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Resposta a ‘novo cangaço’ pede inteligência integrada, dizem especialistas

Grupo atacou empresa em Guarupuava (PR). Ação seguiu padrões de grandes assaltos em outras cidades pequenas e médias no país

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

Caminhão é incendiado por homens armados para interromper fluxo na via
Caminhão é incendiado por homens armados para interromper fluxo na via

O ataque de um grupo de cerca de 30 homens a uma transportadora de valores em Guarapuava (PR), na noite de domigo (17), reacendeu o alerta para o chamado ‘novo cangaço’. Desde 2019, ações orquestradas a partir dos mesmos métodos ocorreram em municípios como Araçatuba (SP), Botucatu (SP), Criciúma (SC), Cametá (PA), Salvador (BA) e Guararema (SP).

Acessos estratégicos bloqueados, moradores feitos reféns e utilizados como escudo humano, carros incendiados e trocas de tiros são parte basilar dos planos para esses ataques, que miram cidades de pequeno e médio porte, que têm efetivos policiais reduzidos, expressivamente inferiores aos de grandes capitais.

Ao R7, o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e especialista em segurança pública, Rafael Alcadipani, comenta que a resposta ao ‘novo cangaço’ passa pelo compartilhamento de inteligência entre as distintas forças policiais que apuram esse tipo de crime.

“Isso pode fazer com que se evitem esses crimes. No Brasil, esse compartilhamento é muito ruim, não acontece como deveria”, avalia o professor.


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Motivo para que os ataques ocorram em cidades menores, o efetivo policial reduzido nesses municípios pode colaborar com os grupos criminosos, segundo Alcadipani:

“A redução expressiva das forças policiais no Brasil, como em São Paulo, por exemplo, acaba facilitando a vida dos criminosos.”


O gerente de advocacia do Instituto Sou da Paz, Felippe Angeli, observa que, para esse tipo de crime, os investimentos do poder público devem se debruçar em controle de armas, organização regulatória e urbanística para prevenir crimes, e, principalmente, na investigação.

“O combate [a essas quadrilhas] se dá pelo fortalecimento da capacidade investigativa do estado, para conseguir desmobilizar essas quadrilhas, que não se juntam do dia para a noite e tomam essa decisão [de fazer um grande assalto]”, considera Angeli.


Para o especialista, o combate não pode passar pela ostensividade. Com o nível de confronto gerado em trocas de tiros contra grupos fortemente armados e experientes, prossegue ele, não é interessante à sociedade que se trate do problema “com uma cena de guerra no meio de uma cidade”.

É preciso, defende, pensar a segurança pública para além do policiamento ostensivo, em detrimento da investigação policial e da Polícia Civil.

Ministro promete rigor e pena maior contra ‘novo cangaço’

A investida da quadrilha no interior paranaense foi recebida com revolta pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, que disse que o “novo cangaço” é uma espécie de terrorismo, e merece uma pena maior, bem como uma tipificação própria.

“É um crime gravíssimo, causa um terror naquelas pessoas. O Estado não pode permitir esse tipo de coisa. É uma prática que tem sido comum, constante, a polícia tem trabalhado firme, prendido essas organizações criminosas, mas a legislação também precisa se aperfeiçoar”, afirmou Torres.

Para Rafael Alcadipani, a modalidade não se caracteriza especificamente como terrorismo, “mas existe, sim, uma noção de terrorismo no ‘novo cangaço’”.

O aumento da pena deve ser considerado, segundo o especialista, mas acompanhado do compartilhamento da inteligência e da articulação entre as forças policiais.

Felippe Angeli, por outro lado, pondera que a resposta não passa pelo endurecimento de penas.

“Sempre apostamos nas mesmas soluções esperando resultados diferentes, há muitos anos. O endurecimento penal, numa situação carcerária absolutamente caótica, em que temos piorado o problema, com o crescimento e espalhamento de facções criminosas pelo interior do país”, diz ele, que completa:

“Se fala em terrorismo e endurecimento de pena, mas não fala na melhoria do trabalho policial, nem no maior controle sobre o tráfico de armas de fogo.”

Investigações sobre o ataque em Guarapuava

A polícia paranaense prendeu o primeiro suspeito de envolvimento no ataque em Guarupuava nesta segunda-feira (18). Segundo a investigação, ele não participou diretamente da ação, mas da logística de fornecimento de armas à quadrilha. O homem detido foi encaminhado à delegacia do município.

Doze veículos utilizados pela quadrilha e dez armas, entre outros equipamentos, foram apreendidos, segundo a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) do Paraná. As buscas pelos outros suspeitos prosseguem nesta terça (19).

Ainda segundo a pasta, a Polícia Civil realiza as investigações com o cruzamento de informações de inteligência e faz diligências nas ruas para localizar os criminosos.

Nesta fase, a investigação colhe imagens dos circuitos de segurança e relatos dos moradores.

Papiloscopistas trabalham para encontrar impressões digitais em objetos, automóveis e locais do crime. Todo o material recolhido vai ser confrontado com os disponíveis no banco de dados da polícia paranaense, a fim de encontrar possíveis suspeitos.

Peritos do Instituto de Criminalística de Curitiba e Instituto de Criminalística também estão no município para acelerar o processo de perícia e exames dos materiais e veículos deixados pelo grupo.

Cerca de 260 policiais, entre membros do batalhão regional e de demais unidades, atuam nas diligências realizadas em Guarupuava na busca por suspeitos, bem como três helicópteros do governo do estado e equipes de cães.

De acordo com a Sesp, após troca de tiros com os policiais, a quadrilha fugiu do local sem concluir o assalto à transportadora de valores.

A secretaria informou que a Polícia Militar paranaense já contava com um plano de contingência para situações de risco, o que, ainda segundo a pasta, fez com que os criminosos deixassem a cidade.

Dois policiais e um morador do município ficaram feridos durante a ação.

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