Efeito da terceirização, sancionada por Temer, deve ser lento
Entidades preveem modelo só nas funções de apoio, e não nas atividades-fim das empresas
Economia|Do R7
A terceirização irrestrita, sancionada na última sexta-feira (31) pelo presidente Michel Temer, não deve trazer mudanças radicais para o mercado de trabalho, pelo menos num primeiro momento, avaliam associações patronais.
Para essas entidades, a terceirização, por enquanto, deve se manter mesmo nas funções de apoio, e não nas atividades-fim das empresas.
"Não há expectativa de explosão imediata da terceirização. A lei que foi sancionada só regula uma atividade que já existe. Não acredito que haverá migração de outras funções a terceirizados", diz Vander Morales, da Fenaserhtt (Federação dos Sindicatos de Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado).
A avaliação é que a nova lei deve dar mais segurança para as empresas que contratam serviços de apoio - como limpeza, segurança e merchandising -, e que, eventualmente, poderia ajudar a aumentar a contratação desses serviços.
Para Morales, a aprovação das novas regras de terceirização pode fazer crescer também o interesse de empresas estrangeiras que oferecem serviços de apoio.
— A vinda dessas empresas será positiva para o trabalhador.
A avaliação de que as funções terceirizadas não devem mudar também é feita por Percival Maricato, da Abrasel-SP, que representa bares e restaurantes.
— Nosso setor trabalha com muita mão de obra de terceiros, mas há a preocupação das empresas em não perderem suas características próprias. A maioria dos terceirizados deve seguir sendo formada por manobristas, profissionais da limpeza e seguranças.
Em Minas Gerais, uma estimativa da Fiemg, a federação das indústrias do Estado, calcula que mais de dois terços da indústria mineira já trabalhe com terceirizados. As principais atividades se concentram em montagem e manutenção, logística e consultoria técnica.
Nesta segunda-feira (3), em São Paulo, o presidente Temer garantiu que o projeto "não prejudica os trabalhadores" e que a aprovação da medida é fruto de uma "quase ousadia" de seu governo.
— Há mais de 20 anos se falava disso no Brasil e não se levava adiante.
O presidente fez menção ao projeto quando listava as ações do governo para tentar tirar o País da "maior recessão da história", destacando que a maior parte delas busca sanar os problemas fiscais do Brasil.
Ação
Mesmo assim, o partido Rede Sustentabilidade entrou nesta segunda-feira com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a lei que regulamenta a terceirização, alegando ilegalidade na tramitação no Congresso e "risco de vulneração irreparável aos trabalhadores brasileiros".
Na ação pela inconstitucionalidade da lei, a Rede pede a suspensão dos efeitos do texto que permite às empresas a contratação de serviço terceirizado em todos os tipos de atividade que desejar.
O partido pede que seja concedida liminar para suspender a totalidade da nova lei ou que, como alternativa em menor extensão, sejam suspensos os efeitos de dois trechos da lei.
Um desses trechos é o que diz que "empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos". O outro trecho é o que diz que "o contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços".