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Tecnologia e Ciência

Estados americanos afirmam que a Meta de Mark Zuckerberg é um risco às crianças

Ações judiciais refletem preocupações de que crianças e adolescentes podem ser assediados e intimidados nas redes sociais

Tecnologia e Ciência|Natasha Singer, do The New York Times

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, dona do Facebook, e sua equipe, na intenção de conquistar os usuários mais jovens, enganou o público em relação aos riscos Ilustração de Pablo Delcan/The New York Times; fotografia de Kenny Holston/The New York Times

Em abril de 2019, David Ginsberg, executivo da Meta, enviou um e-mail ao seu chefe, Mark Zuckerberg, propondo pesquisar e reduzir a solidão e o uso compulsivo do Instagram e do Facebook.

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No texto, Ginsberg observou que a empresa enfrentava escrutínio quanto aos impactos de seus produtos, “especialmente em relação ao uso problemático/vício e aos adolescentes”, e solicitou a Zuckerberg 24 engenheiros, pesquisadores e outros funcionários.

Uma semana depois, Susan Li, agora diretora financeira da empresa, informou Ginsberg de que o projeto não tinha sido financiado por causa de restrições de pessoal. Adam Mosseri, diretor do Instagram, também acabou se recusando a financiar o projeto.

As trocas de e-mails são apenas uma parte das provas citadas em mais de uma dúzia de ações judiciais movidas desde o ano passado pelos procuradores-gerais de 45 estados norte-americanos e do Distrito de Colúmbia. Estes acusam a Meta de encurralar adolescentes e crianças no Instagram e no Facebook, além de enganar o público sobre os perigos. Usando uma abordagem judicial coordenada, os procuradores-gerais buscam obrigar a Meta a reforçar as proteções para menores de idade.


Uma análise dos processos judiciais dos estados feita pelo “The New York Times” – incluindo cerca de 1.400 páginas de documentos da empresa e correspondência apresentada como prova pelo estado do Tennessee – mostra como Zuckerberg e outros líderes da Meta anunciaram repetidamente a segurança das plataformas da empresa, minimizando os riscos para os jovens, ao mesmo tempo que rejeitaram os pedidos dos funcionários para reforçar as proteções aos jovens e contratar mais funcionários.

Em entrevistas, os procuradores-gerais de vários estados que estão processando a Meta afirmaram que a empresa de Zuckerberg promoveu o envolvimento dos usuários à custa do bem-estar das crianças. “Muitas dessas decisões passaram pela mesa de Zuckerberg, de modo que ele precisa ser questionado e responsabilizado explicitamente pelas decisões que tomou”, disse Raúl Torrez, procurador-geral do Novo México.


As ações judiciais estaduais contra a Meta refletem preocupações crescentes de que os adolescentes e as crianças possam ser sexualmente aliciados, assediados, intimidados e envergonhados nas redes sociais, bem como induzidos por algoritmos ao uso compulsivo.

A porta-voz da Meta, Liza Crenshaw, declarou em um comunicado que a empresa está comprometida com o bem-estar dos jovens e que tem muitas equipes e especialistas dedicados às experiências desse grupo demográfico, acrescentando que a Meta desenvolveu mais de 50 ferramentas e recursos de segurança para jovens, incluindo a limitação de conteúdo impróprio para a idade e a restrição do recebimento de mensagens diretas de pessoas que os adolescentes menores de 16 anos não estejam seguindo. “Queremos garantir a todos os pais que temos seus interesses em mente no trabalho que estamos fazendo para ajudar a proporcionar aos adolescentes experiências seguras on-line. As ações judiciais dos estados descaracterizam nosso trabalho, usando citações seletivas e documentos específicos”, afirmou Crenshaw.


Segundo documentos internos da empresa, a Meta há muito tempo vem buscando maneiras de atrair e reter os adolescentes, que são uma parte essencial da estratégia de crescimento da empresa,

Eles se tornaram um foco importante para Zuckerberg já em 2016, de acordo com a denúncia do Tennessee, quando a empresa ainda era conhecida como Facebook e possuía aplicativos como o Instagram e o WhatsApp. Naquela primavera, uma pesquisa anual com jovens feita pelo banco de investimentos Piper Jaffray informou que a popularidade do Snapchat, aplicativo de mensagens temporárias, havia ultrapassado a do Instagram.

Ainda naquele ano, o Instagram lançou um recurso semelhante de compartilhamento de fotos e vídeos temporários, o Instagram Stories. Segundo a denúncia do Tennessee, Zuckerberg orientou os executivos a se concentrarem em fazer com que os adolescentes passassem mais tempo nas plataformas da empresa.

“A meta geral da empresa é o tempo total gasto pelos adolescentes”, escreveu um funcionário, cujo nome foi suprimido, em um e-mail para executivos em novembro de 2016, de acordo com a correspondência interna apresentada como prova no caso do Tennessee. O e-mail acrescentou que as equipes participantes devem aumentar o número de funcionários dedicados a projetos para adolescentes em pelo menos 50 por cento, observando que a Meta já tinha mais de uma dúzia de pesquisadores analisando o mercado jovem.

