Palestinos dão passo histórico na ONU, mas Israel promete dificultar mais a relação com os árabes
Europeus pressionam Abbas para que não recorra ao Tribunal Penal Internacional, o que será possível caso o país se torne membro observador da ONU
Internacional|Do R7
Os palestinos irão amanhã, quinta-feira (28), à ONU com a intenção de que a Assembleia Geral os reconheça como Estado observador, em um episódio de peso histórico que pode ajudar a dar continuidade ao engessado processo de paz, mas também pode acarretar consequências imprevisíveis em sua relação com Israel.
Apesar das pressões de várias partes até o último momento, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, parece decidido desta vez a conseguir que uma grande maioria dos países do mundo reconheçam pela primeira vez conjuntamente um Estado palestino nas fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém Oriental, segundo as últimas versões da minuta de resolução que ainda estão negociando para apresentar à Assembleia.
Será uma votação de alta carga simbólica, feita no mesmo dia em que, há 65 anos, a plenária da ONU aprovou a partilha em dois Estados do Protetorado Britânico na Palestina, divisão que os árabes rejeitaram e que propiciou meses depois a criação do Estado de Israel.
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Com sua posição enfraquecida diante do protagonismo que o Hamas teve durante a recente ofensiva israelense em Gaza, uma crise financeira na ANP que ameaça asfixiá-la e a solução de dois Estados a ponto de quase se extinguir, sobram poucas alternativas a Abbas para tentar superar o marasmo dos últimos anos, independentemente do recurso da ONU.
Israel já advertiu que a iniciativa palestina poderia ter graves consequências, que vão desde congelar os fundos que arrecada para os palestinos e acelerar a construção de assentamentos até provocar o colapso da ANP e derrubar o próprio Abbas, como propunha o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.
Contudo, a resposta de Israel dependerá em grande parte do uso que os palestinos farão de seu novo status nas Nações Unidas, e especialmente de se decidirem recorrer aos tribunais internacionais para denunciar funcionários israelenses, possibilidade que sua nova condição lhes daria.
O Reino Unido, cujo voto pode influenciar outros países da UE, condicionou na última hora seu voto precisamente a que os palestinos desistam de comparecer ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
Fontes palestinas próximas às negociações asseguraram à agência EFE que, embora estejam dispostas a admitir outras questões, "não se aceitará nenhum condicionamento nesse ponto", já que significaria "ceder soberania".
Em todo caso, só o mero fato de comparecer à ONU já provocou mudanças substanciais no panorama do conflito e em posturas que permaneciam estagnadas desde que as negociações de paz ficaram em suspenso, há mais de dois anos.
O próprio Abbas manifestou sua vontade de retomar as negociações "imediatamente depois" da votação da Assembleia Geral, embora do lado israelense provavelmente seja preciso esperar o resultado das eleições gerais de 22 de janeiro para avançar nos eventos.
Os palestinos afirmam que contam até o momento com o voto de 140 dos 193 países-membros da Assembleia Geral e acreditam que conseguirão ainda mais apoios até pouco antes do começo da sessão plenária de quinta-feira.
Entre os que apoiam, está a maioria dos países latino-americanos — com a exceção de Panamá, Colômbia e Guatemala — e praticamente a metade dos europeus, entre eles França e Espanha, além de quase todos dos asiáticos e africanos.
Entre os oponentes, além de Israel, o Estado mais decisivo são os Estados Unidos.
Todo o processo esperou, para se concretizar, a reeleição no início de novembro de Barack Obama, de quem os palestinos esperam um segundo mandato com maior empenho na revitalização do processo de paz e da solução dos dois Estados.
Por enquanto, Washington advertiu que a votação é "um passo atrás" na aspiração palestina de ter um Estado próprio e o Congresso americano ameaçou retirar os fundos de ajuda à ANP.