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Especialistas: Lockdown pode controlar mortes e novas variantes

Bloqueio total funcionaria como barreira física para conter casos; surgimento de mutações está ligado à transmissão desenfreada

Saúde|Hysa Conrado, do R7

Araraquara, no interior de São Paulo, adotou o lockdown devido à lotação de leitos nas UTIs
Araraquara, no interior de São Paulo, adotou o lockdown devido à lotação de leitos nas UTIs

O país vive o pior momento da pandemia, com aumento de casos e mortes, chegando a registrar o recorde de 1.910óbitosem 24 horasna quarta-feira (3). O cenário acendeu a discussão sobre a necessidade ou não de um lockdown - bloqueio total de uma região pelo Estado ou Justiça, com restrição de circulação de pessoas em áreas públicas sem motivos emergenciais - como forma de tentar controlar o problema.

No Brasil, algumas cidades com UTIs lotadas estão em lockdown, como Araraquara, no interior de São Paulo, Uberlândia e outros municípios do Triângulo Norte e do noroeste de Minas Gerais. Vale ressaltar que existe uma diferença entre lockdown e a fase vermelha adotada no Estado de São Paulo, nível máximo de restrição, na qual é permitida a circulação de pessoas, abertura de escolas e atividades consideradas essenciais, como supermercados e farmácias. No lockdown apenas as atividades essenciais são permitidas.

Para o infectologista Francisco de Oliveira, médico do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, e segundo secretário do Departamento Científico de Infectologia da Associação Paulista de Medicina, o lockdown é a única saída para conter o avanço do coronavírus e evitar um colapso do sistema de saúde no Brasil".

De acordo com um boletim divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), 19 estados têm taxas de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) acima de 80%. Na rede particular de São Paulo (SP), pelo menos quatro dos principais hospitais já atingiram 100% da ocupação.

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“O que está acontecendo atualmente é uma situação inédita, porque até agora nesse mais de um ano de pandemia sempre houve uma prevalência muito grande da doença e de surgimento de novos casos, mas variando de um estado para outro. Hoje há uma uniformidade”, afirma Oliveira. Para ele, a situação no país está fora de controle e o lockdown seria necessário para frear a disseminação da doença e o surgimento de novas variantes do coronavírus.

Circulação de pessoas aumenta surgimento de variantes

O infectologista explica que o aparecimento de mutações do Sars-CoV-2 está diretamente relacionado a sua transmissão desenfreada. “A cada vez que o vírus se multiplica, ele tem uma chance de fazer uma cópia errada, uma mutação. Quanto mais pessoas transmitindo o vírus, a possibilidade dessa mutação potencializá-lo é maior, por exemplo, aumentando sua carga viral, que é a capacidade do vírus de se multiplicar e infectar mais pessoas”.

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O especialista chama a atenção para uma maior efetividade do lockdown se associado a um número maior de pessoas vacinadas contra o coronavírus. No entanto, de acordo com o Vacinômetro do R7, apenas cerca de 7 milhões de pessoas, o que corresponde a 3,35% dos brasileiros, foram imunizados, e apenas 1% recebeu a segunda dose das vacinas (CoronaVac ou vacina de Oxford).

“Não adianta fazer lockdown de final de semana, porque o vírus tem um tempo de incubação de até 14 dias. O ideal é que a saída do bloqueio coincida com um contingente alto de pessoas vacinadas, principalmente entre a população de maior vulnerabilidade”, diz Oliveira. Ele também cita o exemplo do Reino Unido, que está em lockdown desde janeiro deste ano e já vacinou mais de 20 milhões de pessoas, o que resultou em uma queda de 70% no risco de internação para idosos.

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Para Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede Análise COVID-19, apesar de ser uma medida importante a ser tomada, não é possível prever em números o quanto um lockdown reduziria o surgimento de novos casos e a quantidade de mortes por covid-19 no país. Isso porque, segundo explica, para que seja eficiente, o bloqueio precisa ter uma alta adesão por parte da população.

“O lockdown é um decreto, mas se as pessoas não pararem de sair de casa, de ir a festas clandestinas, em churrasco na casa do tio ou não usarem máscara, por exemplo, o tempo de bloqueio vai durar ainda mais”, avalia. O cientista destaca o lockdown adotado pela Itália no início da pandemia, quando o país passou a aplicar multas a quem furasse a quarentena e desrespeitasse as medidas de isolamento. Em Araraquara, a multa para quem furar o lockdown é de até R$ 6 mil.

Schrarstzhaupt explica que o lockdown, no atual cenário pandêmico, funcionaria como uma barreira física, já que o coronavírus passa de uma pessoa para a outra por meio do contato. “Tem que pensar que todo mundo está infectado e ficar isolado”, afirma. “A imunidade de rebanho ou comunitária vem por vacina, já o contágio faz com que o vírus possa se mutar, além de causar a morte de mais pessoas, deixar o sistema de saúde sobrecarregado, o que também atrapalha o atendimento relacionado a outras doenças”.

O cientista chama a atenção para a paralisação vivida no país entre março e abril do ano passado, quando a circulação de pessoas na rua diminuiu drasticamente e os comércios ficaram fechados. Na sua avaliação, o episódio não configura um lockdown e teria sido motivado pelo medo de contrair o coronavírus. “Efetivamente nunca tivemos uma medida que reduzisse o contágio pelo coronavírus no Brasil, a gente tentou conviver com o vírus”.

Para ele, medidas como o decreto de um lockdown deveriam ter sido tomadas desde outubro do ano passado, quando os casos da doença voltaram a crescer no país. “Fechar o comércio não é bom, então a gente quer que aconteça pelo menor tempo possível, quanto mais a gente demora para fazer, mais demora para voltar”, afirma. 

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