As chuvas que provocaram caos e mortes entre segunda-feira (8) e terça-feira (9), no Rio de Janeiro, devem se tornar cada vez mais frequentes nas cidades brasileiras. Os efeitos das mudanças climáticas já estão alterando o padrão de chuvas e secas. Por causa da intensa urbanização, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo sentem efeito mais intenso.
"Estamos alterando os ciclos da chuva e hidrológico como um todo. Cada vez mais vamos ter mais episódios de chuvas torrenciais, bem como longos períodos de estiagem, invernos com baixíssimas temperaturas, tornados. Tudo isso gera impacto na economia e no bem-estar da população", explica André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Ele afirma que as cidades sofrem cada vez mais impactos e precisam urgentemente investir em adaptação ao novo cenário. "É preciso retirar as pessoas das áreas de risco, redimensionar os sistemas de drenagem. É necessário arborizar as regiões metropolitanas para diminuir o efeito de ilha de calor que atrai as grandes tempestades e incentivar o uso de infraestrutura verde para aumentar a infiltração de água no solo, melhorar o microclima local, reduzir deslizamentos de terra, coletar e armazenar o excesso de água, entre outras medidas", afirma Ferretti.
Outras ações importantes são manter parques, praças e ruas arborizadas com as espécies de plantas adequadas e parques lineares ao longo dos leitos dos rios, em vez de rios canalizados. "A sociedade e o poder público devem ter consciência de que, sim, estamos provocando mudanças no clima."
A conscientização da população é o ponto mais importante para que mudanças de comportamento ocorram e sejam efetivas. Ferretti afirma que algumas medidas que podem ser adotadas tanto pela sociedade como pelo poder públco são a construção de telhados e paredes verdes, a instalação de pavimentos mais permeáveis e a coleta de água da chuva nas casas e empresas.
"Também é preciso descartar o lixo corretamente para não obstruir bueiros e as pessoas devem sair de áreas de risco, seja nas margens de rio ou em encostas de morros. Outras ações que têm impacto positivo são combater desmatamentos e evitar o uso de combustíveis e energias fósseis, como gasolina e diesel, dando preferência a energias renováveis, como eólica, solar e etanol. No deslocamento, ao dar preferência à bicicleta, à caminhada e ao transporte coletivo, as pessoas também reduzem a emissão de gás carbônico na atmosfera", conclui o ambientalista.
Veja imagens das chuvas que castigaram cidades no país em 2019:
As enxurradas arrastaram veículos em várias áreas da capital fluminense. Árvores caíram e muitas ruas ficaram intransitáveis Rio tem vias fechadas, alagamentos e árvores caídas após 18 h de chuvas