Com ataque à sede da prefeitura, São Paulo vive dia mais violento de onda de manifestações
Sexto ato contra aumento da tarifa de ônibus reuniu cerca de 50 mil pessoas nesta terça-feira
São Paulo|Fernando Mellis, Julia Carolina e Thiago de Araújo, do R7
Um dia após manifestação história na cidade de São Paulo reunir mais de 100 mil pessoas nas ruas da cidade, o sexto ato contra o aumento da tarifa de ônibus na capital paulista, ocorrido nesta terça-feira (18), foi o mais violento de todas as manifestações. Com início pacífico, milhares de pessoas se reuniram na praça da Sé por volta das 17h. No entanto, os tumultos começaram quando uma parte do grupo caminhou para a sede da prefeitura antes da definição oficial do trajeto que a passeata faria.
Em pouco tempo, o prédio da prefeitura, no viaduto do Chá, na região central, foi cercado. Um grupo de pessoas queimou um boneco com o rosto do prefeito Fernando Haddad e, na sequência, parte dos manifestantes derrubou a grade que dava acesso ao pátio da prefeitura e invadiu o local. Com pedras, eles quebraram vidros das cinco grandes vidraças da frente do prédio. Enquanto isso, outros participantes gritavam "sem vandalismo, sem violência". A parede da sede do governo municipal também foi pichada. Uma das mensagens era "3,20 não".
Manifestantes depredam sede da Prefeitura de São Paulo
A GCM (Guarda Civil Metropolitana) usou spray de pimenta e gás lacrimogênio para conter a manifestação e impediram que o prédio fosse invadido. A confusão na região continuou e manifestantes arrancaram a bandeira da cidade de São Paulo do mastro da prefeitura e tentaram atear fogo. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, Fernando Haddad (PT) deixou o edifício por volta das 17h30 para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff, em São Paulo, e foi orientado a não voltar ao prédio.
Além do grupo concentrado nos arredores do viaduto do Chá, uma parte dos manifestantes seguiu para o parque Dom Pedro 2º e tentou invadir o local, mas foram impedidos por outros participantes do protesto. A briga e o conflito entre os próprios manifestantes foram constantes durante todo o tumulto na região central. A confusão continuou durante a noite desta terça-feira (18).
Houve diversos registros de vandalismo, depredação de agências bancárias, saques a lojas do centro, prisão de ao menos 15 pessoas por tentativa de saque a estabelecimentos e um carro de reportagem da Record foi depredado e queimado. A Tropa de Choque foi acionada para controlar a situação.
No começo da madrugada desta quarta-feira (19), foram registrados casos de depredação e incêndio em um restaurante da rua Augusta e em uma loja da rua da Consolação, na região da avenida Paulista.
Bloqueios
Apesar da tensão na região central, milhares de pessoas que estavam concentradas na praça da Sé, marcharam pacificamente para a avenida Paulista em direção a rua da Consolação. Toda a via foi interditada, mas não houve nenhum tumulto nem registro de confusão no local. De acordo com o Datafolha, cerca de 50 mil pessoas participaram do ato.
Durante o ato, muitas ruas, principalmente da região central, ficaram totalmente bloqueadas e o trânsito chegou a ficar acima da média. Além disso, a CPTM suspendeu a circulação dos trens da linha 9-Esmeralda por motivo de segurança.
Em relação à violência da manifestação desta terça-feira, Rodolfo Valente, advogado do MPL, declarou que “os atos de vandalismo não têm nada a ver com o movimento” e afirmou que nenhuma pessoa do movimento estava nas ruas.
Mais cedo nesta terça-feira, Haddad se reuniu com líderes do MPL, durante reunião do Conselho da Cidade, e disse que irá analisar as planilhas de custos do transporte público para avaliar a possibilidade de reduzir a tarifa, reajustada de R$ 3 para R$ 3,20 reais no início do mês.
Próximo ato
Sétimo protesto contra o aumento das tarifas de transporte público está previsto para o dia 20 de junho, às 17h, com concentração na praça do Ciclista. A informação foi divulgada em panfletos durante a manifestação desta terça-feira (18).
Os protestos que pararam São Paulo nos últimos dias são organizados pelo Movimento Passe Livre, que tem como principal bandeira a mudança do sistema de transporte das cidades da iniciativa privada para um modelo público, "garantindo o acesso universal através do passe livre para todas as camadas da população". O movimento calcula que 37 milhões de brasileiros deixam de se utilizar do transporte público por não poder arcar com o custo das passagens.
Na prática, o MPL quer que o transporte público seja gratuito. Portanto, a briga não é somente contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte coletivo em São Paulo — de R$ 3,00 para R$ 3,20. Sua carta de princípios diz que “o MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população”.
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