Mesmo na crise, padarias mantêm empregos e chegam a pagar R$ 5.000 a funcionário
País ganhou 3,2 milhões de desempregados em um ano, mas setor conseguiu evitar demissões
Economia|Raphael Hakime, do R7
Todo mundo já sentiu, de alguma maneira, os efeitos da crise econômica que assola o País desde 2015. São 3,2 milhões de desempregados a mais em apenas um ano, sendo que 1,5 milhão foram cortados da indústria nacional, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É raro uma família brasileira não ter ao menos um desempregado atualmente, afinal são 11,6 milhões de pessoas sem trabalho. As notícias, porém, não são só ruins. Um setor, pelo menos, conseguiu absorver o impacto da crise e manteve empregos: o de panificação (entenda o setor no quadro abaixo).
A principal razão para isso é o hábito do brasileiro de tomar café da manhã e frequentar as padarias brasileiras durante o dia — seja para almoçar, tomar o café da tarde, experimentar uma sopa ou comer o já tradicional pedaço de pizza à noite.
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Se há dois ou três anos esses negócios tinham um saldo negativo de 10 mil empregos diretos no País e disputavam um bom padeiro ou confeiteiro com ótimos salários, em 2016 não estão contratando — mas também não cortaram vagas. Mesmo assim, os padeiros mais bem qualificados chegam a ganhar um salário de R$ 5.000.
O presidente do Sindicato e Associação dos Industriais de Panificação e Confeitaria de São Paulo, Antero José Pereira, explica que, “com a recessão e a perda no faturamento, o mercado de trabalho parou a necessidade de contratar, mas também não dispensou”.
— Hoje, a gente está contratando mão de obra qualificada se houver e acaba dispensando quem não tem capacitação. Hoje, a panificação não precisa mais de contratar, a não ser essa mão de obra mais qualificada.
Como em todas as áreas do mercado de trabalho, os salários são proporcionais ao conhecimento do empregado, destaca Pereira.
— Em uma padaria pequena, um padeiro ganha de R$ 1.800 a R$ 2.000. Já um bom padeiro ganha de R$ 2.000 a R$ 2.500 numa padaria média e, em uma grande padaria, pode chegar a R$ 5.000. Isso vale em nível Brasil, mas essa faixa é um pouco menor no Norte e Nordeste.
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Sai queijo branco, entra pão com manteiga
O presidente do sindicato da panificação explica que a manutenção do emprego nas padarias se deve a uma “mudança comportamental” entre o ano passado e 2016: mesmo com a crise e a grana curta no bolso, o brasileiro não deixou de frequentar e consumir nas padarias brasileiras.
— O brasileiro não deixou de consumir totalmente [nas padarias], mas aqueles produtos de maior valor agregado tiveram uma queda de consumo. Mas o brasileiro continua consumindo. Aqueles cafés da manhã não acabaram, mas antes as pessoas pediam uma vitamina e um sanduíche de queijo branco e agora trocaram por um pão com manteiga, um suco de laranja, um pingado, uma média... Então, ele se adequou ao pouco dinheiro que o cara tem no bolso.
Mesmo assim, diz Pereira, o setor de padarias sempre foi muito eclético: se perde faturamento de um lado, busca no outro.
— O consumo de pizza, por exemplo, continua altíssimo porque é uma refeição barata. A refeição em padaria teve uma queda, mas nada comparado ao restaurante. Se você vai comer em uma padaria, uma refeição é muito mais barata.