Um perfil no Instagram está vendendo abertamente “cartões de terceiros”, ou seja, cartões de crédito que estão no nome de outras pessoas. Não se trata de clonagem, em que o cartão de uma vítima é duplicado, mas do uso indevido de dados pessoais.
Para alcançarem um número maior de vendas, os criminosos fizeram até mesmo um post patrocinado. Esse é um recurso pago do Instagram que direciona uma publicação a usuários que podem ter mais interesse em determinado produto ou serviço.
No vídeo obtido pelo R7, dezenas de cartões e várias máquinas para pagamento são exibidos em uma mesa enquanto o suposto vendedor faz a propaganda: “Quem quiser pegar o cartão de terceiros é só chamar no privado. Eu trabalho na transparência, mostrando meu nome, meu número, a data e meu material”.
Sem nenhuma cerimônia, uma tabela de preços foi postada no perfil no dia 23 de agosto. O limite mínimo oferecido é de R$ 2.000, que sai por R$ 450. Já para ter R$ 9.000 para gastar, a pessoa precisa desembolsar R$ 1.500.
Em outro vídeo, o criminoso ensina como funciona o esquema: "O cartão chega na casa do cliente já com a senha e desbloqueado. Depois é só estourar o limite e descartar".
Para tentar atrair mais interessados, vídeos de supostos clientes também são postados. “Confia! O cara é firmeza, promete e cumpre”, diz um homem que está segurando um cartão sem nem mesmo esconder o rosto. A publicação teve mais de 750 visualizações.
Existe uma alternativa para quem não quiser receber um cartão, mas ter apenas o dinheiro na conta. Nesse caso, é feita uma transação em uma maquininha e na sequência é solicitada a antecipação do valor à empresa que administra o serviço. A quantia é enviada por Pix.
Outro vídeo mostra uma grande quantidade de notas de R$ 50 e R$ 100 enquanto uma voz feminina diz: “Acabei de sacar meu Pix de R$ 6 mil. Muito obrigada”. A postagem, feita em 13 de setembro, teve mais de mil visualizações.
"A estratégia mais provável é que esses criminosos tenham usado o número do RG e do CPF de outras pessoas para abrir contas-laranja e fazer a emissão desses cartões com o próprio banco”, explica Spencer Sydow, presidente da Comissão de Direito Digital da OAB-SP.
Dados divulgados pelo Dfndr lab, laboratório de cibersegurança da PSafe, revelam que mais de 4,6 bilhões de credenciais foram vazadas somente nos seis primeiros meses de 2021. Nesse ritmo, o Brasil registra uma média de um golpe financeiro a cada seis segundos.
Segundo Spencer, o golpe da venda de cartões de terceiros faz três vítimas: o banco, a operadora de cartão de crédito e a pessoa que teve os dados utilizados para abrir a conta.
Além dos envolvidos no esquema, os clientes podem ser responsabilizados. “A pessoa que compra esse cartão está cometendo o crime de estelionato, ou seja, um golpe para obter uma vantagem patrimonial”, diz Sydow. "Quem compartilha um vídeo utilizando esses cartões ou sacando o dinheiro no caixa eletrônico também está cometendo um crime, o de apologia ao crime", completa.
Procurada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse não ter “registros de fraudes junto aos clientes bancários nos moldes da situação relatada”. A empresa cita que “uma prática comum de estelionato é prometer a venda de algum produto, com o pedido de antecipação de pagamento, e sem a entrega do suposto item vendido”. No caso citado pelo R7, a entidade reforça que quem tenta comprar os cartões anunciados pelos golpistas “também estão cometendo crime.
Já o Instagram afirmou que removeu a conta citada pela reportagem. "Manter uma experiência positiva para as pessoas no Instagram é nossa prioridade. Atividades fraudulentas prejudicam toda a nossa comunidade e não têm lugar na plataforma. Possuímos diferentes sistemas para identificar e remover atividades suspeitas antes que elas cheguem às pessoas e estamos comprometidos a melhorá-los continuamente. Encorajamos as pessoas a denunciarem quaisquer contas ou atividades suspeitas que encontrem no Instagram por meio das nossas ferramentas de denúncia."