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Facções e descontrole mostram o 'lado negro' dos protestos em São Paulo

"Vocês viram como eles perderam o controle", diz PM no Palácio dos Bandeirantes

São Paulo|Thiago de Araújo, do R7

Manifestantes tentam invadir Palácio do Governo
Manifestantes tentam invadir Palácio do Governo GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO

A quinta manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, realizada nesta segunda-feira (17), foi praticamente toda ela pacífica, em uma comunhão de gritos e anseios de mais de 100 mil pessoas em diversos pontos da capital paulista. Contudo, a perfeição não foi alcançada em uma das frentes, a qual expôs o 'lado negro' do movimento.

Liderada pelo MPL (Movimento Passe Livre), a frente que decidiu seguir em direção à zona sul, passando pelas avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitchek, Engenheiro Luís Carlos Berrini e marginal Pinheiros, antes de chegar à avenida Morumbi, apresentou problemas ao alcançar a região onde se localiza o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo.

Os únicos incidentes mais sérios de tensão e violência foram registrados em frente ao Portão 2. Acompanhando do major Paulo Wilhelm de Carvalho, comandante da operação até ali totalmente tranquila, o militante Matheus Preis, um dos líderes do MPL, tentou demover aqueles que queriam permanecer em frente ao portão (alguns mais exaltados pregavam a invasão da sede do governo).

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Uma discussão acalorada aconteceu entre algumas lideranças, ao mesmo tempo em que a polícia se retirou do local, entrando por um portão lateral. O comandante da operação lamentou o ocorrido, mas afirmou que a PM se retirava naquele momento "por segurança".


— Vocês viram como eles perderam o controle da manifestação, não viram? Nós cumprimos o que tínhamos acordado durante todo o trajeto, que foi pacífico e sem incidentes. É uma pena que eles tenham perdido o controle dessa massa.

Após a confusão, a reportagem tentou falar com Preis, que preferiu não se pronunciar. Enquanto isso, em frente ao Portão 2, alguns atos de vandalismo, como pichações, foram registrados. Um grupo de manifestantes mais afoitos se aproximou do portão e o forçou por mais de uma vez. Policiais que estavam de prontidão acabaram lançando pelo menos três bombas de gás lacrimogêneo, a fim de dispersar os mais exaltados.


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A tensão seguiu quando manifestantes lançaram mão de rojões — em uma das ocasiões, o fogo de artifício lançado para o alto quase atingiu um dos dois helicópteros que sobrevoava o local. A PM permaneceu de prontidão, mas lançou mão de pelo menos mais sete bombas de gás lacrimogêneo, tanto no Portão 2 quanto em uma entrada mais adiante, ainda na avenida Morumbi.

Três ônibus que subiram em direção ao local onde estavam os manifestantes acabaram vandalizados, ao mesmo tempo em que a grande maioria da manifestação original já havia se dispersado, ficando apenas um grupo de aproximadamente cem pessoas, as quais prometiam passar a noite em frente à sede do governo, na expectativa de serem recebidas pelo governador Geraldo Alckmin.

Discordância dividiu grupos

Além da enorme quantidade de pessoas reunidas no largo da Batata, em Pinheiros, local escolhido para a concentração antes do protesto, as diferentes visões e objetivos das lideranças contribuíram para que três frentes fossem abertas para o início da manifestação. Se o MPL não abriu mão de seguir para a zona sul, outro não aceitava outra direção que não fosse a avenida Paulista, como revelou na ocasião Matheus Preis, um dos militantes e líderes do MPL.

— Tem outros manifestantes que não são do MPL que irão para a Paulista. Parece que o PSTU (partido político de esquerda) vai coordenar esse pessoal.

Já a terceira frente, também contrariando o MPL, preferiu seguir em direção à marginal Pinheiros, passando pelo Jockey Club e depois se unindo ao próprio MPL, já na ponte Estaiada e no Morumbi. No local, o movimento insistiu que a divisão foi uma "estratégia para controlar a manifestação".

Todavia, no grupo organizado e dirigido pelo MPL, bandeiras de partidos políticos não eram aceitas. Aos gritos de "sem partido!", os manifestantes tentavam desvincular qualquer pecha política nas manifestações que vem ocorrendo em São Paulo nas últimas semanas. Na ponte Estaiada, um tumulto breve se deu justamente por um manifestante tentar empunhar uma bandeira partidária, a qual acabou retirada por outros, o que gerou discussão e empurra-empurra, mas sem maiores consequências naquele momento.

Outra dissonância entre as lideranças se deu em relação ao tempo que as manifestações vão durar. Enquanto o MPL garante que os protestos continuam "até a tarifa baixar", militantes filiados aos partidos Psol e PSTU afirmaram à reportagem do R7 que a queda da tarifa é apenas um primeiro passo em uma lista de demandas consideradas populares.

— Se baixar a tarifa, o movimento ganha força e vai discutir outras pautas e outras reivindicações, vai aprofundar o debate.

A declaração é de um militante filiado ao Psol que não quis se identificar, afirmando apenas que "trabalha junto" com o MPL.

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