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Jovens militantes do grupo La Cámpora são tropa de choque de Cristina Kirchner

Em meio à crise política e à polêmica morte de um promotor, governo terá ano eleitoral difícil

Internacional|Marta Santos, do R7

Militantes do La Cámpora aparecem ao lado de Cristina Kirchner, em imagem feita em 2011
Militantes do La Cámpora aparecem ao lado de Cristina Kirchner, em imagem feita em 2011 Militantes do La Cámpora aparecem ao lado de Cristina Kirchner, em imagem feita em 2011

Jovens, ambiciosos e defensores extremos do governo Kirchner, esse é o perfil dos militantes do grupo político La Cámpora, na Argentina. Escalados para atuar em cargos-chave na administração do país e de grandes empresas privadas, eles são um importante instrumento político para manutenção da imagem da presidente Cristina Kirchner e deverão ter um papel fundamental nas eleições presidenciais deste ano.

O La Cámpora surgiu no início da década de 2000 como uma das principais bases de apoio do governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e continuou ao lado da mulher e sucessora de Néstor, Cristina, durante seus dois mandatos (2007-2011 e 2011-2015).

Apesar de o grupo não divulgar números oficiais, acredita-se que eles tenham dezenas de milhares de membros, principalmente em Buenos Aires, e milhares de funcionários espalhados pelos setores do governo, explicou Osvaldo Coggiola, professor de história contemporânea da USP (Universidade de São Paulo).

— Eles estão dentro do governo, atuam por toda a parte, têm a força mobilizadora e são um aparelho do Estado. Há também uma atuação militante, de ir as ruas e convocar pessoas a votarem na Cristina, por exemplo.

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"La Cámpora é composta por uma população que reconhece as políticas do atual governo, como a recuperação econômica e as conquistas sociais", afirma Carlos Gullo, da Frente para a Vitória (coalizão que apoia Cristina Kirchner). 

— Eles não só aprovam esta política, como retransmitem para as todas as comunidades do país, para que elas percebam as melhorias que têm ocorrido na Argentina.

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Sob o comando de Máximo, filho mais velho do casal Kirchner, o grupo atuou fortemente em prol de zelar pela imagem do governo em pelo menos três ocasiões decisivas nos mandatos de Cristina.

Em 2008, eles se colocaram contra produtores rurais que realizaram dezenas de protestos, bloqueios de estradas e panelaços nas principais cidades argentinas contra o aumento de impostos sobre as exportações agropecuárias e contra a suspensão das exportações de carne e de trigo.

Depois, houve a campanha contra o jornal Clarín, crítico ao governo, que acabou obrigado a se desfazer de alguns bens, após uma decisão judicial antimonopólio em 2013.

Por último, veio o escândalo dos "fundos abutres", fundos especulativos que compraram títulos de credores que não aceitaram uma reestruturação da dívida feita por Buenos Aires entre 2005 e 2010. O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, que é membro do La Cámpora, disse que seu país estava sendo alvo de um ataque internacional encabeçado pelos chamados "fundos abutres" com o objetivo de desestabilizar as finanças da região, mas que o governo não iria ceder às pressões estrangeiras.

Em janeiro deste ano, um novo desafio deverá testar a força do grupo. Os militantes terão a tarefa de ajudar a manter a imagem do governo após a morte ainda misteriosa do promotor Alberto Nisman no último dia 19.

Nisman havia denunciado Cristina e outros funcionários do governo, incluindo membros do La Cámpora, pelo suposto encobrimento de iranianos que seriam os responsáveis por um atentado contra um centro judaico argentino que causou 85 mortes e mais de 300 feridos em 1994.

A presidente, por sua vez, disse que a morte do promotor foi planejada para desestabilizar seu governo e investiu contra os serviços de Inteligência e a imprensa opositora, denunciando tentativas de "ludibriar, esconder e confundir" o caso do atentado.

Manter a aprovação do governo em meio à crise política e econômica é ainda mais importante por se tratar de um ano eleitoral. Como a legislação argentina não permite o terceiro mandato consecutivo, o La Cámpora deve tentar acumular ainda mais cargos no governo para não perder seu protagonismo no cenário político argentino. Nas mãos do grupo pode estar a tarefa de dar continuidade ao "kirchnerismo" na Argentina, após as eleições de outubro.

Para Coggiola, os militantes irão defender a candidatura de Daniel Scioli, o governador da Província de Buenos Aires e um dos nomes mais bem cotados para suceder Cristina.

— La Cámpora vai ter um papel relevante nas eleições deste ano, eles serão a estrutura militante que juntar votos para o Scioli.

Hector Cámpora, Eva e Juan Perón aparecem em uma fotografia de 1952, tirada em Bueno Aires
Hector Cámpora, Eva e Juan Perón aparecem em uma fotografia de 1952, tirada em Bueno Aires Hector Cámpora, Eva e Juan Perón aparecem em uma fotografia de 1952, tirada em Bueno Aires

Contexto histórico

Hector Cámpora, o homem que inspirou o nome do grupo, foi um dos principais aliados de Juan Domingo Perón, um dos políticos mais importantes e simbólicos da América Latina.

Perón assumiu a Presidência em 1946, instituindo um regime ditatorial populista inspirado no modelo de governo do italiano Benito Mussolini. Ao lado da carismática mulher, Eva, governou até ser deposto e exilado em 1955.

A partir de então, o país deu início a 30 anos de alternância entre ditaduras militares e frágeis democracias no poder. Até que, em 1973, Perón retornou à Argentina e governou por um curto período até a sua morte.

Após um longo período de instabilidade política, econômica e social, uma ditadura de ferro iniciada e, 1976 deixou dezenas de milhares de mortos e ''desaparecidos'', entre eles, os parentes das famosas Mães da Praça de Maio.

Muitos dos militantes do La Cámpora são filhos ou netos de vítimas da ditadura, segundo informações do artigo La fuerza de los jóvenes: aproximaciones a la militancia kirchnerista desde La Cámpora (A força dos jovens: aproximações da militância kirchnerista de La Cámpora), de Melina Vázquez e Pablo Vommaro, um dos poucos estudos publicados sobre o grupo.

A Argentina voltou a ser uma democracia em 1983, após a Guerra das Malvinas (1982), com a eleição do presidente Raul Afonsin. O peronista Carlos Menem foi seu sucessor e governou durante toda a década de 1990. Ele instituiu radicais mudanças econômicas vendendo indústrias nacionalizadas e escancarando a economia ao investimento externo. Ao passo que essas medidas domaram a hiperinflação, também conduziram a uma escalada do desemprego e a uma prolongada recessão.

O também peronista Néstor Kirchner assumiu a Presidência em 2003, logo depois da histórica crise de 2001 e 2002, quando cinco presidentes passaram pela Casa Rosada em poucas semanas. Kirchner governou implementando medidas populares e criando um sistema econômico baseado no aumento do consumo que foi mantido por sua viúva, sucessora e atual presidente, Cristina, eleita em 2007 e reeleita em 2011.

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