Transporte lotado atinge público com renda de dois salários mínimos
Pessoas em idade economicamente ativa e em maioria mulheres compõem perfil dos passageiros do transporte coletivo de SP
São Paulo|Do R7
De volta à fase vermelha do Plano SP desde segunda-feira (12), o Estado de São Paulo continua registando aglomerações no transporte público em meio à pandemia de covid-19. As superlotações, observadas até na etapa emergencial do protocolo do governo estadual, atingiram, de modo geral, uma população com idade economicamente ativa e que recebe, em média, dois salários mínimos.
Leia também
Os passageiros do Metrô de São Paulo, segundo pesquisa de 2018 – a mais recente da companhia –, são pessoas com renda mensal de R$ 2.003 (à época, equivalente a pouco mais de dois salários), em média, e faixa etária de 18 a 34 anos (58%).
A idade é similar à identificada por uma pesquisa realizada pela CPTM com seus passageiros em novembro de 2020, com 51,9% dos usuários nesta faixa. Pessoas com 35 a 54 anos formam mais 37,3% dos passageiros da companhia paulista, que não disponibiliza dados de renda.
Os dois relatórios também apontam maioria feminina entre os usuários: as mulheres são, respectivamente, 57% e 55,6% dos passageiros do Metrô e da CPTM.
“Se pudesse, não pegaria”
Utilizar o transporte coletivo em meio a um período de pandemia é o desafio de ao menos quatro milhões de pessoas por dia em São Paulo, segundo dados do governo. Findada a fase emergencial, com a tendência de mais aglomerações nos trens e ônibus, a situação, segundo relatos dos usuários, é assustadora.
Todos os dias, Talita Moreira vai de Pirituba para a República e repete o trajeto de volta parra trabalhar. Embora nunca tenha contraído o vírus, ela fala sobre o receio de transmitir o vírus para a mãe, que pertence a grupo de risco para a covid-19.
Veja também: Sem distanciamento, passageiros se arriscam na ida ao trabalho em SP
“O transporte está assustador, se eu pudesse, não pegaria de jeito nenhum. Tinha que ter isolado lá no início, cancelado o Carnaval, agora está descontrolada [a pandemia]”, afirma a operadora de telemarketing, de 31 anos.
A auxiliar de escritório Talita Guimarães, de 26 anos, utiliza o trem para sair de São Caetano do Sul (SP) para ir até o centro da cidade de São Paulo, na Luz. Embora tome os cuidados necessários para se proteger na pandemia, ela não consegue encontrar saída para evitar a lotação no transporte coletivo.
“No feriado estava bem mais tranquilo, ontem e hoje estão bem cheios os trens. Deveria ser estudada uma forma mais eficaz, porque a gente fica sem opção e precisa trabalhar”, diz Guimarães.
Retorno à fase vermelha
O Estado de São Paulo retornou à fase vermelha do Plano SP na última segunda-feira (12), depois de 28 dias na etapa emergencial.
A medida se estenderá até o dia 18 de abril, em que será divulgada a nova atualização do plano de flexibilização econômica.
Com o avanço devido à queda do número de internações em leitos de enfermaria e UTI, a atual fase vermelha sofreu algumas modificações para incluir medidas previstas na etapa emergencial, segundo a gestão estadual.
Veja também: "Transporte público está assustador", diz usuária em SP
Na etapa atual, estarão mantidos o toque de recolher das 20h às 5h, a restrição de atendimento presencial em todos os serviços essenciais e haverá reforço da fiscalização sobre eventos e aglomerações.
A recomendação para o escalonamento na entrada e saída de trabalhadores da indústria, serviços e comércio continua válida, assim como a obrigatoriedade do teletrabalho e a proibição de celebrações religiosas.
Superlotação no transporte se repete no 2º dia de fase vermelha. Veja imagens
Posicionamentos
A reportagem solicitou posicionamentos do governo de São Paulo e da prefeitura paulistana sobre as aglomerações registradas no transporte público durante a pandemia.
Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos informou que está com “’Operação Monitorada’ desde o início da pandemia e atua com avaliação sistemática a cada faixa de horário”. A pasta também ressaltou que Alexandre Baldy, responsável pelos transportes no Estado, defende o escalonamento obrigatório de entrada e saída de trabalhadores em atividades essenciais que sejam permitidas funcionarem “como um caminho possível para evitar a concentração de passageiros nos horários de pico”.
Já a prefeitura, por meio da SPTrans, disse que a frota de ônibus foi mantida acima da demanda, e que a frota atualmente está mantida em 93,34% nos bairros mais afastados do centro e em 88,25% em toda a cidade. Além disso, a gestão municipal destacou ações como o monitoramento do deslocamento dos passageiros, a higienização dos veículos e terminais e conscientização sobre cuidados e higiene pessoal com os operadores e passageiros.
Não houve comentários do governo e da prefeitura a respeito das aglomerações que persistem no transporte coletivo ou de como serão enfrentadas.