Chacina do Rosana leva seis policiais ao banco dos réus em SP
Caso ocorrido em 4 de janeiro de 2013 deixou sete mortos, entre eles um menos de idade
Cidades|Mariana Queen Nwabasili, do R7
Não fosse a inversão da necessidade pela vontade de matar, a cena dos últimos minutos de vida de Brunno de Cássio Cassiano Souza, garoto de 17 anos e cor parda, poderia ser comparada a uma caçada animal. Entre os sete mortos na chacina ocorrida no bairro Jardim Rosana, região sul da capital paulista, em 4 de janeiro de 2013, o jovem era o único menor de idade e foi o último a morrer.
Aproximava-se das 23h quando cerca de quinze homens encapuzados com toucas ninja entraram em um bar na rua Reverendo Peixoto da Silva, onde Brunno e outras pessoas estavam. Segundo testemunhas, os mascarados anunciaram ser policiais e dispararam tiros contra os presentes. Seis pessoas foram mortas. Brunno levou um tiro na perna. Ferido, o garoto fugiu, caminhando o mais rápido que pode para se esconder.
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Ele conseguiu chegar à casa de uma vizinha, que prefere não dar entrevistas e nem mesmo prestou depoimento sobre o caso. Assustada e sem saber quem eram os responsáveis pela chacina ocorrida havia poucos minutos, a mulher decidiu pedir ajuda aos policiais que estavam na redondeza. A intenção era que eles socorressem Brunno. Ao invés disso, conta dona Rita, 51 anos, mãe do garoto, “os PMs fardados vieram e judiaram dele”.
Segundo ela, Brunno foi deixado por policiais no Hospital Campo Limpo — sem roupa e sem vida — com oito tiros pelo corpo, sendo um deles na cabeça.
A chacina teve inquérito relatado pela 3ª Delegacia de Homicídios Múltiplos de São Paulo em 2013. A investigação foi encaminhada ao Ministério Público, que denunciou o caso. O processo passou a correr no Fórum Criminal da Barra Funda em segredo de justiça perante a Primeira Vara do Tribunal do Júri. Seis policiais são tidos como réus.
A espera e as ameaças
Em meados de 2014, mais de um ano após a morte de Brunno, quando concedeu uma nova entrevista para esta reportagem, dona Rita ainda esperava que os acusados fossem julgados.
— Eu vou esperar o processo, vou esperar tudo o que eu tiver que esperar, porque além de o Estado me indenizar, eu ainda quero que cada um que estiver preso me indenize também. Mesmo dos presos, eu quero o meu direito. Jamais eu gostaria de ter um dinheiro da vida do meu filho, porque jamais a vida dele teria preço, mas deixar também para eles, não deixo não.
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A angústia do luto e os entraves para o julgamento, que, segundo a promotoria, deve ser marcado para depois de março de 2015, motivaram Rita a fazer pequenas investigações por conta própria. Para tanto, ela preferiu ir embora do Jardim Rosana, onde morava havia 33 anos.
Hoje, a mãe segue as suas pesquisas paralelas confiando nos pedidos de investigação feitos pela promotoria do Ministério Público, acusador no processo, e reticente quanto aos trabalhos feitos pela Polícia Civil por meio do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).
A falta de segurança para que testemunhas pudessem colaborar com as investigações e, consequentemente, otimizar a acusação, está entre as principais reclamações.
— No começo das investigações, o DHPP queria que eu levasse dez pessoas que viram eles [policiais] assassinando os meninos, que viram eles trocando de roupa depois da chacina no bairro. Tudo isso eles querem que a gente leve lá, só que a gente não tem segurança nenhuma. Aí depois eles querem que a gente fale assim na entrevista: eu tive toda a assistência do DHPP. Eu não tive nenhuma assistência. Levei as testemunhas num dia e, no outro, a PM foi [no Jardim Rosana] ameaçar todo mundo.
O R7 procurou o DHPP para comentar o caso, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.