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'Rota do Interior' é usada como marketing, dizem especialistas

Governo Doria inaugurou 9 unidades do Baep, além de 12 Deics regionais, e diz que ataques a agências bancárias são solucionados

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Criminoso rendendo vítima em Araçatuba
Criminoso rendendo vítima em Araçatuba

Um dos símbolos da Segurança Pública da gestão João Doria (PSDB) são os Baeps (Batalhões de Ações Especiais de Polícia), conhecidos popularmente como "Rota do Interior", devido às semelhanças com o modelo adotado pelo batalhão mais letal da PM paulista. Segundo o governo, atualmente os policiais paulistas estão equipados com armamento de última geração, o que incluem pistolas semiautomáticas Glock calibre ponto 40, fuzis ponto 556 e ponto 762, rifles de precisão, carabinas 12, entre outros.

Mesmo assim, a população de Guararema, Ourinhos, Botucatu, Araraquara e, mais recentemente, Araçatuba, entre outros municípios paulistas, viveram cenas que mostram a força de segurança paulista não sendo suficiente para bater de frente com criminosos. Para especialistas, esses grandes ataques a agências bancárias em cidades do interior são reflexo de uma política de marketing da gestão e da falta de investimento em investigação, que seriam necessárias para impedir esse tipo de crime.

Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), existem 14 Baeps no Estado atualmente, sendo que nove foram inaugurados por Doria. Se essa é a marca que a gestão quer usar favoravelmente, um dos principais obstáculos são justamente os grandes ataques a bancos, que ocorrem desde o primeiro ano do governo.

Logo nos primeiros meses da gestão Doria, em abril de 2019, criminosos atacaram agências bancárias em Guararema, na região metropolitana de São Paulo. A ação teve intervenção da Rota e 11 mortos, se tornando a terceira ocorrência com mais mortes na história da polícia paulista.


Depois disso, cidades do interior e da região metropolitana de São Paulo começaram a inaugurar os Batalhões de Ações Especiais de Polícia, além de transformar unidades especializadas da Polícia Civil em Departamentos Estadual de Investigações Criminais. Segundo a SSP-SP, foram inaugurados 12 Deics regionais desde 2019.

Mas os ataques seguiram acontecendo em cidades do interior paulista. Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), essa “vulnerabilidade do Estado de São Paulo está no fato de que o governo não investe na segurança pública”.


“O governador abriu mini Deics por todo o interior, jogada de marketing que não veio acompanhada de nomeações e valorização salarial dos policiais. Uma prova de que somente a mudança de nomenclatura da estrutura organizacional não gera eficiência no combate ao crime organizado”, afirma Raquel.

A delegada explica que a Polícia Civil tem a atribuição e competência para investigar e prender as quadrilhas que praticam esse tipo de crime, mas o governo não investe nesse trabalho. “O meio de evitar é investir em quem tem conhecimento técnico para investigar e prender esses marginais, que é a Polícia Civil”, disse.


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O professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, especialista em segurança pública, também acredita que para combater os ataques é necessário investir mais na investigação do que, propriamente, no confronto, como acontece quando os Baeps entram em ação.

“Ao mesmo tempo que o governo fortaleceu o Baep, tem sucateado, historicamente, a polícia de investigação, que é a Polícia Civil. E quem deveria estar mais equipada, mais estruturada e mais organizada para combater esse tipo de crime é a Polícia Civil, que é quem tem a capacidade de desenvolver ações de inteligência para impedir que esse tipo de crime aconteça. Para se resolver problemas como o de Araçatuba, é necessário fazer um investimento muito maior na Polícia Civil”. 

Além disso, ele entende que o modelo do Baep facilita a atuação dos criminosos, pois centraliza a principal força da Polícia Militar em um único batalhão. “Esse modelo é inadequado desde o começo. O Baep acabou retirando muitos policiais da radiopatrulha e colocando nesse tipo de unidade. Então, a força especial tática da polícia fica concentrada em um local. Se tiver forças táticas espalhadas, com vários policiais preparados para portar fuzis, em diferentes unidades, iria dificultar muito mais a vida do criminoso. No caso como está, os criminosos fecham a unidade do Baep e tiram os policiais mais preparados da ação”. 

Para o governo paulista, o trabalho feito na atual gestão tem apresentado resultados positivos. A secretaria da Segurança afirma que os outros casos semelhantes aos ataques de Araçatuba “foram devidamente esclarecidos e resultaram na prisão de 27 criminosos e no indiciamento de outras 12 pessoas”.

A pasta também se calça com números da segurança para indicar a efetividade no tipo de policiamento usado como bandeira pela gestão. De acordo com os dados da SSP-SP, em um interlavo dos últimos 10 anos, os roubos a banco e explosões de caixas eletrônicos reduziram 92,18% e 98%, respectivamente, sendo que “equipes especializadas da Polícia Civil, agora com o trabalho também dos Deics regionais, tem desarticulado quadrilhas que atuam nessas áreas”. 

Outro ponto que é alvo de crítica por parte dos especialistas é a falta de efetivo policial. “São Paulo não equipa e não contrata aprovados em concurso para que a Polícia Civil tenha condições de cumprir seu papel de polícia judiciária. Quando Doria assumiu como governador, faltavam de 13 mil policiais civis em São Paulo. Hoje faltam quase 15 mil”, diz a delegada Raquel.

Com relação a esses dados, a Secretaria de Segurança Pública diz que “trabalha para ampliar o efetivo das forças policiais”, e afirma que desde 2019, mais de 10 mil policiais foram contratados e 4.237 estão em formação nas respectivas academias. “Além destes, está em andamento um concurso para a contração de 2.700 soldados e estão autorizadas mais 2.750 vagas para a Polícia Civil e 189 para a SPTC [Superintendência de Polícia Técnico-Científica]”.

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