Defesa de médica suspeita de eutanásia diz que houve “falsa interpretação” da polícia
Advogado acredita que expressões usadas pela chefe da UTI foram entendidas de outra forma
Cidades|Fernando Mellis, do R7
O advogado Elias Mattar Assad, que defende a médica Virgínia Helena Soares de Souza, suspeita de antecipar a morte de pacientes internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, pediu na quarta-feira (27), que o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) averigue se a investigação do caso contou com o assessoramento de médicos especialistas.
Assad acredita que houve erros de interpretação das autoridades sobre questões médico-legais.
— Eu quero que o CRM envie ofício para o MP-PR (Ministério Público do Paraná) e para a polícia do Paraná para saber se eles estão assessorados por médicos. Em caso afirmativo, quem são, qual o CRM deles e quais as especialidades. E principalmente, quais trabalhos científicos eles escreveram e em quais revistas.
Também na quarta-feira, o advogado deu entrada em um pedido de habeas corpus para a médica. No entanto, ele não acredita que os desembargadores devam decidir nesta quinta-feira (28) a saída, ou não, de Virgínia da cadeia.
O CRM-PR divulgou nota dizendo que quando tiver acesso ao inquérito policial vai dar andamento a uma investigação interna para apurar os fatos. O conselho ainda disse que nunca recebeu denúncia contra qualquer um dos envolvidos no caso, inclusive das pessoas que denunciaram a médica.
O órgão ainda manifestou preocupação com a “condenação pública” dos envolvidos sem que “sejam realmente avaliados e julgados por quem de direito”.
Médica presa por suspeita de eutanásia escreveu livro sobre bom funcionamento do ambiente hospitalar
Entenda o caso
A chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (PR) foi presa no dia 19 de fevereiro por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde. Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de ter praticado eutanásia — antecipar a morte de pacientes internados na unidade.
As investigações começaram há um ano, após denúncias de funcionários do próprio hospital, que é considerado um dos mais importantes da cidade. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, por não haver chance de defesa das vítimas.
Virgínia chefiava, desde 2006, a UTI geral do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. O setor fica no quarto andar do prédio, local onde a vigilância sanitária encontrou, em 2012, cinzeiros com cinzas e também bitucas de cigarro.
Em nota divulgada no dia da prisão, o Hospital Universitário Evangélico disse que abriu sindicância interna para apurar os fatos, que reconhece a competência profissional de Virgínia e que “desconhece qualquer ato técnico dela que tenha ferido a ética médica”. Toda a equipe do setor foi trocada.
Também por meio de nota, a médica se disse vítima de ex-funcionários. O filho dela, Leonardo Marcelino, e o advogado, Elias Mattar Assad, disseram que tudo “é um grande erro da polícia” e que as denúncias “são baseadas em depoimentos e não em provas”.
Apesar de estar na UTI do hospital desde 1998 e chefiar o setor há sete anos, Virgínia não era especialista na área. Segundo a polícia, quem assinava por ela como chefe da unidade era outro médico. Ela assumiu o cargo, que era do marido, depois que ele morreu.
No dia 23 de fevereiro, a Justiça expediu quatro mandados de prisão para três médicos e uma enfermeira. Os anestesistas Edson Anselmo da Silva Júnior, Maria Israela Boccato e Anderson de Freitas foram levados à delegacia no mesmo dia. A enfermeira Laís Grossi se apresentou no dia 25 do mesmo mês.
Os médicos presos negam qualquer conduta antiética e foram orientados pelo advogado de Virgínia a ficarem calados. Foi iniciada uma investigação dentro do hospital, inclusive com membros do Ministério da Saúde, para constatar eventuais irregularidades praticadas pela médica ou por outros profissionais.