Exame toxicológico e tacógrafo definem se tragédia na Régis foi apenas fatalidade
Delegado que assumiu o caso disse aguardar “com ansiedade” a entrega dos resultados
São Paulo|Thiago de Araújo, do R7
Tratado como um acidente de trânsito até aqui, a tragédia com um ônibus da Viação Nossa Senhora da Penha que caiu em uma ribanceira na madrugada de domingo (22), na rodovia Régis Bittencourt, em São Lourenço da Serra (SP), pode ter a sua linha de investigação alterada. É o que disse ao R7 o delegado Flavio Luiz Teixeira, que assumiu o caso nesta segunda-feira (23). Quinze pessoas morreram e 12 continuam internadas.
Teixeira teve acesso ao longo do dia às apurações feitas pela polícia de Itapecerica da Serra nas primeiras 24 horas após o acidente. As informações colhidas em dois depoimentos – um do motorista do ônibus e de uma vítima que estava dormindo no momento da tragédia – mantém a hipótese mais provável de que o condutor pegou no sono ao volante, perdendo o controle do veículo que acabou despencando em uma ribanceira.
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As apurações iniciais já praticamente descartam falha mecânica, recaindo assim sobre o motorista a provável causa do acidente. Ele já foi indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e lesão corporal.
— Caso tivesse ocorrido uma falha no veículo, vamos supor que o freio não funcionasse, o motorista teria feito alguma guinada, mas ele foi reto. Se a barra de direção tivesse quebrado e ele não pudesse virar o veículo, ele teria freado e teríamos marcas. Então, pelo interrogatório do motorista, que eu acompanhei e ele pareceu bem sincero, ele disse que simplesmente não lembra, que estava dirigindo normalmente e depois acordou já no meio das ferragens. Isso tudo, combinado, leva a crer que ele deve ter dado aquela “pescada” momentânea, o que foi suficiente para perder o controle do ônibus e cair na ribanceira.
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Entretanto, o delegado disse estar “ansioso” para a conclusão de dois laudos: o toxicológico, que vai verificar se o motorista do ônibus ingeriu algum tipo de substância proibida, e o que analisa o tacógrafo, equipamento responsável pelo registro da velocidade do veículo. Se alguma irregularidade for detectada por um deles, o tratamento ao caso pode mudar.
— Só duas coisas podem mudar esse entendimento (de fatalidade): o exame toxicológico do motorista, se apontar alguma substância ilegal que ele tenha consumido, muda até a tipificação (do acidente), algo que eu acho difícil até por ter conversado com ele. Não senti que ele tenha usado algo, e a questão do tacógrafo, se estivesse em uma velocidade muito acima do permitido, de maneira perigosa, isso pode mudar alguma coisa. São essas duas providências que estou aguardando com mais ansiedade, para dar um rumo definitivo para o inquérito.
Empresa de ônibus e concessionária serão convocadas
Representantes da Viação Nossa Senhora da Penha e da concessionária Autopista Régis Bittencourt, responsável pela rodovia, já foram convocados a prestar esclarecimentos à polícia. Um advogado da empresa de ônibus é aguardado na delegacia de São Lourenço da Serra na tarde da próxima quinta-feira (26), para apresentar toda a documentação do veículo. A concessionária também será questionada em alguns aspectos.
— Começaremos a averiguar se a empresa estava obedecendo a carga horária fixada para esse tipo de atividade, se a documentação do ônibus estava ok. Enquanto não chegarem os laudos, nós vamos nos concentrar na empresa de ônibus e na concessionária (...). Ela precisa falar das condições daquele trecho da rodovia, porque havia ou não havia defensa metálica, se havia iluminação ou porque não havia iluminação em uma curva muito fechada. Então teremos de saber alguns esclarecimentos por parte de quem administrava a rodovia.
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Apesar do indiciamento do motorista pelo acidente, não está descartada a possibilidade da empresa de ônibus e da concessionária serem indiciadas, caso sejam encontrados elementos que as coloquem como corresponsáveis pela tragédia. O que já se sabe, com base no depoimento do condutor do veículo, é que ele levaria o ônibus até São Paulo, onde seria rendido por outro motorista, que concluiria a viagem até o Rio de Janeiro. O procedimento também será investigado.
— O que já sabemos é que ele não pode dirigir mais de oito horas por dia. Daria esse prazo se ele fosse até São Paulo, não até o Rio, que excederia muito o tempo autorizado. Mas isso tudo nós vamos aprofundar na investigação a partir da quinta-feira.
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