Em depoimento prestado à Polícia Federal do Espírito Santo, o piloto Rogério Antunes, preso ao ser flagrado transportando cerca de 445 kg de pasta base de cocaína no helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), confirmou que sabia que a carga era "ilícita". Antunes alegou que receberia R$ 106 mil pelo frete, e, devido ao alto valor do pagamento, desconfiava da natureza da carga.
A versão dada pelo piloto contradiz o que afirmou o advogado dele, Nicácio Pedro Tiradentes, à imprensa. O defensor ressaltou que o funcionário e o deputado não sabiam que o helicóptero seria carregado com a droga. Ele afirmou ainda que o parlamentar sabia do frete, já que Antunes teria ligado para o patrão perguntando se poderia fazer o frete de implementos agrícolas.
— O Rogério só tomou consciência de que era droga quando chegou à fazenda em Afonso Cláudio. Covardemente, o Gustavo Perrella disse que ele roubou helicóptero. O que me revoltou foi ter chamado meu cliente de ladrão, sendo que ele sabia do voo. O Rogério é muito íntegro, trabalhador, nunca teve problema com a Justiça e querem que ele assuma o risco sozinho.
Quando fez a declaração, Tiradentes ainda alegou que pediria à Justiça o registro de ligações do piloto para comprovar a inocência do cliente.
— Se for preciso, peço a quebra dos sigilos telefônicos. Armaram pra ele.
Procurado pela reportagem do portal R7 para comentar a versão dada por seu cliente, o advogado não foi encontrado.
ALMG custeava combustível
O helicóptero pertencente ao deputado estadual Gustavo Perrella,era abastecido com o dinheiro da verba indenizatória paga ao parlamentar pela ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais). Entre janeiro e outubro deste ano, Perrella gastou aproximadamente R$ 14 mil com o combustível da aeronave, de acordo com os dados disponíveis no Portal da Transparência da entidade. A quantia equivale a aproximadamente 2.800 litros de combustível.
Além disso, o piloto do parlamentar foi exonerado do cargo de agente de gabinete que mantinha na Casa desde abril deste ano, por indicação do próprio Perrella. Antunes recebia R$ 1.700 pelo trabalho e estava lotado na 3ª Secretaria da ALMG desde abril deste ano, na cadeira ocupada pelo deputado Alencar da Silveira (PDT).
Entenda o caso
Além do piloto, outras três pessoas foram presas pela Polícia Federal na cidade de Afonso Cláudio (ES) no domingo (24) enquanto transferiam a droga para o porta-malas de um carro. A droga estava avaliada em R$ 10 milhões.
O helicóptero, do modelo Robinson R66, está registrado em nome da Limeira Agropecuária e Participações Ltda, que é controlada pelo deputado, com sede em Pará de Minas, região central do Estado.
Em entrevista coletiva, Gustavo Perrella disse que denunciou o piloto por furto da aeronave. Ele afirmou que o funcionário não estava autorizado a usar o helicóptero e que não sabia do uso para o transporte de cocaína.
— Ele não tinha autorização de estar fazendo esse voo porque o que foi me passado por ele é que a aeronave estaria em revisão durante essa semana. Até por isso eu não fiz uso dela no final de semana. A partir do momento que ele não tem autorização para estar efetuando o voo, é considerado roubo.