Jovens expostos à violência podem ter alterações no cérebro
Pesquisa feita com 60 adolescentes entre 9 e 13 anos em áreas violentas de Porto Alegre mostrou que empatia, memória e atenção são prejudicadas
Saúde|Deborah Giannini, do R7
A percepção social, como a empatia e o reconhecimento de emoções, está menos ativada no cérebro de jovens expostos à violência, enquanto o medo está mais ativado. A exposição à violência ainda afeta a memória e a atenção.
Isso é o que mostrou um estudo realizado pelo InsCer (Instituto do Cérebro) da PUC-RS, com apoio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), publicado na revista científica Developmental Science.
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A pesquisa faz parte do projeto VIVA – Vida e Violência na Adolescência, que investiga os impactos da violência no aprendizado e no desenvolvimento do cérebro de jovens brasileiros.
Participaram do estudo 60 moradores de bairros com os maiores índices de violência e vulnerabilidade de Porto Alegre entre 9 e 13 anos. Eles se inscreveram voluntariamente após convite feito em escolas.
A primeira trigem se deu a partir do chamado Questionário de Vitimização de Adolescentes (JVQ – Juvenile Victimization Questionnaire, na sigla em inglês) sobre a experiência com a violência. Entre os participantes selecionados, foram analisados o nível de cortisol, o hormônio do estresse, por meio de amostras de cabelo. Também foi observada a atividade cerebral durante a observação de expressões faciais (reconhecimento de emoções) por meio de ressonância magnética.
O estudo mostrou que o hemisfério direito do cérebro, responsável por reconhecer as emoções, foi pouco ativado. Ao mesmo tempo, o exame revelou uma maior ativação da amígdala, centro do médo no cérebro.
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A pesquisa ainda comprovou a relação entre exposição à violência e maiores níveis de cortisol no corpo, o que indica um maior nível de estresse.
"Cognição social envolve várias sub-habilidades importantes para a convivência, como a empatia. O que o estudo sugere é que as redes neurais que fazem essa percepção social estão menos ativadas nos adolescentes mais expostos à violência”, afirma o autor da pesquisa Augusto Buchweitz, professor da Escola de Ciências da Saúde da PUCRS e pesquisador do InsCer.
"Não se pode dizer se isso vai ter efeitos futuros, mas estudos mostram que esse tipo de funcionamento atípico pode aumentar o risco para transtornos de humor, por exemplo", completa.
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