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Com câncer avançado, paciente do SUS está há 4 meses sem médico

Regiane Costa desabafou sobre sua situação em rede social após atendente dizer que não sabia se haveria médico e mandar ela procurar outro hospital

Saúde|Brenda Marques, do R7

Regiane foi ao Heliópolis na última quarta (3)
Regiane foi ao Heliópolis na última quarta (3) Regiane foi ao Heliópolis na última quarta (3)

Regiane Costa Hespanhol, de 42 anos, foi diagnosticada com câncer de mama já em fase de metástase – quando o tumor já se espalhou para outros órgãos do corpo – há 7 anos, em abril de 2013.

Desde então, faz tratamento no SUS (Sistema Único de Saúde). Mas há 4 meses está sem assistência médica porque sua oncologista, Elza Maria Donato, aposentou-se.

Ela faz tratamento há 4 anos no Complexo Hospitalar Heliópolis, de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo. Sua última consulta com a oncologista aconteceu no dia 29 de outubro de 2019. Na ocasião, a própria médica comunicou a paciente sobre seu afastamento.

“Ela informou que talvez seria a última vez que eu passaria com ela e me deixou com receita para os remédios da quimio. Disse para eu marcar consulta com outra oncologista em dezembro”, conta.

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Entretanto, Regiane não conseguiu fazer o agendamento. Em vez disso, foi colocada em uma lista de espera. “Eles disseram que iriam me ligar assim que conseguissem um [oncologista], mas não me ligaram. Eu que fico ligando o tempo todo e não me dão resposta”.

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Ao entrar em contato com o hospital, a resposta é sempre a mesma: continue esperando. Então, ela questiona qual a data prevista para a contratação de um novo especialista. “A gente nem sabe se vai contratar”, diz a pessoa do outro lado da linha.

Regiane fez três ligações e, além disso, registrou queixa nas ouvidorias do hospital e da Secretaria Estadual de Saúde no dia 18 de fevereiro, via e-mail. Na última terça-feira (3), ela postou um vídeo no Instagram em que fala sobre sua situação.

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“Fiz o vídeo porque uma atendente falou ‘não sei quando vai ter [médico]’ e mandou eu procurar outro hospital que tenha oncologia, aí eu fiquei muito nervosa”, revela em entrevista ao R7.

“Estou completamente desassistida, sem acompanhamento de exames e efeitos colaterais de medicações”, desabafa em um trecho do vídeo.

“Isso é inadmissível, cruel e desumano. Hoje na ligação, ela me disse que não sabe quando vai ter e nem se vai ter um oncologista pra eu ser atendida. Desliguei o telefone chorando muito por me sentir tão pequena e tão pouco importante”, continua.

"O hospital está com uma oncologista e continuam atendendo alguns pacientes, mas tem muitos como eu, desassistidos", escreve na legenda da publicação em rede social.

Apesar da falta de assistência médica, ela consegue pegar os remédios de que precisa no hospital Heliópolis graças a receitas que Elza prescreveu antes de se aposentar. Mas vai precisar de uma nova prescrição em três meses. “Eu tenho uma receita reserva que ainda não usei”, lembra.

Mesmo assim, Regiane continua sentindo os efeitos do tempo que está sem orientação de um especialista. “Estou completamente estressada e desamparada. Eu tenho uma doença em estágio paliativo, e ficar sem acompanhamento me tira tempo de vida”.

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Ainda de acordo com ela, circula pelos corredores do Heliópolis a informação de que mais de 400 pessoas também estão em situação de abandono. Isso porque o oncologista José Carlos Malafaia Ferreira também se aposentou no mesmo período que Elza.

“Eu sei de paciente que está indo lá fazendo a troca de receita e carimbando, mas não é o oncologista”, acrescenta.

O que diz a lei?

A lei 8.080, de 19 de setembro de 1990 regula em todo o país as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços públicos e privados.

Ela garante, dentre outros direitos, o acesso ao conjunto de ações e serviços necessários para a promoção, proteção e recuperação da saúde.

"No caso da Regiane, o mais grave é o fato de o hospital não estar oferecendo para ela o mais básico, que é o atendimento médico. Ela é uma paciente com doença ativa e está sem equipe médica que a examine e peça exames", destaca Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.

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Outro lado

Questionada sobre a falta de assistência médica para Regiane, a Secretaria Estadual de Saúde informou, por meio de nota, que a paciente "possui consulta agendada para a próxima semana e será orientada sobre data e horário".

Regiane diz que foi avisada sobre a consuta na manhã desta sexta-feira (06/03), um dia após a reportagem entrar em contato com a secretaria para pedir explicações sobre o caso.

De acordo com a pasta, o hospital Heliópolis atende cerca 30 mil pacientes e realiza mais de mil consultas nos ambulatórios de oncologia a cada mês.

"A equipe de oncologia crescerá 50%, passando a contar com seis médicos da área, por meio da ampliação do contrato existente, prevista para esse mês. O atendimento aos pacientes com câncer está mantido e continuará sendo ofertado integralmente", finaliza.

O órgão não informou se o hospital estava ciente sobre a aposentadoria de Elza, por que não se programou para substituir a médica e o número total de pacientes que estão sem atendimento.

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