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“Brasil e Haiti são pequenas áfricas”, diz filha de líder negro norte-americano

Malcolm X foi um dos principais ativistas dos direitos civis nos anos 60

Internacional|Do R7*

Malaak Shabazz, veio pela primeira vez ao Brasil para participar da Semana da Consciência Negra
Malaak Shabazz, veio pela primeira vez ao Brasil para participar da Semana da Consciência Negra

Um dos mais conhecidos líderes negros dos Estados Unidos, Malcolm X — também conhecido pelo nome que adotou após aderir ao Islã, Al Hajj Malik Al-Shabazz — foi assassinado há exatos 50 anos. Ao lado de sua esposa e também ativista dos direitos civis, Betty Shabazz, Malcolm contribuiu para mobilizar milhares de negros em campanhas contra o racismo em meio aos turbulentos anos 60.

No ano em que completaria 90 anos de idade, sua filha mais nova, Malaak Shabazz, veio pela primeira vez ao Brasil para participar da Semana da Consciência Negra. Em palestra realizada ontem no centro de São Paulo, a ativista, que atua na comunidade de ONGs da ONU (Organização das Nações Unidas) há 29 anos, falou com jovens de diversas regiões da cidade e relacionou os problemas enfrentados pela comunidade negra em diferentes países.

Após a palestra, a ativista recebeu os jornalistas para uma coletiva na Secretaria de Igualdade Racial de São Paulo.

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Malaak afirma que dois dos países com o maior contingente de negros fora do continente africano — Brasil e Haiti — são “pequenas áfricas”. Ela acredita que os negros de ambos os países foram “punidos por terem vencido a escravidão”.

— O opressor não quer que nós sejamos educados. Eles não vão nos dar nada de graça, nós temos que conquistar.


Em relação ao legado de seu pai, Malaak diz ficar realizada ao perceber que existem jovens negros que se identificam com Malcolm nos diversos países que visita. No entanto, a ativista critica o modelo de educação norte-americana, que, de acordo com ela, está “criando as nossas crianças ao estilo de Hollywood”.

— Às vezes eu pergunto para os jovens se eles sabem quem foi Malcolm X e eles me perguntam: o filme do Spike Lee? Eu fico impressionada como algumas pessoas podem não saber quem foi ele. Elas não estão estudando o movimento dos direitos civis dos anos 60?


Líder negro Malcolm X foi assassinado a tiros durante um discurso no Harlem
Líder negro Malcolm X foi assassinado a tiros durante um discurso no Harlem

Advogada e ativista dos direitos civis, a mãe de Malaak, Betty Shabazz, é lembrada com orgulho pela filha. Em memória de Betty e seu marido Malcolm, foi criado o Memorial e Centro de Educação Malcolm X e Dra. Betty Shabazz no bairro do Harlem, em Nova York. O prédio fica no mesmo local onde o líder negro foi assassinado a tiros durante um discurso em 1965.

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Malaak diz ser injusto a maioria das pessoas se lembrar apenas de seu pai e esquecerem que sua mãe também teve uma forte atuação no movimento pelos direitos civis. Autodeclarada feminista, a norte-americana diz que Betty a ensinou a não tolerar a discriminação, e afirma acreditar que existe machismo até mesmo dentro do movimento negro. Para ela, “as mulheres não estão recebendo a proteção necessária” dos homens.

— Nos EUA, até mesmo as mulheres falam muito mais dos homens. O mundo não nos considera iguais. Precisamos nos unir, enquanto homens e mulheres, para que essa violência acabe.

A ativista cita a esposa do atual presidente dos EUA, Michelle Obama, como um exemplo de atuação positiva de uma mulher negra, e diz que ela “ajudou muitas de nós” por meio de sua atuação política e projetos sociais.

Caos social

Após uma série de relatos de violência policial e abusos das autoridades para com afro-americanos, os Estados Unidos vivenciaram uma série de protestos de rua nos últimos anos. A cidade de Ferguson, no Estado do Missouri, foi um dos palcos das manifestações, após um policial branco assassinar um jovem negro desarmado.

Algumas semanas depois, o anúncio de que o responsável pelo crime não seria indiciado gerou revolta na população, que voltou às ruas da cidade, em protestos que se espalharam pelo país inteiro.

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Em abril deste ano, o jovem Freddie Gray morreu enquanto estava sob custódia policial na cidade de Baltimore. A dificuldade das autoridades em explicar o caso somado à crescente tensão social no país contribuiu para a eclosão de novos protestos.

Nem mesmo o cinema escapou do preconceito. Em meio às tensões raciais nos Estados Unidos, a Universal Pictures, produtora do filme Straight Outta Compton, anunciou em agosto que iria reembolsar as empresas que reforçarem sua segurança durante a exibição do longa no país. A produção retrata a história do grupo de rap norte-americano N.W.A., grupo altamente crítico ao racismo e à violência policial.

Protestos contra a violência policial e o racismo tomaram as ruas de Baltimore em abril deste ano
Protestos contra a violência policial e o racismo tomaram as ruas de Baltimore em abril deste ano

Para Malaak, casos como esses evidenciam que ainda existem incidentes de racismo no Estados Unidos, mesmo após a revogação das infames Leis Jim Crow — série de medidas que explicitava a discriminação por meio da divisão entre brancos e negros. A legislação foi derrubada em 1965, em meio ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos.

— Ainda existem casos de discriminação. Não com a frequência dos anos 60, mas o preconceito ainda está lá.

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Mesmo com a eleição do primeiro presidente negro do país em 2008, Malaak diz que o racismo continuou institucionalizado, e que “as coisas vão continuar iguais” caso os afro-americanos não se unam para combater a discriminação.

— Nós tivemos avanços, mas também tivemos novos problemas. Eu diria que melhorou cerca de 70% em relação aos anos 60.

* Texto: Luis Felipe Jourdain Segura

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