‘Problemas mais extremos’

Em abril de 2017, Kevin Systrom, CEO do Instagram, enviou um e-mail a Zuckerberg solicitando mais funcionários para trabalhar na mitigação dos danos aos usuários, de acordo com a denúncia do Novo México.

Zuckerberg respondeu que incluiria o Instagram em um plano para contratar mais funcionários, mas disse que o Facebook enfrentava “problemas mais extremos”. Na época, legisladores criticavam a empresa por não ter conseguido impedir a desinformação durante a campanha presidencial de 2016 nos EUA.

A Meta declarou que uma equipe do Instagram desenvolveu e introduziu medidas de segurança e experiências para jovens usuários. Quando perguntaram à empresa se Zuckerberg havia fornecido a equipe adicional solicitada, não houve resposta.

Em janeiro de 2018, Zuckerberg recebeu um relatório estimando que havia quatro milhões de crianças com menos de 13 anos no Instagram, de acordo com uma ação movida por 33 estados em um tribunal federal.

Os termos de uso do Facebook e do Instagram proíbem usuários menores de 13 anos. Mas, segundo a denúncia da ação, o processo de registro de novas contas da empresa permitia que as crianças mentissem facilmente sobre sua idade. Os estados alegam que as práticas da Meta violaram uma lei federal de privacidade infantil na internet, que exige que determinados serviços obtenham o consentimento dos pais antes de coletar dados pessoais, como informações de contato, de crianças menores de 13 anos.

Raúl Torrez, procurador-geral do Novo México, um dos envolvidos no processo contra a Meta Greg Kahn/The New York Times - 30.01.2024

Em março de 2018, o “Times” noticiou que a Cambridge Analytica, empresa especializada em perfis de eleitores, havia coletado secretamente os dados pessoais de milhões de usuários do Facebook. Isso desencadeou uma análise mais minuciosa das práticas de privacidade da empresa, incluindo aquelas que envolvem menores de idade.

No mês seguinte, Zuckerberg testemunhou em uma audiência no Senado: “Não permitimos que pessoas com menos de 13 anos usem o Facebook.” Mas procuradores-gerais de dezenas de estados discordam.

Em sua declaração, a Meta garantiu que o Instagram empregava medidas para remover contas de menores de idade quando as identificava. A Meta afirmou que removia regularmente centenas de milhares de contas que não podiam provar que atendiam aos requisitos de idade da empresa.

Em 2021, a Meta começou a planejar um novo aplicativo social, que seria voltado especificamente para crianças e se chamaria Instagram Kids. Em resposta, 44 procuradores-gerais escreveram uma carta em maio pedindo a Zuckerberg que “abandonasse esses planos”. “O Facebook tem falhado historicamente em proteger o bem-estar das crianças em suas plataformas”, dizia a carta. Posteriormente, a Meta suspendeu os planos para o aplicativo Instagram Kids.

Em agosto, os esforços da empresa para proteger o bem-estar dos usuários se tornaram “cada vez mais urgentes” para a Meta, de acordo com outro e-mail enviado a Zuckerberg e apresentado como prova no caso do Tennessee. Nick Clegg, agora diretor de assuntos globais da Meta, alertou seu chefe sobre as crescentes preocupações dos órgãos reguladores em relação ao impacto da empresa sobre a saúde mental dos adolescentes, incluindo “possíveis ações legais por parte de órgãos estaduais”. Descrevendo os esforços da Meta para o bem-estar dos jovens como “carentes de estrutura e de mão de obra”, Clegg solicitou financiamento para 45 funcionários, incluindo 20 engenheiros.

Sem respostas

Em novembro de 2021, ainda não tendo recebido resposta de Zuckerberg à sua solicitação de mais funcionários, Clegg enviou um e-mail de acompanhamento com uma proposta reduzida, segundo os autos do tribunal do Tennessee. Pediu 32 funcionários, nenhum deles engenheiro.

Alguns dias depois, Li, a executiva de finanças, respondeu dizendo que se submeteria a Zuckerberg e sugerindo que o financiamento era improvável, de acordo com um e-mail interno registrado no processo do Tennessee. A Meta não informou se a solicitação havia sido atendida.

No último outono setentrional, o Match Group, proprietário de aplicativos de namoro como o Tinder e o OKCupid, descobriu que os anúncios que a empresa havia colocado nas plataformas da Meta estavam sendo veiculados ao lado de conteúdos violentos e sexualizados “altamente perturbadores”, alguns deles envolvendo crianças, segundo a denúncia do Novo México. A Meta removeu algumas das postagens sinalizadas pelo Match, informando o gigante do namoro de que “o conteúdo violador pode não ser detectado em uma pequena porcentagem das vezes”, conforme consta na denúncia.

Insatisfeito com a resposta do Meta, o CEO do Match Group, Bernard Kim, entrou em contato com Zuckerberg por e-mail, alertando que sua empresa não poderia “fechar os olhos”, de acordo com a denúncia, que também registrou que Zuckerberg não respondeu ao e-mail de Kim.

A Meta afirmou ter passado anos desenvolvendo tecnologia para combater a exploração infantil.

No mês passado, um juiz negou a petição da Meta para arquivar o processo no Novo México. Mas o tribunal atendeu a um pedido de Zuckerberg, que havia sido citado como réu, para retirá-lo do caso.

c. 2024 The New York Times Company

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