Reconhecimento facial com máscara é desafio para usuários e empresas
Especialista explica que falhas de leitura continuam ocorrendo mesmo ao tentar enganar a tecnologia e recadastrar rosto coberto
Tecnologia e Ciência|Caio Sandin, do R7
Acessório indispensável na pandemia do novo coronavírus, a máscara tem causado problemas para quem usa o reconhecimento facial para desbloquear o smartphone.
O professor Marcio Andrey Teixeira do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo) e membro do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos) explica como essa tecnologia funciona e o motivo dessa nova dificuldade.
"Após detectar a presença de um rosto, o software vai extrair as informações características da face, que nada mais são do que pontos específicos do rosto, como distância entre os olhos, tamanho da boca, largura do nariz entre outras tantas medidas".
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Mas esta tecnologia precisa ser treinada antes de conseguir detectar um rosto específico, conta o professor. Por isso o celular pede para que se cadastre o rosto, girando a cabeça e fazendo algumas expressões faciais.
"Como este arquivo é gerado analisando toda a face, quando se cobre parte do rosto com a máscara, principalmente o nariz, ele não consegue identificar", explica Teixeira.
"Jeitinho" dos usuários
Para driblar essa dificuldade, algumas pessoas deram o famoso jeitinho para manter a comodidade de um desbloqueio quase automático. Um dos truques consiste em apagar o registro de face gravado no celular e fazer um novo escaneamento simulando o uso do equipamento de proteção e esconder metade da boca e do nariz e depois a outra metade antes de finalizar o cadastro.
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"Podem ocorrer muito mais erros, principalmente nos momentos em que você estiver sem a máscara. Como todo o rosto é escaneado, no momento em que o sistema detectar os pontos da boca e do nariz, as chances de falhar aumentam muito. É uma gambiarra, na realidade", afirma Teixeira sobre a técnica de cadastrar novamente a face.
Um método mais refinado desenvolvido por uma empresa norte-americana é o de imprimir a parte inferior do rosto das pessoas em uma máscara. A fundadora diz, no próprio site da empresa, que a ideia começou como uma brincadeira, mas se tornou um produto sério.
Apesar da alta demanda, a máscara personalizada ainda não está disponível para compra, mas há uma lista de espera para os que desejam o produto e têm R$ 214 (US$ 40) disponíveis para gastar.
Falhas ou atualizações
Segundo o professor, atualizações devem ser lançadas para corrigir esses problemas de reconhecimento, mas deve levar algum tempo para atingir a precisão de 95% que as fabricantes buscam antes de lançar uma atualização para o público.
Enquanto isso, alguns usuários de aparelhos de marcas chinesas, como Xiaomi e OnePlus, relatam nas redes sociais que seus celulares continuam detectando a face e desbloqueando normalmente, mesmo com o uso da máscara.
"O algoritmo utilizado pelas marcas pode reconhecer mais pontos na parte dos olhos e da testa, e isso pode ter ocorrido após uma atualização, por conta da pandemia. Por outro lado, isso pode representar uma falha no reconhecimento, já que, seguindo algoritmos mais usuais, o rosto não deveria ser reconhecido ao se tampar boca e nariz".
A dica do especialista é optar por recursos disponíveis em diversos aparelhos e que mantêm alto grau de segurança, como a leitura da impressão digital ou da íris do olho. A única ressalva é que os olhos castanhos podem ser lidos pelo celular em uma foto, o que pode levar a fraudes.
Para Teixeira, este é um momento que vai marcar as pesquisas de identificação, não só para uso em celulares como em diversas outras áreas. "Nem se pensava nessa questão da cobertura do rosto, já que muitos lugares proibiam a entrada desta forma. Mas, a partir de agora, todos os modelos de reconhecimento vão ter de ser 'retreinados' e os pesquisadores terão de focar em pontos da face que a máscara não tampe", conclui.
O R7 entrou em contato com o Google, com a Xiaomi e com a Oneplus, mas não obteve respostas até a publicação deste texto.
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