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Além de chefe de UTI, outras sete pessoas são denunciadas à Justiça por mortes em hospital no Paraná

A médica Virgínia Helena Soares de Souza é suspeita de sete homicídios, segundo a promotoria

Cidades|Fernando Mellis, do R7

Promotores (foto) ofereceram denúncia de oito pessoas por homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha
Promotores (foto) ofereceram denúncia de oito pessoas por homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha FRANKLIN DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO

O MP-PR (Ministério Público do Estado do Paraná) ofereceu, nesta segunda-feira (11), denúncia contra oito pessoas, por suposto envolvimento em mortes de pacientes na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Segundo a promotoria, pacientes internados entre janeiro de 2006 e fevereiro de 2013 tiveram a morte antecipada com o uso de medicamentos. O anúncio foi feito pelos promotores Ana Paula Cesconetto Branco e Fernanda Nagl Garcez, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Saúde Pública; Marco Antônio Teixeira e Paulo Sérgio Lima.

A ex-chefe do setor, a médica Virgínia Helena Soares de Souza, foi denunciada por sete homicídios duplamente qualificados — por motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas — e por formação de quadrilha. Também foram denunciados: o médico anestesista Anderson de Freitas, por dois homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha; os médicos Edison Anselmo da Silva Junior e Maria Israela Cortez Boccato, cada um por homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha.

A denúncia também inclui as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia Cristina de Gouveia Ribeiro, também por homicídio qualificado e formação de quadrilha; a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes, por formação de quadrilha.

A base da promotoria foi o inquérito do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra Saúde, da Polícia Civil. As investigações começaram há um ano, após denúncia de um funcionário do hospital à ouvidoria do governo do Paraná. Além dos depoimentos, a polícia sustenta o caso em interceptações telefônicas, gravadas com autorização da Justiça, e em prontuários médicos.


A defesa de Virgínia diz que não há provas do envolvimento dela nas mortes. Ainda de acordo com o advogado Elias Mattar Assad, os óbitos foram naturais e não têm qualquer ligação com ações humanas praticadas pela médica.

Após a denúncia, nesta segunda-feira (11), Assad criticou a posição do Ministério Público.


— [Foi] uma espécie de corporativismo barato, com uma investigação malconduzida. Eles [a promotoria] se transformaram em garimpeiros do ódio e da ignorância em um mar turvo do inquérito policial.

A promotoria entendeu que Virgínia dava ordens para que os médicos prescrevessem a alguns pacientes bloqueadores neuromusculares, associados a anestésicos, sedativos e analgésicos e também determinava a redução da ventilação artificial, o que fazia os doentes morrerem de asfixia. Ainda segundo as investigações, alguns dos medicamentos foram aplicados, mesmo sem justificativa terapêutica no prontuário. Isso teria levado os pacientes à morte.


Segundo Assad, a defesa vai se basear, também, nos prontuários para provar a inocência da ex-chefe da UTI. Ele questiona que as causas das mortes não têm qualquer relação com algo provocado.

Os enfermeiros e a fisioterapeuta denunciados teriam a tarefa de “simular a aparência insuspeita do exercício regular da assistência à saúde dos pacientes vitimados, tanto registrando suas respectivas evoluções de enfermagem e fisioterapia nos prontuários médicos de forma a ‘casar’ com as evoluções e prescrições médicas criminosas e disfarçadas, tanto orientando os técnicos de enfermagem [subordinados] ou demais profissionais de saúde não participantes da quadrilha a jamais questionarem as atitudes delitivas”, de acordo com os promotores.

Virgínia, os médicos Anderson de Freitas, Edison Anselmo da Silva Junior e Maria Israela Cortez Boccato, e a enfermeira Laís da Rosa Groff permanecem presos. Deve ser julgado na próxima quinta-feira (14) um pedido de habeas corpus feito pela defesa da ex-chefe da UTI. 

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Entenda o caso

A chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (PR), um dos mais importantes do Paraná, foi presa no dia 19 de fevereiro por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde. Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de ter praticado eutanásia — antecipar a morte de pacientes internados na unidade.

As investigações começaram há um ano, após denúncias de funcionários do próprio hospital à ouvidoria do governo do Paraná. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, por não haver chance de defesa das vítimas.

Gravações de telefonemas feitas com autorização da Justiça mostraram conversas da médica com outros médicos e demais funcionários. A polícia entendeu, após ouvi-las, que Virgínia ordenava o desligamento de aparelhos de alguns doentes.

Virgínia trabalhava na unidade há 24 anos. Ela era casada com o chefe da UTI, Nelson Mozachi, e assumiu o cargo quando ele morreu, em 2006.

Em nota divulgada no dia da prisão, o Hospital Universitário Evangélico disse que abriu sindicância interna para apurar os fatos, que reconhece a competência profissional de Virgínia e que “desconhece qualquer ato técnico dela que tenha ferido a ética médica”. Toda a equipe do setor foi trocada.

O CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) manifestou preocupação com a “condenação pública” dos envolvidos sem que “sejam realmente avaliados e julgados por quem de direito”.

Por meio de carta, a médica se disse vítima de ex-funcionários. O filho dela, Leonardo Marcelino, e o advogado, Elias Mattar Assad, disseram que tudo “é um grande erro da polícia” e que as denúncias “são baseadas em depoimentos e não em provas”.

Apesar de estar na UTI do hospital desde 1998 e chefiar o setor há sete anos, Virgínia não era especialista na área. Segundo a polícia, quem assinava por ela como chefe da unidade era outro médico.

No dia 23 de fevereiro, a Justiça expediu quatro mandados de prisão para três médicos e uma enfermeira. Os anestesistas Edson Anselmo da Silva Júnior, Maria Israela Boccato e Anderson de Freitas foram levados à delegacia no mesmo dia. A enfermeira Laís Grossi se apresentou no dia 25 do mesmo mês. Já a médica Krissia Wallbach, apresentou-se à polícia no dia 5 de março, foi indiciada, mas permanece em liberdade. 

Os médicos presos negam qualquer conduta antiética e foram orientados pelo advogado de Virgínia a ficarem calados. Foi iniciada uma investigação dentro do hospital, inclusive com membros do Ministério da Saúde, para constatar eventuais irregularidades praticadas pela médica ou por outros profissionais.

Nove dias após ser presa, Virgínia Helena foi transferida do Centro de Triagem para o presídio feminino de Piraquara, cidade na região metropolitana de Curitiba. Junto com ela, foi a médica Maria Israela Boccato, também suspeita de envolvimento nas mortes. 

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