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Michelle Obama transforma seu estilo em expressão de poder nos EUA

Internacional|itmota

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Pode apostar que quando Michelle Obama estiver ao lado do marido na cerimônia de posse, que acontece no dia 21 deste mês, e nas várias festas e bailes que se seguirão, não estará pensando em seus críticos nem nos assessores da Casa Branca, que já temeram as consequências desastrosas de sua escolha de estilistas — isso porque transformou essa suposta frivolidade em capital político próprio [Texto: The New York Times]
Sem dúvida, seus esforços para reduzir a obesidade infantil e incutir hábitos saudáveis no padrão de vida norte-americano são mais importantes do que as roupas que veste e pode dar seu legado como, certo se conseguir mudanças essenciais. Oradora notável, ela consegue atingir todo tipo de público — independentemente de raça, idade e renda
Dada essa habilidade, muita gente, decepcionada com o fato de que suas roupas atraem mais atenção que seus valores e liderança, torce para que o segundo mandato lhe dê mais espaço para defender temas controversos, como a reforma da educação e o equilíbrio entre trabalho e a vida em família
Porém, não deixa de ser engraçado, pois há quatro anos ela negou aos conservadores que a tacharam de "negra revoltada" o direito de achincalhá-la quando assumiu — com um prazer imenso, diga-se de passagem — as tarefas esperadas de toda primeira-dama, como moda, entretenimento e jardinagem
E o fez em seus próprios termos e não como se fosse uma cópia recauchutada de Jackie Kennedy: suas escolhas na moda são vibrantes e ecléticas, suas festas, inclusivas, e sua horta se encaixa em seu mantra de dieta-exercícios
A escritora Liza Mundy, que começou a trabalhar num livro sobre Michelle Obama durante as primárias de 2008, conta que criou um alerta do Google para a futura primeira-dama. "Eu recebia material sobre ela todos os dias, mas eram sempre críticas", conta. "E o que me impressionou foi que, na posse, só se falava sobre o que ela estava usando. O tom da conversa ficou completamente diferente"
O tempo todo se vê como a moda favoreceu Michelle de uma forma que parece ter desconcertado até Hillary Rodham Clinton como primeira-dama. Mesmo Jackie Kennedy, com toda a sua pose (aos 31 anos), considerava o guarda-roupa da Casa Branca uniforme de trabalho; ela se referia aos tailleurs chiques e vestidos de noite como "roupas de Estado"
Na verdade, era criticada por suas roupas caras e o cabelo bufante. Meses antes da eleição, escreveu uma carta de dez páginas à editora de moda Diana Vreeland pedindo ajuda "para resolver o problemão que eram suas roupas!"
Observar a transformação de Michelle Obama de mãe e advogada de Chicago que preferia calças largas, cardigãs e saias-lápis no sonho de qualquer estilista é fascinante, em parte porque o fenômeno aconteceu praticamente sem pressão da imprensa
Como observa Valerie Steele, diretora e curadora-chefe do Museu do Instituto de Moda e Tecnologia de NY, as roupas de Michelle não se tornaram destaque político tanto quanto sua campanha por uma alimentação saudável. "Por mais estranho que pareça, a moda, que historicamente tende a ser tratada com extrema desconfiança, não lhe causou nenhum problema político", afirma Valerie
De acordo com The Obamas, livro de Jodi Kantor, repórter do New York Times, quando Michelle Obama "viu como lhe caíam as roupas exclusivas e bem produzidas, não quis saber de outra coisa"
Logo no início, a primeira-dama deixou bem claro a seus assessores, Kantor observa, que as escolhas de seu guarda-roupa não deveriam ser questionadas
Hoje só se consegue comentários inócuos dos estilistas que insistem em não se identificar para proteger o relacionamento comercial que mantêm com ela. "Ela se mostra mais confiante". "Ela tem estilo próprio"
Um estilista que não veste Michelle observou, não sem razão (e uma dose de veneno): "Ela usa roupas justas demais"
Como os políticos do passado, Michelle distribui o seu apoio e goza da reputação de ser uma mulher elegante que também encontra espaço em seu guarda-roupa para as peças mais acessíveis da J. Crew e Target. Tendo chegado à Casa Branca no auge da recessão, ela deu gás a estilistas independentes como Narciso Rodriguez, Prabal Gurung e Barbara Tfank, além de casas europeias como Alexander McQueen, que produziu o dramático vestido vermelho usado no jantar de Estado com os chineses
