Irã reage a críticas ocidentais a supostas violações de direitos humanos
Uma onda de denúncias sobre o autoritarismo do governo ganha forças no país
Internacional|Do R7
O Irã defendeu seu histórico de direitos humanos nesta sexta-feira (31), na esteira de uma onda de críticas ocidentais pela execução de uma mulher que assassinou um homem que ela disse ter tentado estuprá-la.
Mohammad Javad Larijani, secretário-geral do Alto Conselho para os Direitos Humanos do Irã, falou durante um debate de mais de três horas do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) para analisar o histórico de Teerã.
Reyhaneh Jabbari foi enforcada no último sábado (25) na prisão de Evin, em Teerã, pelo assassinato. Os familiares do homem morto se recusaram a lhe conceder uma suspensão temporária da sentença dentro do prazo de dez dias estabelecido pela sharia, a lei islâmica, em vigor desde a Revolução Islâmica de 1979.
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“Não tivemos sucesso ao solicitar o perdão do coração das vítimas. Por isso a execução foi adiante. Embora lamentemos muito que dois cidadãos tenham perdido a vida, a pena capital ou 'qisas' é uma particularidade do nosso sistema. Acho que valeria a pena os países ocidentais a estudarem”, disse Larijani.
“A noção de que só há coisas boas na comunidade ocidental — isso de ‘o Ocidente e o remanescente’ — essa é uma noção muito destrutiva dos direitos humanos”, declarou.
Larijani afirmou ter pedido que os parentes do morto perdoassem Jabbari e poupassem sua vida.
“Infelizmente não conseguimos, talvez uma razão disso seja a imensa propaganda que se fez do caso. Em meu último encontro com o filho da vítima, pedi-lhe com muita humildade que perdoasse, disse a ele: ‘Você perdeu um ente querido, perdõe, este é o ensinamento do Alcorão’”.
“Ele disse ‘tínhamos a intenção de perdoar, mas com esse policiamento da mídia as autoridades estão acusando nosso pai de ter usado a força e cometido um estupro violento, não podemos ter essa humilhação’”.
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O devido processo legal e a independência do Judiciário do Irã estão sacramentados na constituição, afirmou Larijani. Funcionários judiciais e carcerários estão sendo instruídos a respeito dos direitos humanos.
O Irã não discrimina com base em raça, cor, sexo ou religião, e permite que grupos de ativistas trabalhem, declarou ele.
Mas as sanções da ONU impostas a Teerã por conta de seu programa nuclear e “medidas coercivas unilaterais contra nossos cidadãos” criaram obstáculos para os direitos econômicos e sociais, disse Larijani.
Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, França e os Estados Unidos foram alguns dos que denunciaram as supostas violações de direitos humanos no Irã no debate, que é parte do exame do conselho da ONU sobre cada país-membro realizado a cada quatro anos.