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Menos competitivo que olimpíadas, exame Canguru ganha espaço nas escolas brasileiras 

Cerca de 900 colégios do País aplicam a prova internacional de matemática até este domingo

Educação|Mariana Queen Nwabasili, do R7

Medalhista do Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza, Ceará
Medalhista do Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza, Ceará Medalhista do Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza, Ceará

Criada como uma alternativa ao formato das provas das olimpíadas de matemática e do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, sigla em inglês), organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a avaliação internacional Canguru tem ganhado o gosto das escolas brasileiras.

Os centros de ensino optam por aplicar a prova em suas dependências em um dos três dias disponíveis sempre no mês de março. Neste ano, 900 escolas brasileiras aplicam o exame entre quinta-feira (19) e este domingo (22) a quase 100 mil estudantes do 2º ano do ensino fundamental ao 3º do ensino médio. Em 2014, 84 mil brasileiros realizaram a prova, frente a 44 mil em 2013.

Professores e coordenadores escolares destacam as questões diferenciadas como atrativo para a adesão ao exame, que é feito de forma voluntária pelos 50 países participantes atualmente.

Ceará

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Segundo Francisco Valter do Nascimento, supervisor do ensino fundamental do Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza (CE), a ideia é incentivar os alunos a participarem de um teste “que mostra que a disciplina de matemática não é tão complicada”.

— A prova do Canguru exige muito do raciocínio lógico. São questões em que o aluno observa o enunciado e pode resolver o problema mentalmente [...] Não obrigamos eles a participarem, eles só participam se desejam.

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Os alunos da instituição que estão entre o 4º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio participam da avaliação desde o ano passado. Só neste ano, cerca de 500 estudantes farão a prova.

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Jeitinho brasileiro não ajuda alunos a resolverem problemas em grupo na escola

A escola oferece gratuitamente oficiais de matemática aos sábados para os estudantes que querem participar da OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática) e do Canguru.

Nascimento afirma que a iniciativa também ajuda os estudantes a participar das olimpíadas de matemática que a escola desenvolve internamente.

— Os alunos que participam do Canguru abrem novos horizontes, principalmente com relação aos tipos de provas de vestibulares, como o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Então eles acabam tendo uma segurança maior com relação à resolução de questões.

O professor diz que os resultados do exame serão analisados pelos docentes da escola para que, “se necessário, seja feita uma retomada do conteúdo que os alunos não conseguiram resolver na prova”.

São Paulo

No Colégio Bandeirantes, na cidade de São Paulo, 80 estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio fazem o exame neste ano. Em 2014, 33 alunos participaram.

Às terças-feiras à tarde, a instituição oferece aulas de matemática como atividade extracurricular para os alunos interessados.

Bruna Butschowitz, 17 anos, aluna 3º ano do ensino médio no Bandeirantes, ganhou medalha de prata na avaliação de 2014. Neste ano, não frequentou as aulas extracurriculares pela dificuldade de organização na agenda.

— Sempre gostei muito de matemática. Gosto de desafios e de exercitar o raciocínio lógico. Por ter um bom desempenho, meus professores sempre me incentivaram a participar de olimpíadas [...] Fico um pouco nervosa, acho que é normal.

Para Rogério Chaparin, professor de matemática da instituição, a avaliação tem ajudado na transformação de algumas abordagens pedagógicas mais ortodoxas do colégio.

— A questão principal é estimular a criatividade dos alunos [...] O interessante não só fazer as operações, mas sim saber as propriedades que estão por trás dos princípios matemáticos, saber usar o conteúdo na prática. A prova valoriza o pensamento matemático, não só o saber fazer.

O professor afirma que as olimpíadas tradicionais de matemática acabam desmotivando os alunos, “porque a concorrência é alta e o nível é muito difícil”.

— Já o Canguru nasceu justamente com o intuito de desafiar os alunos, mas não assustá-los.

Segundo ele, a escola faz questão de reconhecer o desempenho dos estudantes.

— Valorizamos os alunos com as melhores colocações em um café de talentos, em que também damos um certificado para todos os que participaram.

O professor destaca que a valorização deve acontecer independentemente dos resultados: “Os alunos menores às vezes ficam mais decepcionados se vão mal na prova. Mas falamos que eles estão no caminho e vão melhorar. Incentivamos eles a não desanimarem”.

Sem ranking

As instituições que participam do exame recebem apenas a divulgação dos resultados de seus alunos. Não há uma hierarquização das melhores e piores escolas.

“Optamos por manter o low profile, porque não queremos, de nenhuma forma, estimular competição entre escolas e que sirvam para fins de marketing. Nosso interesse é despertar o gosto pela Matemática e não servir de meio para promoção comercial. Aconselhamos as escolas a premiar seus alunos, sem se preocupar com os vizinhos”, diz Élio Mega, representante do Canguru no Brasil.

— Com relação ao um ranking mundial, pior ainda. Cada país faz o que achar melhor com o Canguru e a organização central somente se preocupa com as coisas explicitadas no seu regulamento.

Prova e resultados

A avaliação internacional Canguru foi idealizada em 1991 por professores na França. Em 1993, sete países europeus aderiram à prova. Em 1995 o exame foi formalizado, sendo aplicado hoje em mais de 50 países.

Todo país que deseja participar deve enviar seu pedido para o comitê organizador. O pedido é analisado e o país aspirante passa por um período de avaliação, até ser considerado membro do comitê.

Ao contrário de vários outros países, no Brasil as escolas participam gratuitamente. Aqui, quem financia as despesas da realização da aplicação é o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).

As escolas interessadas devem se inscrever no site. A prova é encaminhada para as instituições pela internet. Cabe a cada colégio imprimir as provas e aplicar no dia escolhido. Depois, as avaliações respondidas são submetidas à organização do Canguru no Brasil para a correção. Os resultados são encaminhados para cada escola individualmente.

“Acho que as escolas que se inscrevem já têm uma certa cultura envolvendo as olimpíadas culturais. Elas sabem como usar os resultados pedagogicamente. Para ajudá-las, disponibilizamos no site as soluções comentadas com detalhes dos problemas apresentados”, diz Mega.

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