Seguranças de mercado com jovem torturado ameaçaram mulher negra
Ao sair de mercado, mulher foi perseguida e teve a bolsa revistada. "Quando eles falaram 'vamos ali conversar' tive medo de ser estuprada ou morta"
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Uma mulher negra foi abordada por dois funcionários do supermercado em que um jovem negro foi amarrado e torturado por seguranças, localizado no bairro de Jardim Selma, na zona sul de São Paulo. De acordo com a advogada da vítima, Ana Paula Freitas, os funcionários apontaram uma arma contra ela. "O crime foi registrado como constrangimento ilegal, e mesmo que não possa ser tipificado como crime de racismo, as motivações foram apenas raciais", diz a advogada.
De acordo com Freitas, a mulher entrou no mercado, pesquisou itens que desejava, mas saiu sem comprar nada. "Ao chegar na saída do mercado, pensou que se tratava de um assalto e saiu correndo, quando dois homens não uniformizados a pararam e mandaram que ela abrisse a bolsa em uma praça nas proximidades. Sem entender que se tratava de um crime de racismo, ela correu e foi alcançada. Uma mulher do ponto de ônibus disse que eram funcionários do mercado", disse a advogada.
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"Inicialmente, eu não fazia ideia que eram funcionários porque não usavam crachá nem nada que os identificassem. Pensei em correr em direção a pracinha e lá eles apontaram a arma. Entreguei a bolsa para um deles, que tirou tudo que tinha lá. Naquela hora, eu não conseguia entender que não se tratava de um assalto", disse ao R7 a mulher funcionária pública. "Eles falaram 'vamos ali conversar'. Fiquei morrendo de medo que eles fossem me matar, estuprar."
Um dos funcionários, segundo a advogada, fez a revista e repetiu quatro vezes "ela não tem nada". De acordo com o boletim de ocorrência, registrado no dia 27 de abril desse ano, ela foi abordada por duas pessoas que exigiram que ela abrisse a bolsa. Segundo o documento, ela correu por cerca de dez metros, seguida pelos homens que, após alcança-la, a seguraram pelo braço.
“Um deles apontando arma de fogo, tirou a bolsa de suas mãos e passou a revistá-la." Após esse momento, ela que decidiu retornar ao mercado para se certificar que as duas pessoas que a abordaram eram funcionários do local.
No mercado, a vítima teria encontrado duas pessoas que presenciaram a abordagem e se propuseram a ser suas testemunhas. Segundo o boletim de ocorrência, elas poderiam constatar que os homens que a revistaram era funcionários do estabelecimento.
"Quando voltei ao mercado para saber se eram realmente funcionários, vi uma funcionária conversando com eles. Um casal que estava próximo disse que me acompanhariam à delegacia para fazer o boletim de ocorrência", diz ela. "Pela forma com que eles me abordaram foi um crime racial. Como alguém aborda uma pessoa e tira tudo de dentro da minha bolsa. A impressão que tive foi que eles queriam que tivesse algo, que eu tivesse algo roubado algo."
A advogada da vítima pediu que sejam juntados aos autos o nomes de todos os funcionários do local. "Nesses mercados normalmente, os seguranças são policiais militares em horário de descanso".
Por meio de nota, o Ricoy Supermercados informou que "apura todo e qualquer caso de violência". "Mais do que isso, sempre vai colaborar com as investigações e as autoridades para garantir que todos os fatos sejam esclarecidos. E enfatizamos que somos contrários e não compactuamos com qualquer tipo de discriminação ou violação de direitos humanos", finalizou.