Tontura aguda e persistente tem nome e quase nunca é labirintite
Segundo neurologistas, labirintite é rara e grave; cerca de 70% dos casos de vertigem são, na verdade, vertigem posicional paroxística benigna, ou VPPB
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Muita gente quando sente tontura logo relaciona o problema com labirintite. Em pronto-socorros e até consultórios médicos, acaba-se confirmando (erroneamente) esse diagnóstico. Mas, na maioria dos casos, o nome é outro: vertigem posicional paroxística benigna.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), um terço da população em todo o mundo sofre de algum tipo de tontura. As causas são as mais diversas.
O médico neurologista Saulo Nader, do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, também conhecido como Doutor Tontura, explica que "a labirintite real quase não acontece".
"É uma infecção grave do labirinto por bactéria ou vírus, muitas vezes ligadas a complicações de meningite grave", afirma.
Ele explica que cerca de 70% dos casos de vertigem (subtipo de tontura em que a pessoa sente que está girando ou balançando) são, na verdade, vertigem posicional paroxística benigna, ou VPPB. "Eu brinco que é a labirintite dos cristais soltos."
O neurologista Daniel Ciampi, do Hospital Sírio-Libanês, acrescenta que o equilíbrio de uma pessoa depende do sistema vestibular, conjunto de órgãos do ouvido interno. Quando há uma disfunção, ocorre a vertigem.
"Um dos sistemas nas orelhas responsável pela sensação de movimento — para cima, para baixo, para os lados — é composto por microcristais de cálcio. Pode acontecer de eles se soltarem e caírem em em outro sistema, que dá informações sobre movimentos angulares e funciona como um gel que encosta nas células para existir a percepção de angulação."
Segundo ele, quando isso ocorre, "um simples movimento com a cabeça pode fazer a pessoa sentir que está dando uma cambalhota".
O diagnóstico é feito com base nos sintomas descritos pela pessoa e o tratamento não requer o uso de medicamentos, explica Nader, que também integra o Departamento Clínico de Distúrbios Vestibulares e do Equilíbrio da Academia Brasileira de Neurologia.
"Costumo falar que é a única situação em que o médico, literalmente, cura o paciente com a mão. São feitas manobras no consultório com a cabeça para reposicionar esses cristais. Mais de 90% das pessoas melhoram no primeiro atendimento."
Quando não tratada, a VPPB vai persistir, alternando entre crises e períodos de melhora.
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Outras causas de tontura
Não diagnosticar corretamente a causa da tontura faz com que pacientes tenham que conviver com esse problema por muito tempo ou até permanentemente.
"Por trás do que os médicos chamam de labirintite, existem mais de 30 doenças com nomes e tratamentos totalmente diferentes. Isso é perigoso, porque muita gente que tem essa doença apelidada de labirinte está com outra doença que não é diagnosticada", observa Nader.
"Existe uma outra família de problemas que são tonturas ou instabilidades de equilíbrio relacionada a doenças de outras áreas do corpo. A sensação de tontura pode vir de uma queda de pressão, por exemplo. Às vezes a pessoa se refere como tontura e está tendo algo até mais grave, pode ser algo como um derrame, que pode ter uma lesão no cérebro", afirma o Daniel Ciampi, com a recomendação para que as pessoas sempre procurem um médico em casos de tontura.
Além disso, também podem provocar tonturas a queda do nível de glicemia no sangue, anemia, desidratação, uso de determinados medicamentos, ou até mesmo doenças neurológicas.
Pacientes que sofrem de ansiedade costumam relatar tonturas durante as crises. Mas ela pode ser permanente em um caso chamado de tontura perceptual ou vertigem fóbica.
"É um distúrbio químico no cerebelo e isso leva a pessoa a ter muita tontura e desequilíbrio. E aí a tontura piora muito a ansiedade e a ansiedade piora a tontura", complementa Saulo Nader.
Um estudo de 2015 da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) relacionou a ansiedade à tontura.
Em entrevista à Agência Fapesp, a coordenadora da pesquisa, professora Roseli Saraiva Moreira Bittar, afirmou que esses são casos em que a doença labiríntica funciona como um gatilho para um distúrbio do equilíbrio impossível de ser diagnosticado e tratado pelos métodos convencionais.
Segundo ela, quando o gatilho é acionado, qualquer estimulo, seja motor, emocional ou situacional pode gerar ansiedade e medo e causar tontura.
A sensação de estar flutuando pode ocorrer em qualquer posição. O tratamento para esses casos é feito com antidepressivos, conclui Nader.
"O diagnóstico, obviamente, não é definitivo. É preciso um atendimento médico presencial, exames neurológicos e muitas vezes até exames complementares para um diagnóstico preciso", alerta.
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