Dívida total da Santa Casa é de R$ 320 milhões, diz provedor
Ele também rebate Ministério da Saúde e afirma que avisou sobre fechamento do pronto-socorro
São Paulo|Do R7, com Rede Record
O provedor da Santa Casa, Kalil Rocha Abdalla, afirmou nesta quarta-feira (23) que a dívida total da Santa Casa de Misericórdia é de R$ 320 milhões. Responsável por atender 1.200 pacientes todos os dias e referência em atendimentos de alta complexidade, o pronto-socorro fechou as portas, por volta das 18h de terça-feira (22), por falta de recursos para a aquisição de materiais e medicamentos. Os insumos deixaram de ser entregues pelos fornecedores depois de a instituição acumular uma dívida de cerca de R$ 50 milhões com as empresas, como explica Abdalla.
— Estamos agora pretendendo acertar essa dívida de R$ 50 milhões que ela vinha se acumulando com o passar do tempo. Chegou no dia de ontem [terça-feira], os fornecedores resolveram não entregar mais, fazer uma pressão e, com isso, nós ficamos em uma situação difícil. Nós fomos obrigados a fechar as portas.
O Ministério da Saúde informou ter recebido "com preocupação" a informação sobre o fechamento do pronto-socorro já que, de acordo com a pasta, a medida "unilateral" não foi comunicada previamente. Abdalla rebateu a acusação e disse que as esferas municipal, estadual e federal foram avisadas.
— Ontem, quando nós tomamos a decisão de fechar a Santa Casa porque não tinha possibilidade de atender pacientes no pronto-socorro por falta de material e de medicamento, nós comunicamos todo mundo, os três órgãos. Conversamos com o ministério, conversamos com o secretário [estadual da saúde], David Uip, e conversamos com o Fillipi [José de Filippi Junior], o secretário municipal da saúde.Todos foram avisados.
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A Secretaria Municipal da Saúde informou nesta quarta-feira, que ofereceu materiais de uso básico suficientes para até uma semana de atendimento a fim de evitar o fechamento do pronto-socorro da Santa Casa. Mas, de acordo com a secretaria, a Santa Casa agradeceu, mas dispensou a ajuda. O provedor da Santa Casa confirmou a informação.
— O Fillipi falou: "Eu mando um caminhão de remédios. Eu mando o que você precisar de remédio". Não resolve o problema porque no dia seguinte eu preciso de mais remédio.
Abdalla argumentou que o problema é a defasagem da tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) que, segundo ele, está defasada há dez anos. Com isso, o valor pago pelo governo federal tem déficit em relação ao valor real. Ele também rebateu a informação de que o Estado e a União dobraram os repasses para a Santa Casa em 2014.
— Não é só dobrar, precisa atualizar e botar em dia.
Crise financeira
A crise da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é antiga. Em 2011, o hospital ameaçou, pela primeira vez, suspender o atendimento no pronto-socorro.
A dívida da instituição era de R$ 120 milhões. Na época, apesar do aporte mensal de R$ 24 milhões feito pelo Ministério da Saúde e pelo governo do Estado, a Santa Casa tinha um déficit de R$ 10 milhões por mês.
O superintendente do local, Antonio Carlos Forte, atribuía o problema ao aumento de custos de equipamentos e, sobretudo, de medicamentos. A alta no atendimento e novas diretrizes legais — que obrigavam, por exemplo, a troca de cateteres em vez de o reuso com esterilização — também ajudavam a ampliar a crise.
A preocupação que levou o hospital a cogitar o fechamento do pronto-socorro na época era que, sem capacidade para comprar remédios, o atendimento aos pacientes internados ficasse prejudicado.
Naquele ano, a Santa Casa recebeu R$ 10 milhões da Secretaria Estadual de Saúde. A verba de emergência foi concedida para manter o atendimento e para que o pronto-socorro não fosse fechado.