Um estilista norte-americano que já fez coisas para Michelle explicou que a primeira-dama ajudou seu negócio porque as vendedoras agora podem dizer às clientes que não conhecem a grife que "a Sra. Obama também usa essas roupas"
Esse tipo de endosso vale milhões de dólares. Num estudo feito em 2010 por David Yermack, da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York, descobriu-se que o valor médio do impacto econômico de uma aparição de Michelle Obama com o produto de uma empresa era de US$ 14 milhões, cerca de R$ 28,4 milhões
Ainda mais surpreendente é o fato de o gasto de Michelle com roupas atrair pouca curiosidade — obviamente porque se entende que ela ajuda a economia do país. Mesmo assim, gasta milhares de dólares em roupas e acessórios. Foi criticada por usar um tênis Lanvin de mais de 1.200 reais (US$ 500) para ir a um banco de alimentos, em 2009, mas numa época em que a crise econômica é um assunto tão sério, é de se questionar por que os gastos da primeira-dama com moda não causam um furor maior 
Uma dica pode estar em sua decisão, no fim de 2008, de aceitar o convite para posar para a capa da revista Vogue. Como Kantor escreve, seus assessores ficaram divididos, sendo que alguns ficaram preocupados que Michelle, uma mulher de substância, fosse vista como fashionista. Ela rebateu: "Há muitas jovens negras nesse país e eu quero que elas vejam uma negra na capa da Vogue". No fim, as críticas ao resultado final foram insignificantes
Há um elemento contemporâneo que sempre foi dado como certo no entendimento de Michelle de seu papel de primeira-dama: o da cultura das celebridades e de estilo ‒ mas até que ponto ela tinha consciência disso em 2008? É difícil saber. Ficou orgulhosa de ver que os jovens se identificavam com ela, mas será que percebeu que as revistas como Vogue tinham deixado de ser bastiões elitistas para explorar novos exemplos, como atletas, astros pop e estilistas famosos?
Pensando bem, sua decisão de substituir a imagem de mãe e profissional competente pela de figura glamourosa foi brilhante, pois, no fim das contas, acabou por protegê-la
Agora que a posse se aproxima novamente há de se pensar: O que mudou em seu estilo? Na verdade, pouca coisa. Ela simplificou o visual, deixando de lado os tricôs mais esquisitos e coques muito apertados, mas ainda assim adora estampas, decotes drapeados, saias rodadas e, é claro, braços de fora. Seu melhor visual talvez seja o belo Naeem Khan que usou no jantar de Estado oferecido à Índia, embora o McQueen vermelho com que recebeu os chineses não fique muito atrás
Apesar de todo o glamour, muita gente quer saber o que pensa Michelle Obama. Escrevendo para The Economist, em 2009, Adrian Wooldridge, que hoje é o editor da revista, lamenta que as notícias sobre a primeira-dama "sejam quase todas sobre superficialidades" e que o governo não se aproveite mais de sua habilidade única de agir "como garota-propaganda do trabalho árduo e das famílias estáveis"
Recentemente, Wooldridge disse: "Meu tom é menos crítico hoje do que quando escrevi aquele artigo — primeiro porque entendo a dificuldade de combinar o papel político e o simbólico e segundo porque ela causou repercussão nacional e serviu de exemplo em relação a um assunto muito importante"
Apesar disso, ainda acha que a primeira-dama poderia ser uma voz importante em assuntos como equidade de oportunidades e os desafios da jornada dupla, considerando-se os seus antecedentes
"O mecanismo do sonho americano e o de 'fazer por merecer' mudaram drasticamente nos últimos vinte anos", afirma ele. "Ela é uma pessoa que viveu tudo isso, que veio de South Side, em Chicago, e acabou estudando em Princeton e Harvard. Teria que se manifestar. A impressão que tenho é a de que quanto mais sofisticada ela se torna, mas se distancia de suas raízes"
E ele conclui dizendo que a primeira-dama não pode agir como uma bonequinha de porcelana. "Uma primeira-dama meramente decorativa em pleno século 21 seria, no mínimo, estranho"

