Para um melhor planejamento, observe as tendências demográficas globais
O mundo deverá atingir a marca de 8 bilhões de habitantes e precisa se preparar para o fato
Internacional|Do R7
Enquanto governos e instituições tentam lidar com a incerteza e a volatilidade econômica, um importante fator de relativa constância costuma ser ignorado: os dados demográficos. Contudo, ignorar grandes tendências demográficas certamente resultará em politicas equivocadas, programas insustentáveis e recursos mal gastos.
Com cerca de sete bilhões de habitantes, a população do planeta cresce 1,1%, ou cerca de 78 milhões de pessoas ao ano, metade do pico de 2,1% ocorrido no final dos anos 1960. Ainda que o índice de crescimento demográfico continue a diminuir graças a uma menor taxa de natalidade, a marca dos oito bilhões provavelmente será alcançada em 2025. Isso representará um crescimento de 13% na população em idade de trabalho, entre 14 e 64 anos, e de 52% nas pessoas com mais de 65 anos, ou seja, um acréscimo de 610 e 290 milhões de indivíduos, respectivamente.
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Além disso, quase todo o crescimento demográfico mundial anual – cerca de 95% – acontece em regiões menos desenvolvidas. Os países que mais contribuem são a Índia, 22%, a China, nove por cento, a Nigéria, cinco por cento, o Paquistão, quatro por cento, a Indonésia, três por cento, o Brasil, dois por cento, e a Etiópia, dois por cento. Em vista de seu enorme crescimento, a população da Índia, atualmente maior que a de todos os países desenvolvidos juntos, será maior que a da China em uma década, quando se acredita que o total chegará a 1,4 bilhão de habitantes.
Entre as regiões mais desenvolvidas, o país que mais contribui para o aumento da população mundial são os Estados Unidos, com três por cento, seguido por Espanha, Itália, Austrália, Reino Unido, França e Canadá, com taxas que variam de 0,5 a 0,7%ao ano.
Embora quase todo o crescimento demográfico do mundo ocorra em regiões menos desenvolvidas, 54% do PIB são produzidos pelas 10 maiores economias nacionais, todos países desenvolvidos. Em conjunto, os países mais desenvolvidos, liderados por Estados Unidos, Japão e Alemanha, representam 14% da população mundial, um total que deverá cair para 11% até meados do século.
Em terceiro lugar, além do fato de que a maior parte do crescimento está acontecendo em regiões menos desenvolvidas, as populações estão se tornando mais concentradas em áreas urbanas. Muitos desses centros urbanos se encontram em regiões costeiras. Quase 250 milhões de pessoas vivem em áreas costeiras pouco mais de cinco metros acima do nível do mar. As mudanças climáticas estão tornando esses centros urbanos mais vulneráveis ao aumento no nível dos mares e a outros perigos como tempestades e inundações.
Em quarto lugar, a fertilidade global continua a diminuir. Atualmente as mulheres têm em média 2,5 filhos cada, metade dos índices de 50 anos atrás. Essa tendência deve continuar, chegando a 2,3 filhos por mulher em 2025 e 2,1 em meados do século, praticamente o volume necessário para manter a população constante.
Por trás de todas essas médias residem consideráveis variações demográficas de região para região. As taxas de fertilidade de países desenvolvidos e de um número cada vez maior de países em desenvolvimento estão abaixo do necessário para manter a população constante, o que se traduz em taxas de crescimento negativas. Até meados do século XXI, a população de cerca de três dúzias de países, incluindo China, Alemanha, Itália, Japão, Polônia, Rússia e Coreia do Sul deverá ser menor que nos dias de hoje.
Em contraste, as taxas de natalidade dos países africanos caíram de quase sete para pouco mais de quatro filhos por mulher em média, com países como Mali, Níger e Uganda com médias superiores a seis filhos por mulher. Embora se acredite que essas taxas de fertilidade irão declinar, elas serão responsáveis pelo rápido crescimento populacional de boa parte dos países subsaarianos nas próximas décadas.
Outra importante consequência do declínio das taxas de natalidade, assim como do aumento da expectativa de vida, é o envelhecimento da população, uma transição global que ocorre em grupos cada vez maiores. Os países mais desenvolvidos lideram essa transformação demográfica histórica. Vinte por cento das populações de países como Alemanha, Itália e Japão já têm mais de 65 anos. Embora as proporções de idosos sejam menores, o ritmo do envelhecimento da população em países menos desenvolvidos é mais rápido. As populações de idosos de Brasil, China e Indonésia irão dobrar nos próximos 25 anos.
Em sexto lugar, por conta do aumento da longevidade, o número de pessoas com 80 anos ou mais – que são as que mais precisam de assistência e tratamentos médicos relacionados à idade – cresce rapidamente. Durante os próximos 25 anos, o número de pessoas com mais de 80 anos, das quais quase dois terços são mulheres, irá aumentar de 105 para 246 milhões, chegando a três por cento da população mundial, ou o dobro da proporção atual.
Entre os países desenvolvidos, a proporção de pessoas com mais de 80 anos será recorde em 2035: 14% no Japão e quase 10% na Alemanha e na Itália. Espera-se que essa população triplique nos próximos 30 anos em países como a China, a Indonésia e a Coreia do Sul.
O envelhecimento da população e o aumento da longevidade são cada vez mais importantes para decisores políticos de países mais e menos desenvolvidos. O envelhecimento da população, em especial, levanta sérias preocupações em relação à viabilidade financeira das aposentadorias e dos sistemas de saúde pública para idosos.
Em sétimo lugar, como resultado das diferenças no crescimento populacional e nas estruturas etárias, bem como nos padrões de vida entre países mais e menos desenvolvidos, poderosos fatores de pressão irão continuar a produzir grandes fluxos migratórios internacionais. Por um lado, o declínio relativo da mão de obra e o aumento no número de aposentados representam para muitos países ricos a difícil escolha de se abrir para a imigração ou aceitar um número menor e mais idoso de cidadãos. Por outro lado, a população de muitos países em desenvolvimento, incluindo Índia, Nigéria, Paquistão e Filipinas, continua a crescer rapidamente, ainda que muitos jovens busquem oportunidades nos centros urbanos de países desenvolvidos.
As consequências dessas mudanças demográficas afetarão cada aspecto da sociedade humana, incluindo alimentação, recursos naturais, bem-estar econômico, segurança, renda, política, emprego e saúde. Retórica política e bons pensamentos não serão o bastante para eliminar os efeitos dessa mudança. Na verdade, para nos ajustarmos às grandes tendências populacionais, precisaremos de atenção constante, decisões bem informadas e reformas sociais e econômicas, o que é cada vez mais raro nos dias de hoje.
(Joseph Chamie, ex-diretor da Divisão Populacional das Nações Unidas, deixou recentemente o cargo de diretor de pesquisa do Centro de Estudos de Migração, com sede em Nova York.)
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