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Polícia investiga se suspeitos da morte de cinegrafista foram aliciados para protestos

Investigadores apuram se há ligação de grupos em atos de vandalismo

Rio de Janeiro|Do R7

Caio é suspeito de acender rojão que matou cinegrafista da Band
Caio é suspeito de acender rojão que matou cinegrafista da Band

Setores da inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga se os suspeitos da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes foram aliciados para protestos.

Em entrevista nesta quarta-feira (12) sobre a prisão de Caio Silva de Souza, o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, informou que uma investigação já em curso apura o possível aliciamento dos jovens. No entanto, ele não deu detalhes sobre a apuração, alegando que agora qualquer afirmação seria prematura e que os resultados serão informados "no momento certo, na forma certa".

Com as informações colhidas no inquérito sobre a morte de Santiago Andrade e investigações paralelas, a polícia pretende descobrir se há ligação de Souza e Fábio Raposo — manifestante preso no domingo (9) — com os atos de vandalismo e se eles participariam de manifestações por vontade própria ou se seriam convocados por algum grupo.

A polícia quer saber se há uma organização por trás de atos de violência, segundo o delegado Maurício Luciano, da 17ª DP (São Cristóvão).


— Há investigações no sentido de esclarecer toda essa cumplicidade, se há cumplicidade, a quem interessa, quem integra, o que cada um faz, qual o papel de cada um, se é uma organização, se não é.

Advogado denuncia pagamento


O advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende Souza e Raposo, ambos indiciados pela morte do cinegrafista disse, em entrevista à Globonews, que jovens de famílias pobres vêm recebendo R$ 150 para participar de cada uma das manifestações no centro da cidade. Ele não especificou quem faz os pagamentos, mas acusou partidos políticos de envolvimento nisso. Mais cedo, o advogado classificou Souza como um rapaz "idealista", porém "manipulado".

— Esse menino foi convocado, aliciado para participar de manifestações. Esses jovens são remunerados para isso. Não estou eximindo ele de responsabilidade, mas esses jovens são municiados.


Luciano, que é responsável pela investigação da morte do cinegrafista Santiago Andrade, acompanhou diligência que efetuou a prisão do suspeito em Feira de Santana, na Bahia. O delegado disse que Souza, em suas relações pessoais, é calado e tranquilo. Entretanto, o agente avalia que "sob o efeito da multidão, ele se transforma". Luciano disse ainda que o pai afirmou sempre ter tentando convencer Souza de participar de manifestações. Segundo o policial, a família dele é "muito pobre" e a casa, que fica em Nilópolis, na Baixada Fluminense, é "miserável".

— Ele veio a viagem inteira me pedindo que conseguisse alguma coisa com assistente social para a mãe dele, que não tem renda alguma. Foi isso que constatei: uma pessoa muito pobre, talvez manipulada para agir dessa forma em manifestações. É de cortar o coração como ele vive.

O delegado também disse que Souza sabia que tinha em mãos um rojão, quando acendeu o artefato que atingiu o profissional da TV Bandeirantes. Caio foi preso na madrugada desta quarta-feira (12), em uma pousada em Feira de Santana, na Bahia. Ele tinha a intenção de fugir para Ipu, no Ceará, onde moram seus avós paternos.

Durante o voo de volta, que chegou ao Rio pela manhã, o suspeito pouco falou e disse que só prestaria esclarecimentos em juízo.

— Ele se calou, disse que não ia falar. Mas não tenho dúvidas de que ele sabia o que estava deflagrando. Esse tipo de artefato é recorrente em manifestações. Inclusive, o Esquadrão Antibombas tem uma série de apreensões, é conhecido como rojão treme-terra.

O delegado afirmou ainda que o suspeito fugiu antes mesmo de ter a prisão decretada pela Justiça, na noite de segunda-feira (10).

— Ele embarcou no ônibus segunda-feira pela manhã. Fugiu antes de saber da prisão. A repercussão gerou temor nele e fez com que ele preferisse ir para Ipu, onde residem os avós paternos dele.

A namorada de Souza foi peça importante nas tratativas para ele se entregar. Por telefone, ela teria convencido o rapaz a interromper a fuga. Após ser preso, ele disse que não comia havia dois dias.

Souza foi identificado com a ajuda do outro envolvido, Fábio Raposo,preso desde domingo (9). Raposo diz ter repassado o rojão ao outro manifestante.

Na terça-feira (10), o Disque-Denúncia divulgou a foto do suspeito para que a população ajudasse a localizar o seu paradeiro. Policiais fizeram buscas em vários pontos do Rio de Janeiro para cumprir o mandado de prisão temporária contra Souza, mas não o encontraram no Estado. Funcionário do hospital Rocha Faria, ele teria dito aos colegas que estava com insolação e, por isso, teria de faltar.

"Há partidos envolvidos", diz Cabral

Ao comentar a prisão de Caio, o governador Sérgio Cabral (PMDB) disse que "esses dois jovens estão inseridos em um contexto maior" que envolve partidos políticos e organizações.

Sem citar nomes, Cabral afirmou: "Há partidos políticos e organizações embutidos nessas ações (de violência que ocorrem durante manifestações). Essas questões não devem ficar camufladas, é preciso tirar a máscara. A dimensão mais grave é que envolveu a vida de uma pessoa (...) Esses dois jovens fazem parte de uma concepção de desprezo do institucional, do legal, do democrático. Há grupos e segmentos de partidos políticos que desprezam o processo democrático, as instituições, a economia de mercado. Esses dois jovens estão inseridos em contexto maior, são ações que se complementam".

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