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Mulher luta contra câncer em estágio avançado: “Qualquer dia extra com meu filho é o que importa”

Janaína Carneiro da Silva participou de pesquisa após ser diagnosticada com tumor no pulmão

Saúde|Dinalva Fernandes, do R7

Janaína foi diagnosticada com câncer de pulmão em estágio 4 no ano passado
Janaína foi diagnosticada com câncer de pulmão em estágio 4 no ano passado Janaína foi diagnosticada com câncer de pulmão em estágio 4 no ano passado

Aos 40 anos, a professora universitária Janaína Carneiro da Silva vivia uma das fases mais ativas de sua vida. Moradora de Porto Alegre (RS), ela havia sido aprovada num programa de doutorado e aproveitava o tempo livre com o marido e o filho pequeno. Porém, no intervalo de uma semana, a rotina atribulada foi substituída por internações e pelo diagnóstico definitivo: câncer de pulmão em estágio avançado.

Era outubro de 2015. Janaína percebeu um inchaço no ombro esquerdo e procurou um médico.

— Ele disse que não era nada. Disse que eu estava muito estressada e que era para tomar passiflora [usada para tratar insônia e ansiedade].

Ainda preocupada, já que sua mãe havia morrido anos antes de câncer linfático, Janaína procurou uma amiga médica que recomendou que ela fizesse diversos exames, entre eles tomografia. A preocupação aumentou ainda mais depois que o médico responsável pelo exame lhe fez várias perguntas sobre seu estilo de vida.

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A professora fumou durante 13 anos, mas há quatro estava sem cigarro e praticava exercícios físicos. Três dias depois, numa tarde em casa com o filho, ela começou a sentir falta de ar e foi para um hospital próximo.

Após o atendimento, ninguém sabia o que Janaína tinha e chegaram a cogitar tuberculose e pneumonia. A paciente fez uma bateria de exames e recebeu o diagnóstico: câncer de pulmão em estágio 4, com metástase na coluna, costas e fêmur. Além disso, um de seus pulmões não funcionava mais e o outro estava infeccionado.

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— Foi quando eu tive maior risco [de morte], com pouca probabilidade de melhora ou cura. Fiz quimioterapia e radioterapia sem esperança de que iria funcionar. Eu sabia que não ia viver muito e nem esperava isso, já que a minha mãe e minha avó morreram muito novas. Mas receber o diagnóstico assim aos 40 anos foi muito duro.

A professora passou por sessões de quimioterapia de novembro a março, quando a equipe médica responsável pelo tratamento propôs que ela participasse de um protocolo de pesquisa para afatinibe. A droga é usada em alguns tratamentos de câncer de pulmão com determinado tipo de mutação. Esse era o caso de Janaína.

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— Eu acabei tendo a oportunidade de usar o remédio, mas não sabiam se daria certo, tampouco se seria eficaz no meu caso. Eu já fazia quimioterapia e passava por momentos muito ruins, com náuseas e vômitos. Então foi bom [já no início da medicação], porque não tive muitos efeitos colaterais, como a perda de cabelo.

Terapia-alvo

A afatinibe é usada em terapia-alvo, que é o tipo de tratamento que usa princípios ativos para identificar e atacar especificamente as células cancerígenas, provocando poucos danos às células normais. De acordo com o oncologista diretor geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, do Hospital Beneficência Portuguesa, e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Albert Einstein, Antonio Carlos Buzaid, a afatinibe é uma nova droga que atua na inibição da doença, em casos de pacientes com mutação no gene EGFR.

— Alguns estudos mostram que [o remédio] atua com redução de 27% na progressão da doença e aumento de 25% na resposta ao tratamento. Não é possível curar tudo. É um avanço considerado modesto, mas se consegue controlar [a doença] por mais tempo.

A medicação poderia beneficiar 3.000 pacientes, ou seja, cerca de 10% do total no Brasil. Atualmente, o remédio está disponível em 70 países, como na Alemanha desde 2013 e, desde outubro, também no País.

Os resultados apareceram rápido para Janaína e o tumor no pulmão diminuiu de 12 cm para 5 cm. Para ela, cada sacrifício feito até agora valeu a pena.

— O meu cenário era de que eu iria morrer em muito pouco tempo. Eu tenho um filho de sete anos. Qualquer dia extra que eu posso ficar com ele é o que importa.

Atualmente, Janaína toma o medicamento, morfina e algum remédio quando tem diarreia, que é um dos possíveis eleitos colaterais do remédio. Depois do diagnóstico, a professora também adotou outros hábitos, como parar de comer carne.

— Hoje eu respiro normalmente pelos dois pulmões, não sinto mais falta de ar, faço todas as minhas coisas do dia a dia e em nenhum momento deixei de trabalhar.

Câncer de pulmão — o mais letal

Do total de mortos por câncer, 18,2% são diagnosticadas com câncer de pulmão, que o tipo mais letal e um dos mais comuns. Estimativa do INCA (Instituto Nacional do Câncer) prevê 28.220 novos casos do País em 2016. A cada ano, mais pessoas morrem de câncer de pulmão do que de câncer colorretal, de mama e próstata juntos.

As causas de qualquer câncer são genéticas e ambientais (que são mais significativos), como fumo, obesidade, sedentarismo, carne vermelha — principalmente a processada—, radiação, poluição etc. No caso de câncer de pulmão, 90% dos pacientes fumam ou já fumaram.

Os sintomas mais comuns da doença são tosse, dor no peito, rouquidão, perda de apetite, falta de ar, fadiga e tosse com sangue. De acordo com o oncologista, grande parte dos pacientes com câncer de pulmão morre porque o diagnóstico geralmente é tardio.

— A maioria dos pacientes com câncer de pulmão morrem porque quando sentem os sintomas o tumor já está grande. Por isso que hoje se recomenda para pacientes fumantes fazerem tomografia anual como prevenção para descobrir [o câncer] no início. O risco de desenvolver a doença diminui consideravelmente quando a pessoa para de fumar.

Tratar doente com câncer como “coitadinho” só prejudica o paciente

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