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'Estou desolado', diz operador de trens demitido

Governo diz que não vai readmitir funcionários

São Paulo|Do R7

Alguns trabalhadores foram demitidos por participar de piquetes
Alguns trabalhadores foram demitidos por participar de piquetes

A manhã começou mal para Thiago (nome fictício). Pouco depois do anúncio do governo estadual de que haveria demissões caso a greve dos metroviários não cessasse, o jovem de 26 anos recebeu uma ligação de seu pai. O telegrama do Metrô deu o anúncio de sua demissão. Embora já previsse que o documento chegaria, hora ou outra, Thiago não conseguiu disfarçar o desolamento com a notícia. Afinal, há seis anos ele dá expediente no ambiente subterrâneo do Metrô, ofício que considera parte de sua vida.

O texto padronizado é sucinto: "Informamos o seu desligamento da Companhia por justa causa a partir de 9/6/2014", seguido pela base legal e orientações sobre o direito de contestar a demissão. Em seis linhas, Thiago deixou de ser funcionário da empresa.

— É um abalo muito grande. Estou sendo demitido por lutar pelas condições de trabalho para todo mundo.

Thiago acompanhou as declarações do governo durante toda a segunda-feira (9), pela mídia, e imaginou que estaria entre os 60 anunciados, já que esteve em todos os piquetes organizados até então, parte da estratégia dos grevistas para aumentar a adesão à paralisação. Posteriormente, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, esclareceu que foram 42 demissões e que outros 13 casos estão sendo analisados


— Quem quer mudar as coisas, que estava indo nos piquetes, organizando greves, melhorando as condições, é que acabou prejudicado. Eu me senti um pouco perdido, sem chão.

Thiago diz que não se vê mais fora da empresa.


— Depois de tanto tempo, sua vida já está moldada, sua identidade é adaptada a ser trabalhador do metrô. Sua rotina. Faz parte da sua vida.

É o segundo emprego do rapaz, que só trabalhou anteriormente em uma loja de roupas, por menos de um ano. O operador de trens, como se identifica, não tem outra opção de emprego, mas minimiza o problema ao esclarecer que não tem família para sustentar.


— Eu não sustento família, de todos os fatores, este não é o atenuante. Mas mesmo assim você fica sem saber o que fazer.

Thiago ainda aguarda reversão do quadro com o governo. Ele diz acreditar que as demissões foram parte de uma estratégia para acabar com a greve sem negociação.

— Primeiro eles tinham ameaçado todos os operadores de trem. Em seguida, mandaram 60 demissões e, pouco tempo depois, informaram que todas as pessoas que não voltassem a trabalhar correriam o risco de serem demitidas. Embora nós saibamos que o governo não demitiria todo mundo próximo da Copa, ficamos com medo.

Metroviários podem reverter demissão por justa causa, afirma especialista

Insegurança à população

"O Metrô quer passar a imagem de uma greve fraca, que não tem adesão. Mas quem está na cidade sabe o caos no trânsito. Há uma quantidade ínfima de usuários nas estações", disse. Segundo Thiago, os supervisores que passaram a operar os trens não receberam treinamento adequado e a população ficou em risco. O operador afirmou que, em duas ocasiões, supervisores abriram as portas enquanto o trem estava em movimento.

— Qualquer trinca no trilho pode resultar em um problema muito grave e não há gente habilitada para operar o sistema. Eu fico revoltado que o Metrô tente jogar a população contra a gente falando besteira.

Piquetes

A principal estratégia dos grevistas ao formarem piquetes, segundo Thiago, era a de convencer os supervisores. Segundo o operador, estes funcionários estão mais facilmente sujeitos às demissões, por isso temiam aderir à greve e mantiveram o trabalho.

— Eles recebem um treinamento muito básico, mas todos se sentem inseguros para operar trem. Isso exige um tempo grande, são vários problemas. O dia a dia do operador não é simples, tem muito macete.

Ele ainda relatou que muitos acabaram se convencendo, mas as ameaças eram muito "contundentes".

Conflitos

Segundo o operador, a Polícia Militar agiu com violência nos atos dos grevistas.

— É sempre do mesmo jeito. Eles chegam em poucos, avaliam que não podem fazer muita coisa. Ficam só conversando. Até que vem ordem de cima, chamam a Tropa de Choque para entrar na estação e tirar a gente. Vieram por todos os cantos atacando bombas e chegaram na porrada. Não há muito diálogo.

Em nota , o Metrô afirmou que a greve dos metroviários "foi julgada abusiva por unanimidade na Justiça do Trabalho após amplo processo de negociação". Já a Secretaria de Segurança Pública respondeu, por sua assessoria, que "são inverídicas as acusações" de Thiago, que "se esconde no anonimato com o objetivo de denegrir a imagem da Polícia Militar". Segundo a corporação, "a força foi usada somente após terem falhado as tentativas de diálogo com os grevistas".

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