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Professora abordada por PM em Barueri diz: "Tive medo de apanhar"

Vídeo mostra gritos de policial: "fica quieta. Aqui é polícia, beleza? Abaixa a voz." Educadora diz que em 25 anos nunca passou por situação semelhante

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Policial grita com professora: "fica quieta. Aqui é polícia. Abaixa a voz"
Policial grita com professora: "fica quieta. Aqui é polícia. Abaixa a voz"

As imagens que circulam pelas redes sociais, que mostram uma abordagem policial durante a ocupação na Escola Municipal Lênio Vieira de Moraes, em Barueri, em São Paulo, mostram apenas alguns minutos da tentativa de intimidação policial em relação a funcionários da instituição. A tensão e o pavor da professora Angela Soares, de 45 anos, se estendeu porém durante as quase 8 horas do protesto. 

"Senti medo o tempo todo. Achei que ele (policial) ia me bater, estava esperando levar um soco na cara", afirma aoR7 a funcionária abordada em frente aos portões do colégio na noite da segunda-feira (16). Angela é professora há 25 anos na rede estadual e na rede municipal de Carapicuíba e afirma que nunca havia passado por uma abordagem como aquela ao longo da carreira.

O vídeo mostra a professora diante de um policial militar em frente a um dos portões da escola. Durante a adordagem, o PM grita "é uma ordem policial, seu documento, você está sendo abordada agora." E a professora reage: "não fala assim comigo". O diálogo continua, mas o policial sobe tom ao insistir pelo documento da funcionária: "aqui é uma ordem policial, seu documento, por favor. Isso é uma ordem legal." Em determinado momento, ele tira as mãos dela que estavam no bolso e as retira com violência. "Então fica quieta. Aqui é polícia, beleza? Abaixa a voz", diz. 

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Minutos antes de o vídeo ser gravado, a professora relata que o mesmo policial ameaçava entrar no colégio. "Fiquei com medo de eles entrarem e fazerem alguma coisa contra os alunos. Minha recomendação foi 'não abram até que os pais cheguem'". 

Antes da ação a ser gravada, a professora diz que o policial havia segurado seu braço direito. "Ele não me deixava sair da parede, tentei ficar imóvel. Então, começaram a gravar." No vídeo, o policial pede que a professora busque seu documento. Sem sair do portão, ela pede que um colega lhe entregue a identidade. "Os policiais começaram a tirar sarro quando entreguei o documento, não acreditaram que eu era professora. Disseram que no Brasil professor não tem valor."


Segundo ela, os policiais acusaram os professores de estarem "incentivando traficantes". Para Angela, porém, a ocupação teve como objetivo preservar o direito de continuarem estudando na escola que já conhecem. "Eles ocuparam porque não querem estudar em outra escola, criaram uma afetividade."

Angela afirma que os policiais não entraram na escola, até então, ocupada por alunos. Mas, segundo ela, entraram em uma parte do estacionamento da instituição. "No final, alguns saíram de lá. Saíram, principalmente, quando liguei para a Corregedoria para denunciar a ação e pedir que meu documento fosse devolvido."


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Ao saber da repercussão do vídeo, Angela afirma que sentiu "profunda tristeza". "Tive vontade de sumir, mas não de desistir da profissã. Quis ser professora aos 9 anos", diz. "Só quero que saibam que os alunos não são criminosos, eles só querem estudar naquela escola."

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por meio de nota, informou que a Polícia Militar analisa a conduta do policial que gritou com uma professora.

Alunos e ocupação

Cerca de 50 alunos organizaram a ocupação na Escola Municipal Lenio Vieira de Moraes, por volta das 19h30 da segunda-feira (16), na Via Tabajara, 45, em Barueri, Região Metropolitana de São Paulo. Os estudantes protestaram contra a decisão do governo estadual de encerrar as aulas de ensino médio na unidade.

A escola tem gestão compartilhada entre a prefeitura de Barueri e o governo do Estado. A prefeitura é responsável pelos cursos do ensino fundamental, que ocorrem nos turnos matutino e vespertino, e o governo estadual pelas aulas de ensino médio, que acontecem de noite.

"Os estudantes tem carinho e apego pelas escolas", afirma Kaique Saldanha, aluno que participou da ocupação. "O Estado queria que fôssemos para escolas de Carapicuiba ou Osasco." Segundo ele, a única demanda dos alunos era que a escola não encerrasse o Ensino Médio. "Um dos representantes mostrou um documento que garantia isso e então a ocupação se encerrou."

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