O aplicativo de transporte MobizapSP, da Prefeitura de São Paulo, completou dois meses nesta semana e foi testado pela reportagem do R7 durante três dias. Os critérios avaliados foram o tempo de espera pela corrida, o funcionamento da plataforma e o preço para os motoristas e passageiros. O trajeto selecionado foi do bairro de Santo Amaro, zona sul da capital, até a Barra Funda, região oeste, de terça (23) a quinta-feira (26). Segundo informações do MobizapSP, até as 8h de sexta-feira (26), 166.043 passageiros e 59.738 motoristas se cadastraram no aplicativo. Um dos atrativos para os motoristas é o fato de o serviço não ter tarifa dinâmica, por isso a taxa de administração cobrada é de apenas 10,95%, sendo uma alternativa aos concorrentes Uber e 99. Entretanto, os condutores relatam que desde o lançamento quase não há passageiros utilizando a plataforma.•Compartilhe esta notícia no WhatsApp•Compartilhe esta notícia no Telegram Durante um teste, Ricardo* disse que baixou o MobizapSP desde o primeiro dia de funcionamento, em 23 de março. Entretanto, ele consegue fazer, em média, apenas uma corrida por dia pela plataforma da prefeitura. Há cinco anos o motorista trabalha com aplicativos de transporte na capital e dirige, diariamente, de 12 a 14 horas. "A taxa [do MobizapSP] é melhor em comparação com os outros, mas quase não há clientes. Eu deixo todos os aplicativos ligados quando estou dirigindo, porém é raro [o app da prefeitura] tocar", afirmou Ricardo, estudante de teologia. O motorista e eletricista João* compartilhou a mesma frustração de Ricardo. Com experiência de seis anos em aplicativos de transporte, ele se cadastrou no MobizapSP assim que o lançamento foi anunciado. Contudo, em dois meses de uso, a corrida solicitada pelo R7 foi a primeira que ele conseguiu fazer pela plataforma da prefeitura. A jornada de trabalho de João é de 12 horas diárias, de segunda a sábado. Com faturamento de R$ 2.000 por semana, cerca de 70% da receita é fruto das corridas feitas pelo Uber e 30% pela 99. "Eu deixo todos os aplicativos ligados, porém o da prefeitura nunca toca", lamenta. Para a administradora de banco de dados Amanda Balceskis, 38, o valor recebido de cada corrida feita pelo MobizapSP é extremamente vantajoso. "Em média, consigo fazer R$ 2 a cada 1 quilômetro, enquanto nos outros aplicativos o pagamento cai quase pela metade", explica. Ela também trabalha pelo menos 12 horas por dia e dá preferência aos períodos matutino e vespertino. Amanda relatou que se cadastrou na plataforma de transporte da gestão municipal somente um mês após o lançamento, pois demorou para descobrir a existência da nova ferramenta. Todos os motoristas de aplicativo confirmaram que o pagamento oferecido pelas corridas é mais vantajoso em comparação com os concorrentes, porém faltam adesão por parte dos passageiros e divulgação da Prefeitura de São Paulo à população. Para os passageiros, o preço do serviço se mostrou, pelo menos por enquanto, desvantajoso em relação aos concorrentes Uber e 99. No primeiro teste feito pelo R7, o valor da corrida no MobizapSP foi de R$ 64,69; no 99, de R$ 46,63; e, no Uber, de R$ 41,04. A diferença entre o primeiro e o terceiro aplicativo foi de R$ 23,65, ou seja, de 56%. No segundo dia, a diferença de preços foi menor, porém o MobizapSP ainda registrou o preço mais elevado. A corrida pelo Uber estava custando R$ 42,07; pela 99, R$ 44,26; e pelo MobizapSP, R$ 48,72. Comparando o primeiro com o terceiro colocado, o passageiro gastaria R$ 6,65 a mais. No terceiro dia, a diferença de preços também se mostrou elevada. O MobizapSP estava cobrando R$ 61,77. Enquanto uma corrida pelo Uber e pelo 99 estava custando, respectivamente, R$ 40 e R$ 54,02. Nos três dias de teste, as solicitações da reportagem foram aceitas pelo MobizapSP em até um minuto. Entretanto, em duas das três corridas, os condutores estavam longe do endereço inicial — a cerca de oito minutos de distância. Apenas o carro de Amanda estava a menos de um minuto. Para os entrevistados, isso se explica pela baixa adesão à plataforma. Um dos motoristas que aceitaram a corrida, no segundo dia de teste, estava a mais de dez minutos de distância do endereço inicial. Após quatro minutos da solicitação, ele cancelou a corrida. A plataforma apresentou, nos testes, algumas instabilidades e alguns problemas técnicos. Todos os motoristas enfrentaram dificuldades na visualização do trajeto. Após dar início ao serviço e o condutor começar a dirigir, o mapa apresentou um percurso para o endereço de solicitação — em Santo Amaro — em vez de indicar o caminho até o ponto final, na Barra Funda. Para Amanda Balceskis, é preciso ter paciência com o aplicativo, pois ele ainda é novo e está sendo aperfeiçoado. No geral, ela elogiou o MobizapSP e o atendimento do suporte. "Um dia eu precisei ligar para reclamar sobre a dificuldade de falar com um passageiro e fui bem atendida", afirmou. O MobizapSP informou que lança melhorias e novas atualizações constantes para solucionar qualquer eventualidade e fornecer um serviço de qualidade tanto aos motoristas quanto aos passageiros. "Identificamos o ponto abordado e solucionamos desde a versão 1.2.8 do app. Dessa maneira, os nossos parceiros podem visualizar o trajeto e finalizar uma corrida a qualquer hora do dia", afirma a empresa. "Até o momento, o MobizapSP fez apenas campanhas de marketing orgânicas e é normal esse crescimento nesse começo, aspecto já previsto no plano de negócios", segundo a companhia. Nas próximas semanas, a plataforma deverá lançar campanhas mais robustas para atrair ainda mais passageiros e motoristas. "O MobizapSP já está oferecendo aos usuários cupons de descontos", informa.*Nomes foram alterados a pedido dos entrevistados