Parlamentares acusados de corrupção devem comandar Congresso pelos próximos dois anos
Senado elege hoje novo presidente. Favorito ao cargo pode responder a processo no STF
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
Mesmo envolvidos em denúncias de corrupção e com a possibilidade de serem investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), os candidatos que têm apoio oficial do Planalto e da base governista devem ser confirmados na presidência das Casas que compõem o Congresso — Câmara dos Deputados e Senado Federal.
É o caso de Renan Calheiros (PMDB-AL), que deve ser eleito nesta sexta-feira (1º) presidente do Senado. Depois de seis anos, o senador deve voltar ao cargo após renunciar à presidência da Casa, em 2007, para colocar fim à crise iniciada com denúncias de que suas contas pessoais eram pagas com dinheiro de propina de lobistas.
Na época, vieram à tona acusações de que a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha, recebia pensão de R$ 16,5 mil do senador. Com o salário de R$ 12,7 mil, Renan Calheiros alegou que a despesa era paga com dinheiro de sua renda complementar, obtida por meio de negociações agropecuárias.
De ministro a senador investigado após caso extraconjugal: veja a trajetória de Renan Calheiros
O senador apresentou notas fiscais para comprovar vendas de cabeças de gado e justificar seus rendimentos, negando qualquer tipo de envolvimento com lobistas.
No entanto, a uma semana da eleição no Senado, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou denúncia ao STF afirmando que as notas são falsas.
O cientista político da UnB (Universidade de Brasília), David Fleischer, avalia que mesmo após a acusação do MPF (Ministério Público Federal), Renan deve ser confirmado no cargo de presidente do Senado.
Para o especialista, os parlamentares não estão preocupados com a imagem do Congresso.
— Eles não se preocupam com a imagem manchada, só se preocupam com a mais valia que eles podem tirar, as nomeações, as emendas parlamentares. É nisso que o parlamentar está mais interessado.
Câmara dos Deputados
Na Câmara dos Deputados, a situação é semelhante. O candidato favorito, que tem apoio oficial da base governista, também está envolvido em acusações de corrupção.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é líder do PMDB e deputado há 42 anos. Em seu 11º mandato, Henrique Alves é alvo de denúncias sobre irregularidades na contratação de veículos em seu gabinete e suposto favorecimento em emendas parlamentares.
De acordo com as denúncias, o deputado alugou carros de uma empresa do Distrito Federal, supostamente registrada em nome de um laranja. A suspeita é que Henrique Alves teria relações com a empresa, associada com um ex-assessor de seu partido.
Além disso, algumas de suas emendas teriam beneficiado seu assessor na Câmara, Aluizio Dutra de Almeida — dono de uma empresa que realizou, pelo menos, três obras financiadas por emendas do deputado que custaram cerca de R$ 1,2 milhão.
Henrique Alves negou todas as acusações e prosseguiu a sua campanha para presidência da Câmara normalmente.
Para o cientista político da UnB, somente se estourar uma “bomba” na imprensa a candidatura de Henrique Alves ficaria ameaçada. Segundo David Fleischer, as denúncias que vieram à tona até agora não abalam o favoritismo do deputado.
— Isso deixa a imagem do Congresso mais manchada do que já é. Para o Congresso é um marco negativo, mas eu não tenho nenhuma dúvida de que ele será eleito.
A eleição para presidência da Câmara está marcada para a próxima segunda-feira (4).