Tem patroa que não larga empregada e doméstica que perdeu o emprego após nova lei
R7 conversou com algumas trabalhadoras para saber o que mudou após a regulamentação
Retrospectiva 2013|Vanessa Beltrão, do R7
Há quase 20 anos, Maria José da Silva, de 53 anos, trabalha na casa da professora Tamara Helena Seno, em Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Uma relação que começou trabalhista e, atualmente, também é afetiva. Tamara paga até o que ainda não é regulamentado por lei, como FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e plano de saúde.
— Já é considerada da família. Ela tem o mesmo plano de saúde que eu tenho. É uma coisa que a gente faz, independente da lei, porque gostamos muito dela.
Com todos esses benefícios, a nova regulamentação não fez tanta diferença na vida da Maria José que já trabalhava com carteira assinada, férias e 13° salário.
— Eu já era valorizada antes porque os meus patrões sempre foram maravilhosos comigo...[São] 19 anos, a gente pega amor. Nunca tive problema, para mim continua a mesma coisa.
A mesma sorte não teve a doméstica Elzi Lucia Faria. Ela trabalhava havia quase quatro anos numa residência na zona oeste de São Paulo, mas foi demitida após a aprovação da nova lei.
Segundo Elzi, a antiga patroa alegou que o salário de R$ 2.000 com carteira assinada iria passar para R$ 5.000 com o pagamento das horas extras que entrou em vigor com a PEC.
— Eu acordava às 5h e tinha que estar na cozinha às 5h30. Praticamente trabalhava o dia todo, mexia com roupa, lavava, passava e servia o jantar.
Lei aprovada neste ano aumentou direitos trabalhistas das domésticas
A demissão, porém, não foi um grande problema.
— Eu fiquei um pouco triste porque eu gostava muito de lá. Eu não tenho medo do trabalho. Fiquei um mês em casa e depois fui procurar a agência. No mesmo dia, fui chamada para fazer uma entrevista. Graças a deus, o meu currículo é muito bom.
Atualmente, ela trabalha em um apartamento na zona leste de São Paulo e ganha R$ 1.800 com carteira assinada. Mas como não anda recebendo adicional noturno e hora extra, que é obrigatório por lei, já está procurando um novo emprego.
— Nada disso foi cumprido, foi pago.
Apesar dos problemas que teve e continua tendo, Elzi avalia como positiva a PEC das domésticas.
— Essa lei até que foi boa para muita coisa. Doméstica trabalha muito. Eu trabalhei numa casa no Morumbi e, às vezes, até meia-noite, eu estava na cozinha e muitas pessoas não dão valor.
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Já para Sônia Maria dos Santos que já está com 57 anos, a aprovação da lei não foi um estímulo para deixar de ser diarista. Segundo ela, os salários das oportunidades que apareceram não compensaram a mudança.
— Já pensei, sim. Às vezes, o que aparecia por mês não era o melhor salário no momento.
Como se ainda estivesse em dúvida em relação à decisão, ela pondera.
— Faz falta [estabilidade]. Já tenho mais de 50 anos e a gente começa a pensar lá no futuro para se aposentar, sim. Trabalhar por conta, ter uma estabilidade é complicado.
Para ter uma renda média atual de R$ 1.500, Sônia trabalha de segunda a sexta, sem horário fixo, em pelo menos cinco casas por semana.
— Fui arrumando uma casa e outra e ali vai ficando.