Mosquito com bactéria que impede transmissão de vírus será testado
Com mais de 320 mil casos de dengue no país, Ministério da Saúde anuncia última etapa de testes de método que reduz capacidade do Aedes aegypti
Saúde|Do R7
No momento em que o número de casos de dengue no Brasil chega a 322 mil, com alta de 29% em duas semanas, o Ministério da Saúde anunciou a última etapa de testes de um método que pretende reduzir a capacidade de o Aedes aegypti de transmitir os vírus da dengue, zika e chikungunya.
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Conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo é feito a partir da inoculação do microorganismo Wolbachia nos Aedes, que, depois, são liberados no ambiente. Em outras etapas do trabalho, pesquisadores constataram que o mosquito "contaminado" pela Wolbachia perde parte da capacidade de transmitir vírus durante a picada.
"Até agora, experimentos foram feitos no Rio e Niterói, com resultados promissores", afirmou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira. A última etapa será feita nas cidades de Petrolina (PE), Belo Horizonte e Campo Grande (MS) - cidade do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. "Foi uma coincidência", afirmou Kleber de Oliveira. A escolha, completou, foi norteada por critérios técnicos, que levaram em conta os dados epidemiológicos, as características geográficas do local e dados populacionais.
As três cidades apresentaram grande número de casos da doença e há infestação importante do mosquito. "Em Campo Grande, há uma estrutura da Fiocruz. O Estado apresentou um aumento significativo de casos de dengue em relação ao ano passado", disse. Este ano, o Estado tem 368 casos por 100 mil habitantes, a maior relação das unidades do Centro-Oeste.
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A intenção dos pesquisadores é de liberar os mosquitos contaminados pela Wolbachia no ambiente por meio de drones. Esta etapa terá início no próximo semestre e deverá durar três anos. O Ministério da Saúde vai investir R$ 22 milhões. A ideia será selecionar uma cidade em cada região do País. Na região Norte, a expectativa é de que seja escolhida a capital do Amazonas, Manaus.
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A Wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos. O Aedes aegypti não apresenta o microorganismo. Pesquisadores devem observar nesta nova etapa qual será o comportamento do mosquito. Entre as metas está avaliar se eles vão se tornar predominantes no ambiente. Se tal hipótese se concretizar, há uma possibilidade de o número de casos da doença ser reduzido.
Zika
Em 2016, quando o País ainda estava em Emergência Nacional em Saúde Pública para Zika, pesquisadores da Fiocruz comprovaram que a bactéria Wolbachia, quando presente no Aedes aegypti, era capaz de reduzir a transmissão do vírus, que está relacionado a microcefalia em bebês e casos de Guillain-Barré. A pesquisa mostrou ainda que a Wolbachia também reduz a replicação do zika no organismo do mosquito.
O estudo usou dois grupos de mosquitos Aedes: um com Wolbachia, criados em laboratório pela equipe do projeto, e outro sem a bactéria, coletados no Rio de Janeiro. Eles foram alimentados com sangue humano contendo cepas de zika isoladas em São Paulo e Pernambuco.
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Depois de 14 dias, os pesquisadores coletaram amostras da saliva desses mosquitos e infectaram 160 insetos coletados na natureza. Nenhum dos 80 mosquitos que recebeu saliva de Aedes com Wolbachia se infectou com o vírus da zika. Já no grupo que recebeu a saliva dos mosquitos sem a bactéria, 85% dos insetos ficaram "altamente infectados".
Em outra etapa, os mosquitos que receberiam a saliva contaminada pelo zika é que foram divididos entre os sem Wolbachia e os com a bactéria. Quatorze dias depois, período em que o vírus já teria se espalhado pelo organismo do inseto e chegado à glândula salivar, 45% dos mosquitos com Wolbachia tinham o vírus, ante 100% do outro grupo.
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