Arrastões: Beltrame diz que ação da PM foi "tolhida" por decisão judicial
Após crimes na zona sul do Rio neste fim de semana, secretário diz temer linchamentos
Rio de Janeiro|Do R7, com Agência Estado
Após um fim de semana de arrastões e de reações violentas a eles por parte de moradores da zona sul do Rio de Janeiro, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que vai procurar ainda nesta segunda-feira (21) o prefeito Eduardo Paes (PMDB). O objetivo é tentar "convocar" a Secretaria Municipal de Assistência Social para ações de prevenção da criminalidade da Polícia Militar na orla da zona sul.
Segundo a PM, mais de 40 suspeitos de atuarem nos arrastões foram encaminhados para delegacias. Só no domingo (20), 33 pessoas foram levadas por suspeita de furto.Beltrame criticou a ausência dos assistentes sociais nos últimos sábado (19) e domingo. Repetindo um discurso que lhe é recorrente, atribuiu os episódios de violência registrados ao fato de a polícia estar "só", sem amparo de outros órgãos do Estado e da prefeitura.
— A polícia não vai resolver tudo sozinha. E isso está acontecendo porque a polícia está só. A polícia foi tolhida na sua missão de prevenção. Precisamos de outros atores para fazer esse papel, porque o esquema está desequilibrado (...) Temos um órgão que executa tudo isso, enquanto tem várias instituições que fiscalizam. O que vamos fazer é trazer todos os órgãos que tem a ver para esse tipo de ação.
Ao dizer que a polícia foi "tolhida", o secretário se referiu à decisão judicial de agosto deste ano, que proibiu a apreensão, pela polícia, de adolescentes, sem evidências flagrante delito. Os agentes costumavam levá-los às delegacias apenas porque estavam sem dinheiro ou causando tumultos, sem nem mesmo terem cometido atos infracionais.
A determinação da Justiça prevê ações integradas da PM, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e das secretarias municipais de Ordem Pública e Assistência Social, com foco na prevenção de delitos e na proteção de adolescentes em situação de vulnerabilidade. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro divulgou na tarde desta segunda-feira (21) nota em que afirma ser legítima a abordagem policial contra pessoas que estejam praticando atos ilícitos. A Defensoria Pública do Estado do Rio esclarece que o habeas corpus do dia 10 de setembro apenas assegura o cumprimento da lei, que impede a apreensão de menores de idade sem flagrante. Segundo a Defensoria, a decisão realmente não impede a abordagem, que é papel da polícia.
Beltrame disse que órgãos de inteligência da Polícia Militar já detectaram a articulação de grupos de "justiceiros", que pregam agressões contra jovens que cometerem delitos.
— Eu temo que haja problema de linchamento se isso continuar desse jeito. Em vez de um problema, estamos com o risco de ter dois.
Beltrame disse que a polícia terá que se preocupar ainda em reprimir eventuais crimes cometidos por moradores da zona sul.
Crimes além da praia
O coronel Cláudio Lima Freire, chefe operacional do Estado-Maior da PM, disse que o esquema de policiamento será "reavaliado" e admitiu que não há efetivo policial que dê conta do número de praticantes de furtos e roubos que chegam à orla de Copacabana e Ipanema, onde estão as principais praias da zona sul, em fins de semana de sol.
— Não tem polícia no mundo que vai ter essa capilaridade de ter policiais em todos os sinais de Copacabana e Ipanema.
Segundo ele, a novidade deste ano é que os assaltante vêm se espalhando pelas ruas dos bairros, em vez de restringirem suas ações às areias e à Pedra do Arpoador, em Copacabana.
A PM também criticou de maneira velada os órgãos de assistência social, as secretarias Municipais de Ordem Pública e de Assistência Social, pela ausência nas ações que deveriam ser integradas nos últimos dias.
— Os outros órgãos têm que estar presentes. A Polícia Militar não vai dar conta do recado sozinha. Os órgãos incluídos na decisão judicial têm que estar presentes.