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Pode apostar que quando Michelle Obama estiver ao lado do marido na cerimônia de posse, que acontece no dia 21 deste mês, e nas várias festas e bailes que se seguirão, não estará pensando em seus críticos nem nos assessores da Casa Branca, que já temeram as consequências desastrosas de sua escolha de estilistas — isso porque transformou essa suposta frivolidade em capital político próprio [Texto: The New York Times]
Sem dúvida, seus esforços para reduzir a obesidade infantil e incutir hábitos saudáveis no padrão de vida norte-americano são mais importantes do que as roupas que veste e pode dar seu legado como, certo se conseguir mudanças essenciais. Oradora notável, ela consegue atingir todo tipo de público — independentemente de raça, idade e renda
Dada essa habilidade, muita gente, decepcionada com o fato de que suas roupas atraem mais atenção que seus valores e liderança, torce para que o segundo mandato lhe dê mais espaço para defender temas controversos, como a reforma da educação e o equilíbrio entre trabalho e a vida em família
Porém, não deixa de ser engraçado, pois há quatro anos ela negou aos conservadores que a tacharam de "negra revoltada" o direito de achincalhá-la quando assumiu — com um prazer imenso, diga-se de passagem — as tarefas esperadas de toda primeira-dama, como moda, entretenimento e jardinagem
E o fez em seus próprios termos e não como se fosse uma cópia recauchutada de Jackie Kennedy: suas escolhas na moda são vibrantes e ecléticas, suas festas, inclusivas, e sua horta se encaixa em seu mantra de dieta-exercícios
A escritora Liza Mundy, que começou a trabalhar num livro sobre Michelle Obama durante as primárias de 2008, conta que criou um alerta do Google para a futura primeira-dama. "Eu recebia material sobre ela todos os dias, mas eram sempre críticas", conta. "E o que me impressionou foi que, na posse, só se falava sobre o que ela estava usando. O tom da conversa ficou completamente diferente"
O tempo todo se vê como a moda favoreceu Michelle de uma forma que parece ter desconcertado até Hillary Rodham Clinton como primeira-dama. Mesmo Jackie Kennedy, com toda a sua pose (aos 31 anos), considerava o guarda-roupa da Casa Branca uniforme de trabalho; ela se referia aos tailleurs chiques e vestidos de noite como "roupas de Estado"
Na verdade, era criticada por suas roupas caras e o cabelo bufante. Meses antes da eleição, escreveu uma carta de dez páginas à editora de moda Diana Vreeland pedindo ajuda "para resolver o problemão que eram suas roupas!"
Observar a transformação de Michelle Obama de mãe e advogada de Chicago que preferia calças largas, cardigãs e saias-lápis no sonho de qualquer estilista é fascinante, em parte porque o fenômeno aconteceu praticamente sem pressão da imprensa
Como observa Valerie Steele, diretora e curadora-chefe do Museu do Instituto de Moda e Tecnologia de NY, as roupas de Michelle não se tornaram destaque político tanto quanto sua campanha por uma alimentação saudável. "Por mais estranho que pareça, a moda, que historicamente tende a ser tratada com extrema desconfiança, não lhe causou nenhum problema político", afirma Valerie
De acordo com The Obamas, livro de Jodi Kantor, repórter do New York Times, quando Michelle Obama "viu como lhe caíam as roupas exclusivas e bem produzidas, não quis saber de outra coisa"
Logo no início, a primeira-dama deixou bem claro a seus assessores, Kantor observa, que as escolhas de seu guarda-roupa não deveriam ser questionadas
Hoje só se consegue comentários inócuos dos estilistas que insistem em não se identificar para proteger o relacionamento comercial que mantêm com ela. "Ela se mostra mais confiante". "Ela tem estilo próprio"
Um estilista que não veste Michelle observou, não sem razão (e uma dose de veneno): "Ela usa roupas justas demais"
Como os políticos do passado, Michelle distribui o seu apoio e goza da reputação de ser uma mulher elegante que também encontra espaço em seu guarda-roupa para as peças mais acessíveis da J. Crew e Target. Tendo chegado à Casa Branca no auge da recessão, ela deu gás a estilistas independentes como Narciso Rodriguez, Prabal Gurung e Barbara Tfank, além de casas europeias como Alexander McQueen, que produziu o dramático vestido vermelho usado no jantar de Estado com os chineses
Um estilista norte-americano que já fez coisas para Michelle explicou que a primeira-dama ajudou seu negócio porque as vendedoras agora podem dizer às clientes que não conhecem a grife que "a Sra. Obama também usa essas roupas"
