“Depois de escutar o ‘bum’, a gente volta para casa”, diz brasileira a 15 km de Gaza
População civil vive em meio ao fogo cruzado em Israel e na Faixa de Gaza
Internacional|Diego Junqueira, do R7
“As sirenes estão soando muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito”.
É com a voz cansada que a brasileira Esther Chimanovitch, de 59 anos, conta o drama que está vivendo há três dias em Ashkelon, Israel.
Situada 15 km ao norte da Faixa de Gaza, a cidade está no meio do fogo cruzado desde quarta-feira (14), quando iniciaram os confrontos sangrentos entre o Exército israelense e as milícias palestinas em Gaza.
Naquele dia, Israel deu início à operação Pilar Defensivo, com o assassinato do líder do braço armado do Hamas, o grupo palestino que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
Desde então, a guerra se agravou sobre as cabeças dos moradores de Ashkelon, onde Esther mora há 15 anos.
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Já foram mais de 550 foguetes disparados pelas milícias palestinas em Gaza rumo a Israel nesses três dias. Dois deles caíram em cidades próximas a Tel Aviv, o centro econômico e região mais povoada do país. Outro assustou ao cair nos arredores de Jerusalém, a cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos.
Um foguete caiu na sexta-feira (16) em um escritório do governo israelense em Ashkelon, a poucos metros da casa de Esther, onde foram feridos três soldados israelenses.
— As paredes tremeram. O barulho é muito alto. É muito deprimente.
Segundo a brasileira, nascida em São Carlos, interior de São Paulo, os últimos dias têm sido de reclusão dentro de casa e de uma rotina incessante.
— No edifício onde eu moro não há refúgio. Então, quando as sirenes tocam, temos que correr para as escadas do prédio e esperar entre o quinto e o quarto andar. Depois que escutou o “bum”, a gente pode voltar para casa.
Esther conta que não está saindo muito de casa desde quarta-feira.
— [Passo] o dia inteiro ouvindo as sirenes. Hoje tivemos umas 20 sirenes, e em todas eu fui para a escada.
Mais de 30 mortes dos dois lados
Desde o início da operação Pilar Defensivo, mais de 550 foguetes foram disparados de Gaza. Desse total, o Exército de Israel informa ter interceptado mais de 180, graças ao Domo de Ferro, seu sistema de bateria antiaérea, um dos mais avançados do mundo.
Os outros 330 caíram em áreas abertas, no mar ou sobre casas e edifícios. Até o momento, três israelenses morreram no conflito, após um dos foguetes atingir um prédio em Kiryat Malachi, na quinta-feira (15).
No entanto, do outro lado da fronteira, na Faixa de Gaza, que não conta com a bateria antiaérea de Israel ou o sistema de alerta das sirenes, a guerra começa a contabilizar seus mortos às dezenas.
Se as milícias palestinas já dispararam mais de 550 foguetes, o Exército israelense já acertou 500 alvos dentro da Faixa de Gaza.
Segundo as forças militares de Israel, os alvos são sempre islamistas radicais vinculados aos ataques contra seu território. Mas não são poucos os relatos de palestinos civis assassinados.
Em três dias de conflito, já são 28 palestinos mortos. Segundo o ministro da Saúde do Hamas, Moufid Mujalalati, mais da metade das vítimas são civis, incluindo sete crianças, três idosos e duas mulheres.
Enquanto o Exército de Israel e as milícias palestinas em Gaza seguem trocando mísseis e se preparam para um confronto por terra, o que pode acontecer a qualquer momento, os civis dos dois lados do conflito seguem no meio do fogo cruzado.
“É uma pena o que está acontecendo”, diz Esther, ao telefone.
— Você escutou? Você escutou a bomba?