Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em 5 de junho no Vale do Javari (AM)
MONTAGEM/REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS/ARQUIVO PESSOAL/AFPO Ministério Público Federal denunciou Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
Segundo o MPF, Amarildo e Jefferson confessaram o crime, enquanto Oseney teve a participação comprovada por depoimentos de testemunhas. A denúncia traz ainda prints de conversas que demonstram a cronologia do crime. Além disso, foram apresentados laudos periciais com a análise dos corpos e dos objetos encontrados pelos investigadores.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o MPF pede que eles sejam processados e levados a júri popular. O quarto suspeito preso durante as investigações, Rubens Villar, também conhecido como "Colômbia", ainda não teve sua partipação comprovada no crime. Ele está preso pelo uso de documentos falsos e associação criminosa em um esquema de pesca ilegal na região.
Ainda segundo o documento enviado à Justiça, o MPF afirma que já havia registro de desentendimentos entre Bruno e Amarildo por pesca ilegal em território indígena. O que teria motivado os assassinatos seria o fato de Bruno haver pedido a Dom que fotografasse o barco dos acusados, o que é classificado pelo MPF de motivo fútil e pode agravar a pena.
Bruno foi morto com três tiros, um deles pelas costas, sem nenhuma possibilidade de defesa, o que também qualifica o crime. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, de modo a assegurar a impunidade pelo crime anterior.
O MPF designou cinco procuradores para reforçar a atuação no caso, tendo em vista a relevância e a repercussão internacional, além da necessidade de respostas rápidas em uma região que registra conflitos crescentes.
De acordo com o coordenador e subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, o MPF segue acompanhando o processo e seus desdobramentos, além de outros episódios de violência registrados na região. O local da tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia) tem sofrido com o aumento do crime organizado.
Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Eles viajavam pela região e entrevistavam indígenas e ribeirinhos para produção de reportagens para um livro sobre invasões de áreas indígenas.
O Vale do Javari, a terra indígena com o maior registro de povos isolados do mundo, é pressionado há anos pela atuação intensa de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.
Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para os jornais The New York Times e The Washington Post, bem como para o britânico The Guardian. Bruno era servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), mas estava licenciado desde que tinha sido exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019.
Em 15 de junho, a Polícia Federal localizou os restos mortais dos dois. A corporação encontrou os cadáveres depois de o pescador Amarildo da Costa confessar os assassinatos e levar policiais até o local onde havia enterrado os corpos.
Exames realizados pela Polícia Federal no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, constataram que os materiais encontrados eram de Dom e Bruno. A perícia chegou a essa conclusão após analisar a arcada dentária das duas vítimas.
A perícia da PF informou ainda que o jornalista e o indigenista foram mortos com tiros de uma arma de caça. Segundo a corporação, Bruno foi atingido por dois disparos no tórax e no abdômen e outro no rosto. Dom foi vítima de um disparo na região entre o tórax e o abdômen.
*Com informações do Ministério Público Federal