Esse tipo de endosso vale milhões de dólares. Num estudo feito em 2010 por David Yermack, da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York, descobriu-se que o valor médio do impacto econômico de uma aparição de Michelle Obama com o produto de uma empresa era de US$ 14 milhões, cerca de R$ 28,4 milhões
Ainda mais surpreendente é o fato de o gasto de Michelle com roupas atrair pouca curiosidade — obviamente porque se entende que ela ajuda a economia do país. Mesmo assim, gasta milhares de dólares em roupas e acessórios. Foi criticada por usar um tênis Lanvin de mais de 1.200 reais (US$ 500) para ir a um banco de alimentos, em 2009, mas numa época em que a crise econômica é um assunto tão sério, é de se questionar por que os gastos da primeira-dama com moda não causam um furor maior 
Uma dica pode estar em sua decisão, no fim de 2008, de aceitar o convite para posar para a capa da revista Vogue. Como Kantor escreve, seus assessores ficaram divididos, sendo que alguns ficaram preocupados que Michelle, uma mulher de substância, fosse vista como fashionista. Ela rebateu: "Há muitas jovens negras nesse país e eu quero que elas vejam uma negra na capa da Vogue". No fim, as críticas ao resultado final foram insignificantes
Há um elemento contemporâneo que sempre foi dado como certo no entendimento de Michelle de seu papel de primeira-dama: o da cultura das celebridades e de estilo ‒ mas até que ponto ela tinha consciência disso em 2008? É difícil saber. Ficou orgulhosa de ver que os jovens se identificavam com ela, mas será que percebeu que as revistas como Vogue tinham deixado de ser bastiões elitistas para explorar novos exemplos, como atletas, astros pop e estilistas famosos?
Pensando bem, sua decisão de substituir a imagem de mãe e profissional competente pela de figura glamourosa foi brilhante, pois, no fim das contas, acabou por protegê-la
Agora que a posse se aproxima novamente há de se pensar: O que mudou em seu estilo? Na verdade, pouca coisa. Ela simplificou o visual, deixando de lado os tricôs mais esquisitos e coques muito apertados, mas ainda assim adora estampas, decotes drapeados, saias rodadas e, é claro, braços de fora. Seu melhor visual talvez seja o belo Naeem Khan que usou no jantar de Estado oferecido à Índia, embora o McQueen vermelho com que recebeu os chineses não fique muito atrás
Apesar de todo o glamour, muita gente quer saber o que pensa Michelle Obama. Escrevendo para The Economist, em 2009, Adrian Wooldridge, que hoje é o editor da revista, lamenta que as notícias sobre a primeira-dama "sejam quase todas sobre superficialidades" e que o governo não se aproveite mais de sua habilidade única de agir "como garota-propaganda do trabalho árduo e das famílias estáveis"
Recentemente, Wooldridge disse: "Meu tom é menos crítico hoje do que quando escrevi aquele artigo — primeiro porque entendo a dificuldade de combinar o papel político e o simbólico e segundo porque ela causou repercussão nacional e serviu de exemplo em relação a um assunto muito importante"
Apesar disso, ainda acha que a primeira-dama poderia ser uma voz importante em assuntos como equidade de oportunidades e os desafios da jornada dupla, considerando-se os seus antecedentes
"O mecanismo do sonho americano e o de 'fazer por merecer' mudaram drasticamente nos últimos vinte anos", afirma ele. "Ela é uma pessoa que viveu tudo isso, que veio de South Side, em Chicago, e acabou estudando em Princeton e Harvard. Teria que se manifestar. A impressão que tenho é a de que quanto mais sofisticada ela se torna, mas se distancia de suas raízes"
E ele conclui dizendo que a primeira-dama não pode agir como uma bonequinha de porcelana. "Uma primeira-dama meramente decorativa em pleno século 21 seria, no mínimo, estranho"

Pode apostar que quando Michelle Obama estiver ao lado do marido na cerimônia de posse, que acontece no dia 21 deste mês, e nas várias festas e bailes que se seguirão, não estará pensando em seus críticos nem nos assessores da Casa Branca, que já temeram as consequências desastrosas de sua escolha de estilistas — isso porque transformou essa suposta frivolidade em capital político próprio [Texto: The New York Times]

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