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Verba gasta em muro verde da 23 de maio plantaria 500 árvores por mês

Prefeitura paga R$ 107 mil à empresa para manutenção do jardim vertical da avenida. Apesar da beleza, o corredor verde tem baixo impacto ambiental

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Muro verde da avenida 23 de maio gera gasto mensal de R$107 mil à prefeitura
Muro verde da avenida 23 de maio gera gasto mensal de R$107 mil à prefeitura

Quase R$ 107 mil. Este é valor pago por mês pela prefeitura de São Paulo pela manutenção dos seis quilômetros do corredor verde da avenida 23 de maio. Desde 1º de julho, a empresa Era Técnica Engenharia Ltda, que foi vencedora do processo de licitação, presta serviços ao município.

O valor exato do contrato mensal é R$ 106.980. Ao saber do montante gasto com a manutenção do jardim suspenso, a diarista Jussara Leôncio de Andrade, de 42 anos, ficou surpresa: "Tudo isso? Dá para fazer por bem menos, é muita grana". E completou: "É muito lindo, faz muito bem o verde para a cidade, para nós, mas com esse custo mensal não dá".

Joelma Pereira está desempregada, mora no Grajaú, na zona sul de São Paulo, e levou a filha grávida de 5 meses, Natália dos Santos, de 18 anos, para fazer um ultrassom na região do Ibirapuera. O trajeto durou 2h30 e terminou na 23 de Maio. "É bonito o verde, a natureza, mas o preço é um absurdo! Eles deviam cuidar de educação, saúde, segurança, olha quanto tempo demorei para chegar até aqui, olha a distância porque não tinha hospital público que fizesse o exame lá."

O botânico Ricardo Cardim afirma que o corredor verde é uma ferramenta acessória para verdejar áreas mais difíceis como paredes, mas não substitui o plantio de árvores. “É equivocada a proposta da prefeitura: uma árvore de grande porte custa, em média, R$ 200, e 100 m² de parede verde instalada custa de R$ 150.000 a 200.000”. Com o dinheiro pago por mês, daria para plantar 535 árvores na cidade todos os meses.


A comparação é possível, já que a instalação do muro verde faz parte de um TCA (Termo de Compromisso Ambiental) assinado pela gestão anterior com a empresa Tishman Speyer. Nela a companhia se comprometeu a construir oito jardins verticais na cidade em vez de plantar quase 900 árvores. Os jardins nas laterais de prédios que circundam o Minhocão, na região central, também fizeram parte do acordo.

O diretor do Instituto de Biociências da USP, Marcos Buckeridge, afirmou que "o retorno do muro verde à cidade é intangível, com a beleza e bem-estar, mas serve como uma medida complementar e poderia ser menor em extensão". Ele explicou que uma árvore se mantém com a água da chuva, enquanto as mudas do jardim vertical estragam com facilidade devido à umidade e insetos e exigem tecnologia para manutenção.


Ele defendeu a iniciativa em locais como prédios públicos "porque traria benefício ambiental, uma vez que reduziria o consumo de energia com o ar-condicionado porque a parede verde diminui a temperatura do meio".

Cardim ressaltou que o jardim vertical funciona bem em áreas privadas e não como estratégia do poder público. Isto porque a manutenção com irrigação automática é muito cara. “Nós mal conseguimos cuidar dos parques, florestas e praças. O dinheiro que a gente tem deveria ser usado no plantio de árvores e parques”, defendeu o botânico.


Apesar do baixo impacto ambiental, frequentadores da região elogiam o verde
Apesar do baixo impacto ambiental, frequentadores da região elogiam o verde Edu Garcia-R7

Cidade mais verde

É inegável, no entanto, que o verde é elogiado por quem passa diariamente pela avenida 23 de Maio desde o viaduto Jaceguai, no centro, até as proximidades do túnel Ayrton Senna, na zona sul da capital.

O técnico de áudio e vídeo Rafael Araujo Barbosa, de 22 anos, disse que também gostava dos antigos grafites que cobriam as paredes da 23 de Maio. Ele aprova o corredor, mas discorda da forma de custeio. "Acho bonita a parede verde para um ambiente tão pedra, tão cidade como esse. Devem continuar com a beleza, mas buscando outras formas de manter porque o dinheiro pode ser investido em outras áreas, não sei se isso deve ser priorizado", afirmou o jovem.

