Ventilador pulmonar desenvolvido na USP começa a ser utilizado
Instituto do Coração do Hospital das Clínicas recebeu 10 unidades do INSPIRE; desenvolvimento durou 4 meses e envolveu mais de 200 pesquisadores
Tecnologia e Ciência|André Julião, da Agência FAPESP
Chegam nesta quinta-feira (16) ao Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) as primeiras 10 unidades do INSPIRE, ventilador pulmonar de baixo custo desenvolvido na Escola Politécnica (Poli) da USP em parceria com a FM-USP. O desenvolvimento durou quatro meses e envolveu mais de 200 pesquisadores.
O anúncio foi realizado em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes nesta quarta-feira (15). “É uma grande conquista, uma grande vitória”, disse o governador João Doria durante a coletiva.
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“Isso foi possível não apenas porque foi um trabalho árduo de quatro meses, de quase 200 pesquisadores, mas porque o Governo do Estado de São Paulo confia, apoia e financia seus centros de ensino e pesquisa. É importante destacar que os participantes desse projeto são pesquisadores que se dedicam a esse tema e a outros similares há décadas. Por isso, quando a sociedade necessitou, felizmente conseguimos, em um espaço de tempo muito pequeno, colocar o equipamento à disposição”, disse Vahan Agopyan, reitor da USP.
No total, 40 pacientes deverão utilizar os respiradores neste estudo-piloto, autorizado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A equipe cumpre as últimas exigências para liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção do ventilador pulmonar.
“Deve ser um processo de um mês e durante esse tempo estamos cumprindo as últimas exigências da Anvisa. Estamos nos preparando para uma produção de 10 a 20 respiradores por dia”, disse Raul Gonzalez Lima, professor da Poli-USP e coordenador do projeto. Os respiradores são montados nas instalações da Marinha do Brasil em São Paulo.
Lima trabalha há cerca de 20 anos no desenvolvimento de tecnologias que possibilitam monitorar e otimizar a ventilação artificial em pacientes em tratamento intensivo. Com o monitoramento, busca-se minimizar os efeitos colaterais e diminuir o tempo de dependência da ventilação mecânica.
“A USP é uma universidade pública e de pesquisa e tem como uma de suas missões a transferência de tecnologia e de conhecimento. O resultado que estamos inaugurando tem agregado um conteúdo resultante de 20 anos de pesquisas na área pulmonar, de uma cooperação entre várias unidades da USP”, disse o pesquisador.
Lima destacou ainda que, para que o tratamento seja eficaz, as especificações de um ventilador pulmonar devem ser muito precisas. Por isso a importância da parceria com o grupo liderado por Carlos Carvalho, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro do Centro de Contingência do Coronavírus.
“Nessa epidemia, uma UTI bem constituída, com profissionais treinados, é o que consegue manter o indivíduo vivo pelo tempo necessário para que ele produza os anticorpos contra o vírus. Para tratar a insuficiência respiratória, a alternativa é a ventilação mecânica. Fizemos testes-piloto, o ventilador se mostrou adequado e, a partir de amanhã, vamos iniciar a pesquisa em 40 pacientes, que deve ser concluída em três ou quatro semanas”, disse Carvalho.
“É mais uma vitória da academia e da ciência e reforça o compromisso do Estado de São Paulo com a ciência e a tecnologia. São iniciativas como esta que podem, de fato, fazer a diferença e que colocam São Paulo em outro patamar de compromisso no enfrentamento do coronavírus”, disse Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado.
Custo de produção
Lima esclareceu que o custo de produção, antes estimado em R$ 1 mil, subiu devido à alta do dólar e à adição de novos componentes para atender a mudanças na legislação. As estimativas agora variam de R$ 5 mil a R$ 10 mil.
O governador João Doria acrescentou que, assim que o equipamento passar a ser produzido em larga escala, deve pedir a isenção de impostos para quem fabricá-lo.
“Neste momento ele [INSPIRE] é fruto de doações, não há nenhum imposto federal ou estadual. Havendo a produção em escala, vamos enviar projeto de lei à Assembleia Legislativa – não é uma decisão do Executivo – e ela deve validar a isenção do imposto. Deve ser feito tão logo entre em ritmo de [produção em] escala”, afirmou o governador.