Quem é Fuminho, o sócio de Marcola que foi 'atravessado' por Gegê
Investigadores afirmam que, insatisfeito, integrante do PCC teria avisado o chefe da facção sobre desvios de Gegê do Mangue
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Além de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, que era considerado o homem mais poderoso do Primeiro Comando da Capital (PCC) em liberdade, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, tem também um parceiro importante para cuidar do fluxo de dinheiro e da logística necessária para o tráfico internacional de drogas na região da Bolívia. O homem que mantém estreita ligação com Marcola é Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho. Segundo um bilhete encontrado na Penitenciária de Presidente Venceslau 2, ele teria sido o mandante do assassinato de Gegê do Mangue.
Muito mais do que um gerente de operações ilícitas em países da fronteira, ele é tido como sócio e amigo de Marcola. “Ele é um narcotraficante e um dos mais fortes operadores do PCC a partir do Paraguai e da Bolívia”, afirma Lincoln Gakiya, promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Proprietário de uma fazenda de produção de cocaína na região de Chapare, ao norte de Cochabamba, na Bolívia, Fuminho não tinha relação de proximidade com Gegê do Mangue, morto por um suposto desvio de dinheiro da facção no dia 16. “Gegê só teria contato com o Paca e ambos começaram a atravessar o caminho de Fuminho”, afirma Márcio Sérgio Christino, procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo. “Eles começaram a fazer negócios próprios e ameaçar de tomar o lugar do Fuminho.”
Fuminho é um dos mais importantes fornecedores de drogas do PCC. “Ele tem uma relação de dependência com o Marcola”, diz Christino. A partir do momento que Gegê ficou em liberdade e se estabeleceu no comando do tráfico de drogas na Bolívia e no Paraguai, teria sido deflagrada uma disputa interna dentro da própria facção.
Gegê teria comandado operações de roubos a carros fortes para abastecer seus negócios paralelos durante o tempo em que esteve nos países de fronteira. O R7 apurou que o traficante levantaria entre R$ 20 milhões e R$ 40 milhões por mês só em atividades paralelas ao PCC. Fuminho teria avisado Marcola sobre possíveis desvios de Gegê.
“Fuminho teria reclamado que o PCC deu muito poder para Gegê”, diz Gakiya. Outros relatos dão conta de que, por ser um traficante poderoso na Bolívia e Paraguai, ele teria sob seu controle um grupo de policiais matadores ou ainda pistoleiros locais. A partir disso, o chefe da facção teria começado a elaborar o plano de morte de Rogério Jeremias de Simone.
Com isso, Marcola teria mandado matar não apenas Gegê do Mangue como também pessoas mais próximas ao traficante, como o apadrinhado Wagner Ferreira da Silva, morto na noite da quinta-feira (22), no Jardim Anália Franco (zona leste de São Paulo). Conhecido como Wagninho, ele comandava o tráfico de drogas na Baixada Santista. Ele e o parceiro André Oliveira Macedo, apelidado de André do Rap, seriam os responsáveis por esquematizar o comércio de drogas entre o PCC e países da Europa.
Segundo investigadores, Wagninho seria um dos identificados como ocupante do helicóptero utilizado no momento da morte de Gegê e Paca, em Aquiraz, a 37 km de Fortaleza. As hipóteses apuradas para a morte de Wagninho, segundo o Ministério Público de São Paulo, seriam de “queima de arquivo” a mando da própria facção. Segundo as investigações, a facção entendia que Wagninho poderia ser preso e se tornar alvo de investigação.
Experiência com aeronaves
Em 2014, as polícias Militar e Civil de São Paulo interceptaram um plano de resgate de Marcola na Penitenciária de Presidente Venceslau 2 envolvendo Fuminho. O plano incluía pelo menos dois aviões e um helicóptero caracterizados como se pertencessem à Polícia Militar. O papel de Fuminho seria possivelmente transportar os resgatados de uma cidade de apoio até uma fazendo no Paraguai.