Já o motoboy Francisco Anderson Ferreira Vidal, de 28 anos, percorre com frequência a avenida 23 de Maio e acredita que o projeto possa ser tocado em parceria com a iniciativa privada. "Podiam buscar empresas parceiras para não ter que gastar dinheiro dos cofres públicos."

Fato é que a gestão Covas herdou a manutenção do muro seis meses após a inauguração, quando a empresa informou que não mais arcaria com os altos custos mensais. De acordo com o secretário municipal de Subprefeituras, Alexandre Modonezzi, ”uma vez que o muro foi instalado, tem que ser mantido, mais prejuízo seria não o ter em funcionamento, ainda mais pela aceitação que o jardim teve por parte da população, que reclamou do abandono temporário da estrutura”.

O secretário relativizou o custo ao dizer que “equivale ao gasto com uma equipe de limpeza de córregos e zeladoria”. Desde que a empresa vencedora da licitação assumiu a manutenção do jardim vertical, novas mudas foram plantadas. Apenas na região do viaduto Beneficência Portuguesa, a reportagem encontrou, no ínicio de novembro, o muro com plantas secas ou mortas e locais vazios, mas o replantio já foi concluído.

Segundo o secretário, jardins verticais são comuns em outros países, como México por exemplo. “A tendência são áreas mais verdes em meio ao concreto, cidades mais humanas”, destacou. Modonezzi afirmou ainda que outras ações ocorrem ao mesmo tempo na cidade, entre elas plantio de árvores e revitalização de florestas urbanas. 

Jardim vertical exige cuidado diário para evitar morte de plantas e vandalismo
Jardim vertical exige cuidado diário para evitar morte de plantas e vandalismo Edu Garcia-R7

Manutenção

Segundo a prefeitura, o corredor verde já foi alvo de vandalismo, como furto de bombas de irrigação e de fios. Agora, para evitar novos problemas, algumas alterações foram feitas no projeto. Jardineiras de uma tonelada e meia foram colocadas sobre as bombas - com vasos e pesadas tampas de ferro-, e canaletas de concreto foram posicionadas logo acima do muro para impedir que o lixo jogado nos viadutos vá parar nas plantas. Também foram instaladas caixas de decantação para separar a terra da água e assim impedir o entupimento das bombas.

O jardim vertical exige cuidados diários. As equipes trabalham das 7h às 11h40 e voltam das 13h às 15h. Aos domingos, uma faixa da avenida 23 de Maio é interditada para o uso de cestos aéreos. Só assim é possível fazer a manutenção da parte mais alta do muro.

O lavador de carros Marinaldo de Macedo, de 51 anos, trabalha em frente ao paredão do viaduto Pedroso e acompanha a manutenção do espaço até aos fins de semana. Ele lembra quando existiam os grafites no muro. “Os motoristas passavam e tiravam foto. Isso aí é desperdício, tem de ficar plantando, regando e quem paga é o povo." Marinaldo reclamou também da iluminação escura e diz que "há assaltos na região".

De acordo com a Secretaria das Subprefeituras, o corredor verde é dividido em nove estações e recebe os serviços em três etapas. A primeira contempla a limpeza e troca de mudas. A segunda é para substituição de bombas queimadas e furtadas, além de manutenção no sistema de irrigação. A terceira etapa é uma obra civil para conter o acesso às casas de máquinas.

Muro verde da 23

O Corredor Verde da avenida 23 de Maio tem 10.950 m² de jardins verticais. A implantação foi feita pelo Movimento 90º e acompanhada pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O valor da implantação do projeto foi de cerca de R$ 9,7 milhões. A inauguração do espaço foi no dia 5 de agosto de 2017.

Ao longo dos quase seis quilômetros, foram colocadas 40 espécies de plantas e folhagens como falsa íris, manjericão, samambaias, alecrim, orégano, salsa e tapete-inglês. Foram utilizadas mais de 250 mil mudas de plantas. As estruturas dos painéis foram feitas com 163,7 toneladas de lixo reciclado. Na ocasião, o Departamento de Iluminação Pública instalou 402 projetores ao longo do corredor.

Veja mais fotos do corredor verde e as alterações feitas no projeto:

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