ressalta.
Segundo o advogado, a justificativa dada pela Justiça para o não acesso ao inquérito é o fato de que as diligências continuam e a defesa poderia atrapalhar a investigação.
Todos os recursos feitos pela defesa de Walyson são liminares. A expectativa é de que em breve haja alguma decisão sobre os pedidos de habeas corpus assim como do mandado de segurança.
"Estamos de mãos atadas. Ele é uma pessoa idônea, não tem passagem criminal. É um equívoco por parte da investigação. Walyson nunca teve envolvimento com o crime. É jovem periférico e pobre. O estigma que o sistema gosta. É acusado pelo fato de morar numa comunidade", defende Luiz Guilherme Domiciano.
O outro suspeito preso pelo crime não é conhecido da família e nem de Walyson. Segundo o advogado, são pessoas desconexas.
Pela libertação de Walyson, amigos e parentes foram às redes sociais para dar visibilidade ao caso com a hashtag #todospelowaly. Por todos, é descrito como gente boa, trabalhador, sem contato com drogas ou crime.
O outro lado
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que a prisão foi determinada pela Justiça. O caso é investigado sob sigilo judicial e demais questionamentos devem ser direcionados ao Poder Judiciário.
O Tribunal de Justiça de São Paulo foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.