Em uma semana, Brasil teve mais casos de dengue do que acumulado de 21 países das Américas
Dados da Opas indicam 29.423 casos prováveis no Brasil entre 21 e 27 de julho, 14 mil a mais que o segundo país da lista
Saúde|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília
O Brasil registrou entre os dias 21 e 27 de julho deste ano mais casos prováveis de dengue do que o acumulado de 21 países das Américas, segundo dados da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). Naquela semana, foram 29.423 novos registros de infecções pela doença no país.
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Os casos registrados no Brasil superaram os dos seguintes países somados, que juntos tiveram 27.171 novas ocorrências:
- Honduras: 8.450
- Colômbia: 7.369
- Guatemala: 4.733
- Nicarágua: 1.941
- Panamá: 1.571
- Costa Rica: 977
- Peru: 745
- Paraguai: 454
- El Salvador: 270
- Bolívia: 194
- Trinidad e Tobago: 102
- Guiana Francesa: 94
- Guiana: 68
- Guadalupe: 50
- Estados Unidos: 50
- República Dominicana: 41
- Granada: 24
- Martinica: 24
- Ilhas Virgens: 10
- Barbados: 2
- São Bartolomeu: 2
Os números do Brasil também foram superiores à soma de Argentina (15.252) e México (12.121), que completam o top 3 de mais casos prováveis entre 21 e 27 de julho.
No total, 83.967 novos casos prováveis foram registrados em 24 países americanos neste intervalo de tempo. Na semana anterior, de 14 a 20 de julho, a Opas tinha contabilizado 70.874 novas ocorrências em 23 países.
A organização também apontou que o número de possíveis infectados teve uma redução no Brasil na comparação entre as duas semanas, passando de 32.581 para 29.423.
Dengue em 2024 no Brasil
A dengue é uma doença causada por vírus transmitidos, principalmente, pelo mosquito Aedes aegypti. Segundo o Ministério da Saúde, quase todas as mortes por dengue são evitáveis e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde.
O Brasil vive em 2024 o pior ano da dengue. O Ministério da Saúde contabilizou 6,4 milhões de ocorrências suspeitas registradas entre janeiro e 14 de agosto deste ano, mais do que o total de registros em cinco anos, entre 2019 e 2023 (6,1 milhão).
Até quarta-feira (14), o Brasil tinha registrado 5.085 mortes por dengue, o que indica uma média de 22 óbitos por dia. A maioria dos casos prováveis registrados foram em mulheres de 20 a 29 anos, que somam 636 mil. O Distrito Federal, Minas Gerais e Paraná são as unidades da federação com maiores incidências da doença.
Fatores que contribuem para a dengue
Segundo especialistas ouvidos pelo R7, fatores climáticos e diminuição de medidas para o combate ao mosquito podem estar entre os fatores que contribuíram para o aumento da doença no país. O médico infectologista Willian Mattiello explica que mudanças climáticas e o aumento na temperatura global favorecem a proliferação do mosquito.
“Um dos motivos que explicam essa proeminência do Brasil é o fato de ser o país de maior população comparado com nossos vizinhos. O crescimento populacional e urbanização não planejado ocasionam baixas condições saneamento, assim como armazenamento de água de formas inadequada, proporcionando criadouros do vetor e aumento os casos de dengue”, disse.
De acordo com a infectologista Joana D’Arc, a doença se comporta de forma sazonal, ou seja, com riscos de aumento no número de casos em determinadas épocas do ano. Entretanto, a especialista explica que o padrão da sazonalidade vem sofrendo alterações. “Tem um adiantamento de dois a três meses, dependendo da localidade, com aumento da doença em vários países”, disse.
A médica comentou, ainda, a questão das modificações sofridas pelo vírus que transmite a doença. Segundo D’Arc, a cepa responsável pelos casos no país seria “mais agressiva”, com uma maior capacidade de replicação e produção de casos mais graves.
A dengue está no grupo de doenças consideradas tropicais negligenciadas, como hanseníase, leishmaniose e doença de Chagas. Mattiello afirma que esse grupo de enfermidades é mais comuns em regiões de vulnerabilidades sociais, “onde a segurança da água, o saneamento e o acesso aos cuidados de saúde são precários”.
Vacina contra dengue
Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde incorporou a vacina contra a dengue no SUS (Sistema Único de Saúde), e o imunizante começou a ser aplicado em fevereiro deste ano. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.
Neste ano, o governo adquiriu todo o estoque de vacina contra a dengue disponível no mundo. Foram 5,2 milhões de doses compradas, além de 1,3 milhões de doses doadas pelo laboratório fabricante. Segundo o Ministério da Saúde, para 2025, o país deve ter à disposição 9,5 milhões de doses.
No último dia 12, o Instituto Butantan informou que a vacina desenvolvida em parceria com o NIH (Instituto Nacional de Saúde) dos Estados Unidos mostrou uma proteção de 89% contra dengue grave e dengue com sinais de alarme, além de eficácia e segurança prolongadas por até cinco anos. A eficácia geral do imunizante contra dengue sintomática foi de 67,3%, sendo 75,8% para o sorotipo DENV-1 e 59,7% para DENV-2.
Com o desenvolvimento da vacina, o ministério informou que o produto poderá aumentar a oferta de imunizantes à população.