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Em audiência, diretor da FMUSP nega que instituição tenha omitido casos de violência sexual 

Unidade deve abrir núcleo de acolhimento às vítimas a partir de fevereiro 

São Paulo|Do R7, com Agência Brasil

O presidente da CPI dos trotes, deputado Adriano Diogo
O presidente da CPI dos trotes, deputado Adriano Diogo

O diretor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), José Otavio Costa Auler Junior, negou que a instituição tenha sido omissa nos casos de abuso e violência sexuais denunciados por estudantes no ano passado.

O depoimento foi feito nesta quinta-feira (15), durante audiência da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) instaurada na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) para apurar casos de violência dentro das universidades paulistas.

Auler Junior não soube precisar, no entanto, quantos casos ocorreram dentro da faculdade nos últimos anos. O diretor disse que enviará à CPI, em breve, na íntegra, todos os processos de apuração existentes. Ele reconheceu que, pelo menos desde 2012, não houve nenhum aluno punido em decorrência das denúncias.

— Todos os casos que chegaram a nosso conhecimento oficialmente foram apurados. A faculdade não se omitiu em nenhuma hipótese sobre isso. Muitos dos assuntos chegaram a nosso conhecimento por meio desses depoimentos [da CPI]. Estamos dispostos a promover novas políticas e correções.


O diretor acrescentou ainda que, a partir de fevereiro, entre outras ações, será instituído um núcleo de acolhimento aos alunos, com assistência médica, advogados e psicólogos, em que os estudantes possam relatar seus problemas.

Também será criado um núcleo de ações de direitos humanos e uma ouvidoria na faculdade, de fácil acesso aos estudantes.


— Os calouros passarão a ser recebidos de maneira totalmente diferente. Não haverá álcool. E vamos começar a recepção com os pais, explicando para eles toda a situação e mostrando todos os mecanismos que a instituição tem hoje de acesso à denúncia.

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O presidente da CPI, o deputado Adriano Diogo, questionou a razão de todas as sindicâncias da faculdade, até o momento, não terem sido concluídas, com indicação dos culpados.

Ele disse que não criminalizar a conduta desses estudantes agora poderá gerar médicos como Roger Abdelmassih, condenado por ter abusado sexualmente uma série de mulheres em sua clínica.

— A gente achava que essas barbaridades aconteciam nas faculdades dos grotões, onde o MEC [Ministério da Educação] não entrava. Mas não, são nas melhores, nas mais espetaculares, na cara de todo mundo. Nós temos que aproveitar esse momento mágico [da CPI] para estabelecer novas formas de funcionamento.

Denúncias

Em depoimento colhido nesta quarta-feira (14) durante outra audiência promovida pela CPI, Rodolfo Furlan, estudante de medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Sorocaba, relatou as humilhações pelas quais alunos novatos são obrigados a passar na instituição.

Segundo o estudante, que atualmente mora nos Estados Unidos, existem dois tipos de trotes aplicados aos alunos de medicina da PUC Sorocaba: o mínimo, que é o corte do cabelo do calouro, a pintura do corpo, a obrigatoriedade do uso da camiseta; e o mais complexo, que chega a incluir a ingestão de vômito e fezes de terceiros e recepção de urina na cabeça.

Na mesma audiência, a estudante da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz)-USP Jade Gonçalves Ribeiro relatou as violentas práticas de trote em sua instituição. 

A aluna contou sobre o trote chamado Ralo Monstro, que leva alunos despidos e bêbados para um canavial. Lá, eles são abandonados para voltarem nus às suas repúblicas. Jade contou ainda que algumas repúblicas aplicam um trote em que entra pancadaria com ripas de estrado de cama, ingestão de uma mistura de urina com cerveja, nudez e homofobia.

Na última terça-feira (13), a CPI escutou outros cinco alunos (Felipe Scalisa, Alan de Oliveira, Caio Zampronha, Mauro Xavier e Andressa Oliveira) da FMUSP que contaram como é organizado o chamado Show Medicina.

O evento teatral funciona como uma espécie de fraternidade que há 70 anos é mantida pelos estudantes com ajuda de patrocínios de alguns ex-alunos.

Na prática, o show é um meio de realização de trotes e humilhaçõesfeitos por estudantes mais velhos contra calouros.

Segundo relatos de alunos, o processo de admissão de um calouro no grupo de organizadores do evento inclui violações de direitos humanos.

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